Corrente engana ao afirmar que multinacionais anunciaram demissões em massa no Brasil

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Não é verdade que o Carrefour, a GM (General Motors), a Volkswagen, a Electrolux e a Nestlé tenham promovido demissões em massa e anunciado a paralisação de suas atividades no Brasil devido às políticas econômicas do governo Lula. Não há registros similares na imprensa ou em canais oficiais. As empresas também desmentiram as alegações, feitas por uma corrente que circula nas redes desde 2023.

O conteúdo enganoso foi enviado por leitores do Aos Fatos à Fátima, nossa robô checadora (fale com a Fátima). Publicações com o conteúdo falso também também acumulavam mil compartilhamentos no X e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta sexta-feira (24).

Em menos de 15 dias, o Carrefour anuncia o fechamento de 16 hipermercados, a GM demitiu 50% dos seus funcionários no Brasil, a Volkswagen anuncia a paralisação definitiva de Veículos no país e mais uma série de outras demissões. Agora é a vez da Electrolux, gigante do setor de eletrodomésticos, que anuncia a demissão de 3.000 funcionários. Tudo devido à queda das vendas esse ano. Não vendem mais geladeiras, fornos microondas, etc. O bandido acabou com o país inteiro em menos de um ano. Está semana, a Nestlé demitiu 16 mil colaboradores!

Print de publicação no Facebook que traz um texto apócrifo com alegações de que as empresas Carrefour, General Motors, Volkswagen, Electrolux e Nestlé teriam promovido demissões em massa e paralisado suas atividades no Brasil devido às políticas econômicas do presidente Lula (PT).

Uma corrente apócrifa que circula nas redes desde 2023 engana ao alegar que o Carrefour, a General Motors, a Volkswagen, a Electrolux e a Nestlé teriam feito demissões em massa e paralisado definitivamente suas atividades no Brasil em 2025. Aos Fatos entrou em contato com todas as organizações citadas e quatro delas — Carrefour, Volkswagen, Electrolux e Nestlé — desmentiram as alegações.

Apesar de a reportagem não ter obtido retorno da General Motors, informações divulgadas pela Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores) apontam para um crescimento na produção de veículos e postos de trabalho no setor automotivo nos últimos 12 meses.

A associação também afirmou que não há registros de demissões em massa na área neste ano.

Carrefour. Em nota ao Aos Fatos, o grupo afirmou que “não procedem” as alegações de que serão fechados 16 hipermercados em 2025.

As peças enganosas retomam uma decisão de 2023, quando 16 lojas, antes operadas pela empresa, foram transferidas para o grupo DMA, dono das marcas Epa, Mineirão e Brasil Atacadista. Essas unidades já não operavam sob o nome Carrefour desde 2020.

Volkswagen. Procurada pelo Aos Fatos, a montadora afirmou que “segue produzindo localmente em suas quatro fábricas: Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP (automóveis); Taubaté, SP (automóveis); São José dos Pinhais, PR (automóveis) e São Carlos, SP (motores)”.

Em 2023, a marca chegou a realizar uma paralisação temporária devido à estagnação do mercado, mas, já no ano seguinte, anunciou um investimento de R$ 16 bilhões no Brasil até 2028.

Electrolux. Além de não ter anunciado a demissão de 3.000 funcionários neste ano, a Electrolux afirmou à reportagem que inaugurou uma nova fábrica recentemente em São José dos Pinhais (PR) que vai gerar cerca de 400 empregos diretos.

Em setembro deste ano, a empresa chegou a avaliar a demissão de cerca de 160 funcionários, alegando “excedente de pessoal”. Negociações com Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos e Ibaté, no entanto, conseguiram reverter a decisão. Um PDV (Programa de Desligamento Voluntário) foi oferecido e houve adesão de 60 colaboradores.

Nestlé. Em contato com o Aos Fatos, a empresa de alimentos afirmou que de fato tomou a decisão de demitir 16 mil funcionários, mas no mundo todo, não apenas no Brasil.

De acordo com o planejamento da organização, os desligamentos serão efetivados nos próximos dois anos e o maior corte ocorrerá em cargos administrativos. O impacto será diferente em cada mercado, o que, segundo a empresa, impede a divulgação de números específicos sobre cada região.

General Motors. Ainda que a reportagem não tenha conseguido resposta da montadora, não há registros na imprensa ou notas recentes publicadas pela multinacional ou por sindicatos ligados à categoria (aqui e aqui) que confirmem a ocorrência de uma demissão em massa.

A Anfavea, associação que representa os fabricantes de veículos no país, explicou ao Aos Fatos que, ao contrário do que sugerem os posts enganosos, houve um crescimento na produção de veículos e postos de trabalho ofertados pelo setor nos últimos 12 meses. A associação também relatou não haver registros de demissões em massa em 2025.

É fato, porém, que, entre 2023 e 2024, a GM promoveu o desligamento de mais de 1.200 funcionários de suas fábricas em São José dos Campos (SP), São Caetano do Sul (SP) e Mogi das Cruzes (SP), em decorrência de quedas nas vendas e nas exportações.

À época, as três plantas somavam aproximadamente 11.500 colaboradores e o total de desligamentos correspondeu a cerca de 10% da força de trabalho total. Após greve e ações na Justiça do Trabalho, parte das demissões foi revertida e um Plano de Demissão Voluntária foi apresentado aos operários.

Organizações de checagem como a Agência Lupa e o Estadão Verifica também desmentiram a corrente enganosa em anos anteriores. Já a Reuters, a AFP e o Fato ou Fake checaram as alegações recentes sobre demissões na Nestlé.

O caminho da apuração

Aos Fatos entrou em contato com as cinco empresas citadas nos posts enganosos por email e por telefone. Carrefour, Volkswagen, Electrolux e Nestlé responderam, em nota, que as alegações não são verdadeiras. A General Motors não retornou até o momento da publicação.

A reportagem ainda consultou dados da Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores), que não apontam registros de demissões em massa no setor. Sindicatos que representam trabalhadores da categoria não responderam ao nosso contato.

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