🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Novembro de 2019. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Corrente de WhatsApp mistura fato e ficção para exaltar família real brasileira

Por Amanda Ribeiro

14 de novembro de 2019, 13h11

Cento e trinta anos após o fim da monarquia no Brasil, uma corrente que circula principalmente no WhatsApp tem difundido informações falsas em meio a verdadeiras para exaltar o papel da família real, que foi deposta em 15 de novembro de 1889. É falso, por exemplo, que o imperador dom Pedro 2º defendia a abolição da escravatura desde 1848 ou que a princesa Isabel tinha por hábito abrigar escravos fugidos no palácio real.

Para checar a corrente, Aos Fatos consultou quatro obras biográficas, o historiador e membro da ABL (Academia Brasileira de Letras) José Murilo de Carvalho, e o Museu Imperial de Petrópolis, além de registros na imprensa (veja a lista de referências aqui). O conteúdo foi verificado por sugestão de leitores do Aos Fatos no WhatsApp (inscreva-se aqui).

Dos 32 tópicos listados no texto que circula nas redes, 13 não puderam ser checados por falta de dados, documentos e obras que pudessem confirmar ou desmentir a afirmação ou por não abordarem especificamente membros da família real, que é o escopo da checagem. Eles estão compilados no fim da reportagem.

Em resumo, o que checamos:

1. Dom Pedro 2º não tentou abolir a escravidão desde 1848 e foi impedido;

2. A princesa Isabel não escondia escravos fugidos na casa de veraneio em Petrópolis;

3. Santos Dumont não almoçava três vezes por semana na casa da princesa Isabel em Paris;

4. Pedro 2º não extinguiu os Dragões da Independência, pois o regimento só passou a existir com esse nome em 1946;

5. Registros existentes não confirmam que o imperador era fluente em 17 idiomas;

6. É falso que o analfabetismo no Brasil caiu durante o Segundo Reinado;

7. Pedro 2º de fato não costumava se vestir como monarca, mas a falta de manutenção dos palácios reais não era resultado de austeridade fiscal dele;

8. Não é verdade que a família real não tinha escravos. Ainda que recebessem salário, eles não eram livres;

9. É verdade que dom Pedro 2º foi inscrito em cédulas de votação nos EUA, mas de modo satírico por sugestão de um leitor do jornal New York Herald;

10. Pedro 2º não fez um empréstimo pessoal a um banco europeu para comprar a fazenda onde está hoje o Parque Nacional da Tijuca, no Rio;

11. O imperador foi, de fato, responsável pela tradução de As mil e uma noites do árabe arcaico para o português brasileiro;

12. O maestro e compositor Carlos Gomes foi mesmo apoiado por dom Pedro 2º;

13. A princesa Isabel tinha ao menos um amigo próximo que era negro: o engenheiro André Rebouças;

14. Houve, de fato, um jornal produzido em Petrópolis que divulgava ideais abolicionistas e era atribuído aos filhos da princesa Isabel;

15. Dom Pedro 2º se manifestava contra a censura e jornais eram livres para propagar ideias republicanas;

16. A aparente liberdade de imprensa foi notada por diplomatas europeus que visitaram o Brasil imperial;

17. É fato que dom Pedro 2º doava parte de sua lista civil — espécie de salário pago pelo Estado ao imperador — a instituições de caridade e ao patrocínio de estudantes e cientistas;

18. A ideia do Cristo Redentor no topo do morro do Corcovado pode sim ser creditada à princesa Isabel.

Confira abaixo, em detalhes, o que checamos.


FALSO

Dom Pedro 2º tentou ao parlamento a abolição da escravatura desde 1848. Uma luta contra os poderosos fazendeiros por 40 anos.

Não identificamos registros que atestem tentativas de dom Pedro 2º em abolir a escravidão junto ao parlamento a partir de 1848, oito anos depois de assumir a coroa, aos 14 anos. A manutenção do sistema escravocrata era cômoda à família imperial, que necessitava do apoio da elite agrária para se manter no poder.

As mudanças nas leis que regiam a escravidão no Brasil foram ocorrendo à medida que o país passou a ser pressionado por outras nações que já haviam abolido o sistema, especialmente a Inglaterra. A primeira das leis veio em 1871: a do Ventre Livre, que determinava que todos os filhos de escravos nascidos a partir daquele dia seriam livres. Na prática, no entanto, a legislação de nada valeu: as crianças deveriam ficar na fazenda até os oito anos e só poderiam ser libertadas depois do pagamento de uma indenização.

Outras mudanças, como a Lei do Sexagenário, em 1885, foram ocorrendo gradualmente, até que, em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que abolia o sistema do país e libertava todos os escravos.

Muito antes das medidas tomadas por dom Pedro 2º, no entanto, o então primeiro-ministro José Bonifácio de Andrada e Silva já havia apresentado ao parlamento brasileiro um projeto de lei que pretendia abolir gradativamente a escravidão. Em 1823, durante uma das reuniões da Assembleia Constituinte convocada por dom Pedro 1º, o político tentou convencer seus pares de que a abolição seria benéfica sob os pontos de vista social e econômico. Com a dissolução da Constituinte pelo imperador, no entanto, o projeto foi abandonado.


FALSO

Na casa de veraneio em Petrópolis, a princesa Isabel ajudava a esconder escravos fugidos e arrecadava numerários para alforriá-los.

