🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Dados de cartórios não desmentem que há mais de 100 mil mortos pela Covid-19 no Brasil

Por Luiz Fernando Menezes

14 de agosto de 2020, 10h59

Publicações nas redes sociais usam dados do Portal da Transparência do Registro Civil numa tentativa de argumentar que o Brasil não ultrapassou a marca de 100 mil vítimas de Covid-19 (veja aqui). Porém, ao comparar números de óbitos entre abril e julho em 2019 e 2020, a postagem omite que as informações da plataforma não estão consolidadas e podem levar dias ou até meses para serem atualizadas.

Ainda assim, a base dos cartórios exibia na manhã desta sexta-feira (14) 95 mil registros de óbitos pela infecção do novo coronavírus, número próximo ao divulgado pelo Ministério da Saúde.

A peça de desinformação circula no WhatsApp e no Facebook desde o começo da semana. Nesta última rede social, publicações do tipo reuniam ao menos 1.400 compartilhamentos até a manhã desta sexta-feira (14) e foram marcadas com o selo DISTORCIDO na ferramenta de verificação (saiba como funciona). Esta classificação é empregada quando informações verídicas são usadas em interpretações enganosas.


DISTORCIDO

Não existe a menor chance de ter morrido 100 mil pessoas no Brasil só de Covid. A menos que tenham encontrado a cura para as demais doenças (...).
Óbitos Abril/2019 - 103.659
Óbitos Abril/2020 - 112.372
Óbitos Maio/2019 - 110.825
Óbitos Maio/2020 - 129.371
Óbitos Junho/2019 - 103.408
Óbitos Junho/2020 - 128.758
Óbitos Julho/2019 - 119.541
Óbitos Julho/2020 - 120.835

Ao comparar dados de óbitos no país em 2019 e 2020, publicações nas redes sociais desinformam ao concluir que a diferença neste ano não somaria 100 mil mortes e, portanto, seria impossível que o país tivesse ultrapassado essa marca de vítimas da Covid-19. As postagens usam dados do Portal da Transparência do Registro Civil, que, como Aos Fatosexplicou, tem diversas limitações, como o prazo de atualização. Os óbitos são informados na plataforma em até 14 dias, mas o limite para a notificação pode chegar a três meses.

Segundo as notas metodológicas da plataforma, a família tem até 24 horas após o falecimento para registrar um óbito em cartório. Esse estabelecimento, por sua vez, tem cinco dias para efetuar o registro e, depois, mais oito dias para enviar a informação à Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), que atualiza a base de dados. Esse processo, no entanto, pode demorar ainda mais, uma vez que residentes de municípios com menos estrutura possuem um prazo de até três meses para fazer o registro.

Dessa forma, os dados são atualizados diariamente e ainda não estão consolidados. Em busca realizada na base de dados na tarde desta quinta-feira (13), Aos Fatos identificou um aumento em todos os números citados pela peça, inclusive os de 2019 (veja tabela abaixo). Segundo os dados do Registro Civil, entre março e julho de 2020 já foram registradas 63.897 mortes a mais do que o mesmo período do ano passado.

A peça de desinformação ainda omite que o próprio Registro Civil, ainda que esteja em atualização, aponta o registro de 96.571 óbitos decorrentes da Covid-19. O número é próximo ao divulgado pelo Ministério da Saúde na última quinta-feira (14): 105.463 .

Desde que o Brasil ultrapassou os 100 mil mortos pelo novo coronavírus, no último sábado, tem crescido o número de publicações que utilizam os dados do Registro Civil para questionar as estatísticas do país. Algumas publicações comparavam apenas as mortes registradas nos meses de julho, outras diziam que a suposta queda de óbitos por outras causas provaria que as mortes pela infecção estariam superestimadas e também houve postagens que diziam que mortes causadas por outras doenças estariam sendo substituídas por Covid-19.

Referências:

1. Registro Civil (Fontes 1 e 2)
2. Aos Fatos (Fontes 1, 2 e 3)
3. Planalto
4. Ministério da Saúde


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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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