🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2015. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Defesa de Levy sobre nota não tem amparo no Orçamento

10 de setembro de 2015, 02h00

Poucas horas depois de a agência Standard & Poor's retirar o selo do Brasil de bom pagador, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) divulgou nota nesta quarta-feira (9) reafirmando "compromisso com a consolidação fiscal" por parte do governo. O gesto é praxe, sobretudo depois de uma grande má notícia, mas também denota insistência na defesa de um orçamento sem consenso e que precipitou o rebaixamento da nota brasileira.

No início da madrugada desta quinta-feira (10), Levy concedeu entrevista ao "Jornal da Globo" e defendeu cortes nas contas públicas, principalmente por meio de redução de benefícios sociais, além de aumento de impostos. O Planalto já admitiu publicamente que haverá corte no programa Minha Casa, Minha Vida, de habitação popular. Não especificou, contudo, como isso vai acontecer. Reforçou, porém, o mesmo discurso já manifestado na nota: de que o governo tem compromisso com o superávit de 0,7% para o ano que vem — o que já era, em julho, sintoma de descompasso na condução da economia.

A confusão é grande.


EXAGERADO

O projeto de lei orçamentária para 2016 incorpora importante disciplina nas despesas discricionárias e esforços de gestão para reduzir as despesas obrigatórias.

Aos Fatos só não deu o selo FALSO à declaração do ministro porque o governo promete mandar, nas próximas semanas, complemento à proposta orçamentária. Com rombo de R$ 30,5 bilhões, Aos Fatos já mostrou que o projeto é pouco realista e que o Planalto conta com mais receitas do que efetivamente tem.

A afirmação de Levy, entretanto, tem uma série de erros, a começar pelo fato de a "disciplina nas despesas discricionárias" e o "esforço de gestão" para os gastos obrigatórios não corresponderem à realidade impressa nas páginas do Orçamento. Segundo a proposta, as despesas obrigatórias ficarão em cerca de R$ 960 bilhões — ou 15,4% do PIB em 2016. Neste ano, foram R$ 871 bilhões, ou 15% do PIB. Ou seja, para o ano que vem, trata-se de um aumento de 0,4 ponto percentual.

Não houve, até o momento, qualquer "esforço de gestão" para reduzir as despesas obrigatórias, a não ser sinalizações de que o governo deverá mexer na Previdência, aumentando prazo para a concessão de aposentadorias, e de que fará um pente fino nos auxílios-doença. Quando isso irá acontecer e se terá condições de costurar acordos o Planalto não comenta.

"As despesas com a Previdência e com pessoal somam mais de 60% de toda a despesa primária da União. Isso quer dizer que controlar o crescimento da despesa é controlar o crescimento da despesa com Previdência e controlar a despesa com pessoal", tem dito o ministro Nelson Barbosa (Planejamento).

Já as despesas discricionárias, isto é, sobre as quais o governo tem mais autonomia de mexer por não serem obrigatórias, terão aumento de 9,2% em relação a este ano, sendo que a inflação prevista para 2016 é de 5,4%. Para o ano que vem, são R$ 250 bilhões, contra os R$ 229 bilhões previstos para este ano. Em 2013 e 2014, esses gastos não obrigatórios somaram R$ 220 bilhões e R$ 259 bilhões, respectivamente.

Como esses números podem não ser fato consumado, uma vez que as promessas da equipe econômica apontam para o contrário, verdade é que oargumento da Standard & Poor's para rebaixar a nota brasileira tem base na percepção de "desacordo interno sobre a composição e a magnitude das medidas exigidas para corrigir a derrapagem das finanças públicas". O Orçamento, conforme a agência, é um desses indicativos.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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