O jornalista William Bonner não gravou propaganda eleitoral para nenhum candidato a vereador. Posts nas redes enganam ao usar um modelo disponível em um aplicativo de edição de vídeos para manipular a imagem do apresentador do Jornal Nacional e simular a voz dele com auxílio de inteligência artificial.
Publicações com o conteúdo manipulado acumulavam dezenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta sexta-feira (4) e também circula no Instagram.
Encontramos o melhor candidato a vereador de 2024. A foto dele você está vendo agora, na tela. Grave este nome e este número para o dia seis de outubro

Circulam nas redes dezenas de vídeos manipulados por inteligência artificial que enganam o eleitor com um falso vídeo em que William Bonner, apresentador do Jornal Nacional, da Globo, afirma ter encontrado “o melhor candidato a vereador de 2024”. As peças falsas usam um modelo gratuito disponível em um aplicativo de edição de vídeos.
Aos Fatos encontrou dezenas de versões publicadas no Facebook e no Instagram, simulando a falsa divulgação dos candidatos por Bonner. Um deles exibe a marca d’água da ferramenta de edição de vídeo CapCut — que disponibiliza aos usuários a tecnologia de inteligência artificial para criação de conteúdo (veja abaixo).

A reportagem não encontrou o modelo específico usado na maioria das peças identificadas. Ainda assim, Aos Fatos localizou diversos modelos a partir de vídeos do apresentador, com a mesma finalidade (veja abaixo).

Aos Fatos ainda analisou o vídeo enganoso na ferramenta TrueMedia.org, que constatou, com 100% de confiança, que o áudio é manipulado (veja aqui). Também é possível observar que o áudio não está sincronizado com o movimento dos lábios do jornalista.
Outro detalhe é sobre a aparência de Bonner. No vídeo usado nas peças enganosas, o apresentador aparece sem barba, provando que o registro também não é recente. Isso porque o jornalista passou a adotar o novo estilo em maio de 2021.
Inteligência artificial nas eleições. A resolução nº 23.732/2024 do TSE determina que todos os candidatos que usarem inteligência artificial para produzir conteúdos de campanha devem, obrigatoriamente, indicar que a peça foi manipulada e qual a tecnologia usada.
No entanto, o documento veda a utilização “de conteúdo fabricado ou manipulado para difundir fatos notoriamente inverídicos ou descontextualizados com potencial para causar danos ao equilíbrio do pleito ou à integridade do processo eleitoral”, como nos casos analisados pela reportagem que mentem ao induzir o eleitor a acreditar que William Bonner teria indicado os candidatos.
Reportagem do Aos Fatos mostrou que campanhas eleitorais têm usado ferramentas de inteligência artificial para a produção de materiais. Algumas candidaturas têm omitido o uso do recurso ou sinalizado de maneira incorreta, fugindo dos padrões exigidos pelo TSE.
Essa peça de desinformação também foi verificada pelo Fato ou Fake.
O caminho da apuração
Aos Fatos identificou em uma das peças enganosas a marca d’água do aplicativo para celular CapCut, de edição de vídeos. O modelo usado nas peças enganosas já não está mais disponível, há muitas outras opções, inclusive com a imagem de Bonner.
Também analisamos o vídeo enganoso com a ferramenta Truemedia.org, que com 100% de certeza indicou o uso de inteligência artificial.
Consultamos também a resolução 23.732/2024 do TSE, com as regras para uso de inteligência artificial na campanha.