A acusação sem provas feita pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) neste domingo (27) — de que o PCC teria orientado voto em Guilherme Boulos (PSOL) na capital paulista — tem versões equivalentes e em menor escala em outras cidades pelo país.
Levantamento do Radar Aos Fatos identificou ao menos 90 posts que alegam que a facção criminosa estaria tentando controlar o pleito ao orientar seus membros a optarem por um ou outro candidato.
Juntas, essas publicações somaram mais de 1,8 milhão de visualizações entre sexta (25) e este domingo (27).
Na maior parte dos casos (54), os posts reproduziam trocas de acusações entre Boulos e Ricardo Nunes (MDB). Já as outras 36 peças dizem respeito a disputas em cidades como Santos (SP), Guarujá (SP), Fortaleza e Camaçari (BA).
Litoral e interior paulista
A teoria sem comprovação se espalhou principalmente por municípios paulistas. Os casos viralizaram principalmente depois de uma coluna do Metrópoles divulgar, no último sábado (26), que a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo teria interceptado bilhetes supostamente assinados por lideranças do PCC que orientavam seus membros a votarem em determinados candidatos.
Em Santos, por exemplo, o comando teria determinado voto contrário a Rosana Valle (PL). O argumento seria que a candidata seria alinhada ao secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL).
Nas redes, o texto passou a ser compartilhado para exaltar a campanha de Valle. Aos Fatos encontrou ao menos 25 publicações com esse teor, que somaram mais de 500 mil visualizações no Facebook e no Instagram. A alegação foi compartilhada, inclusive, pela própria candidata.
Ainda na Baixada Santista, ao menos três publicações acusavam o candidato a prefeito de Guarujá (SP), Raphael Vitiello (PSD), de ligação com o PCC. Ele foi mencionado em denúncia recebida pela Polícia Civil sobre suspeita de favorecimento da facção em licitações no município, mas não foi indiciado.
A região é alvo de influência da organização criminosa devido ao porto de Santos, usado para escoar mais de 60% da cocaína traficada do Brasil para a Europa, segundo investigações do MPSP (Ministério Público de São Paulo).
Com menor alcance, a teoria também viralizou em quatro cidades de São Paulo onde houve segundo turno: São José dos Campos, São José do Rio Preto, Piracicaba e Limeira. Nenhuma das publicações apresentava denúncias embasadas em investigações.
A Polícia Civil de fato apura uma possível tentativa de infiltração política do PCC durante as eleições municipais. As operações não revelaram, no entanto, nenhuma relação entre os candidatos a prefeito citados nas redes e o crime organizado.
Os suspeitos de ligação com o PCC que foram eleitos estão sendo monitorados pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo e podem se tornar alvo de ação do Ministério Público.
Outros estados
A teoria de que o crime organizado estaria ditando os rumos do segundo turno também se dispersou para fora de São Paulo e atingiu municípios das regiões Nordeste e Sul.
Durante a campanha para Prefeitura de Fortaleza, por exemplo, circulou um vídeo falso que insinua uma suposta relação do candidato Evandro Leitão (PT) e de outros integrantes de seu partido com o PCC. Feito com inteligência artificial, o conteúdo é alvo de investigação da Justiça Eleitoral no Ceará e voltou a circular no Facebook na véspera do segundo turno.
Já em Camaçari (BA), um episódio de assalto ao comitê de um candidato do União Brasil tem sido usado para acusar a campanha adversária de ligação com o crime organizado. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil do município.
A reportagem também identificou mensagens que afirmavam sem provas que integrantes da facção teriam declarado apoio a Eduardo Pimentel (PSD), que disputa a prefeitura de Curitiba com Cristina Graeml (PMB).
O caminho da apuração
Aos Fatos fez buscas no Facebook e no Instagram por publicações com o nome da facção criminosa relacionadas às eleições. Então, analisamos o conteúdo e a localização dos posts.
Levantamos reportagens da imprensa sobre a campanha política nos municípios citados e consultamos investigações sobre o assunto.