Pré-candidato à presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro mudou seu discurso sobre o Bolsa-Família. Bastante crítico ao programa de transferência de renda, o deputado federal disse hoje ao jornal O Globo que, se eleito, vai mantê-lo. “Comigo, o programa será mantido. Vou deixar isso claro em um programa de governo. Quero combater essa fake news de que vou acabar com o programa”, afirmou. Ele também disse que deve centrar esforços no combate às fraudes do programa.
Nem sempre foi assim. Por diversas vezes, em discursos no plenário da Câmara dos Deputados e entrevistas à imprensa, Bolsonaro se referiu ao programa como uma política de compra de votos em que “quem produz dinheiro, dá-lo a quem se acomoda”.
Aos Fatos checou que o deputado tem dito sobre o tema nos últimos anos. Veja o que encontramos:
Comigo, o programa será mantido. Vou deixar isso claro em um programa de governo. Quero combater essa 'fake news' de que vou acabar com o programa.
O discurso de que o programa Bolsa Família, que teve início em 2003, no primeiro mandato do ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, serviria como uma política de atração — ou compra — de votos do Partido dos Trabalhadores vem desde 2010. À época, no plenário da Câmara dos Deputados, o deputado afirmou: “O governo federal — o anterior também fazia isto, em parte, mas este agora faz mais — dá para 12 milhões de famílias em torno de R$ 500 por mês a título de Bolsa Família definitivo, e sai na frente com 30 milhões de votos. Realmente, disputar eleições num cenário desses é desanimador. É compra de votos mesmo! Que bom se o eleitor tivesse o mínimo de discernimento!”.
Depois, em fevereiro de 2011, Bolsonaro chegou a cogitar a hipótese de colocar um fim ao programa: “O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder”, disse em discurso no plenário da Câmara dos Deputados. E defendeu, “se não um ponto final, uma transição a projetos como o Bolsa Família”.
À mesma época, no mesmo plenário, ele também afirmou que o fim ou transição do programa eram necessários porque “cada vez mais, pobres coitados, ignorantes, ao receberem Bolsa Família, tornam-se eleitores de cabresto do PT.”
Em julho de 2011, referiu-se ao programa como assistencialista. “Alguém tem alguma dúvida que programas assistencialistas, como o Bolsa Família, que acostuma o homem à ociosidade, são um obstáculo para que se escolha um bom presidente?”, questionou ao responder perguntas dos leitores da revista Época.
Em diversas ocasiões, o deputado defendeu não a extinção do programa, mas uma porta de saída para ele. “Eu não admito o Bolsa Família como proposta permanente de ajudar o pobre. Tem que ser transitória. Tem gente que está há nove anos no Bolsa Família e não quer ser empregado”, afirmou em entrevista ao UOL em 2011.
Em 2012, na Record News, ele voltou a afirmar que o programa deveria ser temporário, e falou novamente sobre a compra de votos. “Se eu der R$ 20 pra você votar em mim, posso perder meu registro, ser cassado. Agora o governo dá para 10 milhões de família de forma vitalícia, R$ 40 bilhões por ano, e tudo bem”. Chegou a chamar o programa de “uma mentira”. “O Bolsa Família é uma mentira, você não consegue uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa. Porque se for trabalhar, perde o Bolsa Família”, afirmou.
Em declarações mais recentes, o pré-candidato afirmou que "não partiria para a demagogia" em busca de votos. Ele teceu críticas ao programa quando visitou Barretos, em São Paulo, em agosto do ano passado, quando já postulava o posto de pré-candidato à presidência. “Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família, então vote em outro candidato. Não vou partir para demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto.”
Já neste ano, começou a suavizar seu discurso. Em Roraima, falou de fraudes. “Não quero acabar com Bolsa Família, mas tenho certeza de que metade deixará de existir porque ou é fraude ou tem como inserir no mercado de trabalho. Essa é a minha política de distribuição de renda”, afirmou. E segundo o Estadão, o pré-candidato está preparando uma “carta de princípios” em que defenderá a continuação do programa, mas com uma auditoria.