Denúncia de irregularidades em cadastro de eleitores em Detroit é de 2019 e não cita fraude

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É falso que tenha sido aberto nos últimos dias um processo na cidade de Detroit (Michigan) para apurar registros eleitorais duplicados e em excesso ou mesmo de eleitores mortos ainda cadastrados como votantes (veja aqui). A denúncia, compartilhada nas redes como se fosse referente às eleições presidenciais dos EUA, integra na verdade um processo movido contra a cidade em 2019 para apurar irregularidades nos cadastros de votação. A própria organização responsável pela ação, que não fazia alegações sobre fraude eleitoral, desistiu do processo depois de a cidade atualizar os cadernos de eleitores.

Compartilhada primeiramente nas redes americanas, a peça de desinformação começou a circular no Brasil na última quinta-feira (5). Publicações com a falsa alegação acumulavam ao menos 7.000 compartilhamentos no Facebook até a tarde desta sexta (6) e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de monitoramento da rede social (saiba como funciona).


FALSO

Uma palhinha do que está acontecendo: Em Detroit foi aberto um processo eleitoral.
• 4.788 registros duplicados;
• 32.519 votos a mais do que votantes;
• 2.503 pessoas mortas registradas;
• Um votante nascido em 1823.

Informações sobre uma ação judicial movida por uma organização sem fins lucrativos contra a cidade de Detroit em dezembro de 2019 passou a circular nas redes recentemente para sugerir a existência de fraudes nas eleições presidenciais americanas deste ano. No processo, a Public Interest Legal Foundation apontava a existência de registros de eleitores duplicados, em excesso (mais eleitores do que o número de cidadãos) e mesmo mortos que ainda figuravam nos cadernos de votação.

Além de antiga, a denúncia não falava na existência de fraudes eleitorais. Alegava, na verdade, que a prefeitura não estaria limpando seus registros da maneira requerida pela lei, permitindo problemas como erros de digitação, presença de nomes duplicados e erros sobre gênero e data de nascimento. De acordo com a organização, um dos cidadãos cadastrados na lista de votantes ativos havia nascido em 1823 — 14 anos antes de Michigan ser reconhecido oficialmente como estado.

A peça de desinformação começou a circular nas redes americanas acompanhada do print de uma reportagem da emissora americana Fox 2 da época em que o processo foi ajuizado. Na matéria, a diretora executiva do Partido Democrata reforça que o processo não menciona a ocorrência de fraude eleitoral e que é uma tentativa de minar a confiança de cidadãos no sistema eleitoral de suas cidades. A organização, de caráter conservador, estaria supostamente mirando cidades de maioria democrata.

Em julho deste ano, a Public Interest Legal Foundation desistiu da ação após a Prefeitura de Detroit tomar medidas necessárias para remediar os problemas apontados. De acordo com a prefeita Janice Winfrey, a maior parte das mudanças foi feita após uma manutenção já programada nos cadernos eleitorais, e um dos erros específicos apontados pela ação — o de que um eleitor havia nascido em 1823 — era fruto de um erro de digitação.

Questionada sobre a existência de cidadãos mortos ainda cadastrados como eleitores, a prefeita afirmou ao The Detroit News que a prefeitura atualiza os cadernos eleitorais com base nos registros de óbitos do condado que são recebidos mensalmente, do escritório da Previdência Social e de correspondências que não puderam ser entregues.

Peças de desinformação que alegam a existência de fraudes nas eleições americanas têm circulado nas redes sociais brasileiras desde a última terça-feira (3), data do pleito, e seguem a narrativa do atual presidente do país, Donald Trump. O republicano, que fez denúncias infundadas sobre a segurança do sistema de votação no país em ao menos 202 ocasiões, tem tentado paralisar a contagem de cédulas e pedido a recontagem dos votos na medida em que os resultados do pleito o colocam atrás do candidato do Partido Democrata, Joe Biden.

A mesma publicação enganosa foi checada nos Estados Unidos pelas equipes do Snopes e do PolitiFact.

Referências:

1. Detroit Free Press
2. Fox 2
3. The Detroit News
4. Aos Fatos
5. G1

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