Jefferson Rudy/Agência Senado

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Junho de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

De volta à CPI, Queiroga distorce dados para defender Copa América e atuação do governo

Por Amanda Ribeiro, Luiz Fernando Menezes, Marco Faustino e Priscila Pacheco

8 de junho de 2021, 15h13

No seu segundo depoimento à CPI da Covid-19, o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) ignorou nesta terça-feira (8) as centenas de casos da doença no Campeonato Brasileiro ao defender que seria seguro realizar a Copa América no país. O médico alegou que houve apenas uma contaminação durante o torneio, mas a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) apontava 357 diagnósticos positivos em jogadores e equipe técnica até março.

Ao comentar a campanha de vacinação, o ministro foi impreciso ao destacar apenas os dados absolutos. Se, em números totais, o Brasil é hoje o terceiro que mais aplica vacinas, o país cai para a 78ª posição quando considerado o percentual de brasileiros que receberam ao menos a primeira dose do imunizante.

Queiroga esteve na comissão pela primeira vez no dia 6 de maio e foi reconvocado para esclarecer contradições entre seu depoimento e as afirmações prestadas por outros depoentes.

Em resumo, o que checamos até agora:

  1. É FALSO que no último Campeonato Brasileiro foi registrado apenas um caso de Covid-19. Relatório da CBF mostra que, dos 11.514 testes feitos em jogadores e equipes técnicas, 357 foram positivos. Além disso, levantamento do site Globo Esporte indica 320 casos confirmados durante o torneio;
  2. Não há bases de dados públicas que possibilitem uma comparação da distribuição de imunizantes entre países. Portanto, a declaração sobre o Brasil estar entre as cinco nações que mais distribuíram doses para a população é INSUSTENTÁVEL;
  3. É IMPRECISO dizer que o Brasil é o terceiro país que mais aplicou a primeira dose da vacina, porque ele só aparece nas primeiras posições do ranking mundial de vacinação quando são considerados os números absolutos. Quando se leva em conta o percentual de pessoas que tomaram a primeira dose, o país cai para a 78ª posição;
  4. É VERDADE que 82% dos indígenas aptos para tomar a vacina contra Covid-19 receberam a primeira dose. Queiroga também acerta ao dizer que 71% já tiveram a segunda dose aplicada.


Campeonato Brasileiro de futebol aconteceu com mais de cem partidas, dentro de um ambiente controlado, sem público nos estádios, e houve apenas um caso positivo [de Covid-19]...

A declaração é FALSA porque não foi registrado apenas um caso de Covid-19 no último Campeonato Brasileiro, entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021, como sugere o ministro Queiroga. Um levantamento da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de março deste ano aponta que, de 11.514 testes de Covid-19 realizados em jogadores e equipes técnicas de times da Série A, cerca de 357 tiveram diagnósticos positivos.

Outro levantamento, feito pelo site Globo Esporte em 28 de fevereiro, indicava, até aquele momento, 320 casos confirmados de Covid-19, sendo 302 em jogadores e 18 em técnicos.

No dia 9 de agosto, por exemplo, a disputa entre São Paulo e Goiás foi adiada minutos antes de começar porque 10 dos 26 jogadores do time goiano, oito titulares, testaram positivo para Covid-19.

Após esta declaração, Queiroga foi questionado por senadores na CPI a respeito do dado e disse que se referia apenas às transmissões dentro de campo. Mesmo assim, a informação é controversa, pois o relatório da CBF afirma que não há evidência de contaminação cruzada durante as partidas.

No documento, a entidade esportiva apresenta ainda uma análise entre os testes RT-PCR efetuados antes das 67 partidas do campeonato em que três ou mais atletas foram diagnosticados com a Covid-19 e os casos da doença detectados pelos clubes depois dos jogos. Nesse cruzamento, a CBF encontrou apenas um caso positivo.


O que coloca o Brasil em uma posição, que está entre os cinco países que mais doses de vacinas distribuiu com a sua população.

Queiroga repete uma declaração INSUSTENTÁVEL que deu em seu primeiro depoimento à CPI da Covid-19, no dia 6 de maio. A comparação que ele faz é inviável, porque não há bases de dados públicas que listem e comparem o número de doses de vacinas contra a Covid-19 distribuídas em cada país. O portal Our World in Data, da Universidade de Oxford, por exemplo, compila informações sobre doses aplicadas, não apenas repassadas por governos a gestores locais.

O Brasil vacinou com a primeira dose 48,8 milhões de pessoas, o que coloca o país na terceira posição entre as nações com maior número absoluto de vacinados, atrás dos EUA (171,3 milhões) e da Índia (185,5 milhões). No entanto, considerando o percentual de pessoas vacinadas em relação à população, o Brasil cai para a 78ª posição, com apenas 23% dos brasileiros tendo recebido ao menos a primeira dose.


O Brasil, no ranking mundial do Our World in Data, é o terceiro país que mais aplicou a primeira dose de vacina. EUA, Índia e Brasil.

A declaração do ministro é IMPRECISA, porque o Brasil só aparece nas primeiras posições do ranking mundial de vacinação quando são considerados os números absolutos. De acordo com a base de dados do Our World in Data, o país aplicou a primeira dose da vacina contra a Covid-19 em 48,8 milhões de pessoas até 7 de junho, o que o deixa, de fato, em terceiro lugar, atrás dos EUA (171,3 milhões) e da Índia (185,5 milhões).

Ao analisarmos, no entanto, o percentual de pessoas vacinadas, o Brasil cai para a 78ª posição, com apenas 23% dos brasileiros tendo recebido ao menos a primeira dose.


82% dos indígenas tomaram a primeira dose e 71% dos indígenas tomaram a segunda dose. Aqui me refiro aos indígenas aldeados.

A declaração de Queiroga é VERDADEIRA porque 333.391 indígenas (82% dos aptos a serem vacinados) receberam a primeira dose do imunizante contra Covid-19 e 288.892 (71%) já tomaram a segunda dose, segundo dados do Ministério da Saúde até 7 de junho. A pasta considera 408.232 pessoas com 18 anos ou mais como público-alvo da vacinação indígena, com base em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de outubro de 2020.

Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com o Ministério da Saúde no início da tarde desta terça-feira e informou que estava verificando declarações do ministro à CPI. Eventuais respostas enviadas pela pasta serão acrescentadas posteriormente nesta checagem.

Referências:

1. Aos Fatos
2. CBF
3. Our World in Data
4. Ministério da Saúde
5. STF
6. UOL
7. Zero Hora
8. Globo Esporte (Fontes 1, 2 e 3)


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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