De acordo com o livro O Castelo de Papel, biografia de Isabel escrita pela historiadora Mary del Priore, críticos à princesa de fato afirmavam que escravos das mais diversas regiões buscavam refúgio no palácio de Petrópolis para escaparem de seus senhores. “Dava-lhes de comer e até pouso, segundo o radical Silva Jardim. E alfinetava: sendo princesa, por que não lhes dava logo liberdade?”.

Segundo Priore, os rumores eram infundados. “Em toda a correspondência quase diária de Gastão [o conde D’Eu, marido da princesa] com o pai ou a condessa de Barral [preceptora de Isabel], há uma única referência a escravos fugidos na casa deles. A exceção foi o dia 31 de março.” Nesta carta, o conde D’Eu, marido de Isabel, narra a história de três escravas que, depois de libertadas, foram novamente trancafiadas, e por isso decidiram fugir. Elas refugiaram-se no palácio e, ao serem reclamadas por seus senhores, não foram entregues pelo conde e pela princesa.


FALSO

Santos Dumont almoçava três vezes por semana na casa da princesa Isabel em Paris.

Não há em biografias de Santos Dumont consultadas por Aos Fatos menção a encontros rotineiros entre o aviador e Isabel em Paris, local onde a princesa se exilou após a proclamação da República no Brasil. A única menção ao nome da regente brasileira se dá em um episódio que narra um dos acidentes sofridos por Dumont durante as fases de aperfeiçoamento da máquina que viria a ser o avião.

Durante uma competição em Paris em 1901, o brasileiro viu seu balão à mercê do vento quando o suprimento de petróleo se esgotou antes que alcançasse a linha de chegada. Segundo narra o escritor e roteirista inglês Paul Hoffman no livro Asas da Loucura, biografia de Dumont, o balão voou por Paris até cair sobre um castanheiro da propriedade da família de banqueiros Rothschild.

Ao saber do acidente, a princesa Isabel, que morava em local próximo à mansão, decidiu pedir a seus criados que levassem almoço a Dumont. Eles também lhe entregaram um convite para que o aviador fosse visitá-la.

Após a visita, há registro de que Isabel tenha enviado a Dumont uma medalha de ouro, acompanhada do bilhete: “Envio-lhe uma medalha de São Benedito, que protege contra acidentes. Aceite-a e use-a na corrente do relógio, na carteira ou no pescoço. Ofereço-lhe pensando na sua boa mãe e pedindo a Deus que o socorra sempre e o ajude a trabalhar para a glória de nossa pátria”. Dumont passou a sempre levar a medalha consigo presa a uma pulseira no braço.


FALSO

Pedro 2º mandou acabar com a guarda chamada Dragões da Independência por achar desperdício de dinheiro público. Com a República, a guarda voltou a existir.

Não é verdade que os Dragões da Independência tenham sido extintos por dom Pedro 2º; a guarda deixou de existir quase dez anos antes de o imperador assumir o trono, em 1840, e o nome atual só foi adotado em 1946.

Criada em 1808, data da chegada de dom João 6º ao Brasil, como Guarda de Honra, a unidade voltada à proteção da família real foi renomeada em 1822, quando passou a se chamar Guarda da Honra Imperial. Em 1832, depois de dom Pedro 1º abdicar do trono e abandonar o Brasil, o regimento foi extinto. dom Pedro 2º ainda não era imperador nessa época.

O regimento foi recriado em 1946, pouco depois do fim da 2ª Guerra Mundial, época em que adotou o nome Dragões da Independência. Hoje com a função constitucional de proteger o presidente da República, a unidade tem atuação praticamente simbólica.


FALSO

Quando dom Pedro 2º do Brasil subiu ao trono, em 1840, 92% da população brasileira era analfabeta. Em seu último ano de reinado, em 1889, essa porcentagem era de 56%, devido ao seu grande incentivo a educação, a construção de faculdades e, principalmente, de inúmeras escolas que tinham como modelo o excelente Colégio Pedro 2º.

Não há dados precisos e confiáveis que permitam aferir com certeza qual era a porcentagem de pessoas analfabetas no Brasil em 1840, quando dom Pedro 2º foi alçado ao trono. Os primeiros dados do tipo constam no censo demográfico de 1872. Ali, foi verificado que as taxas gerais de analfabetismo giravam em torno de 82% entre as pessoas com cinco anos ou mais.

A situação se manteve inalterada até o censo seguinte, feito em 1890, um ano após a proclamação da República: foi constatado que os índices eram de 82,6%. De acordo com o artigo Analfabetismo no Brasil: Configuração e Gênese das Desigualdades Regionais, de Alceu Ravanello Ferraro e Daniel Kreidlow, as taxas “ valeram ao Brasil, na época, a pecha de campeão mundial do analfabetismo”.

O artigo prossegue citando o historiador Sérgio Buarque de Holanda, que afirma que, apesar de dom Pedro 2º dizer acreditar que “a educação, especialmente a instrução primária, sempre parecera, efetivamente, a necessidade fundamental do povo”, pouco fez para melhorar o quadro de analfabetismo no país.

Essa tese é corroborada por Francisco Vidal Luna e Herbert Klein no livro A História Econômica e Social do Brasil (2016, Editora Saraiva). Segundo eles: “A maioria da população não estava matriculada em escolas, a taxa de analfabetismo estava entre as mais altas das Américas e ainda não existia nenhuma universidade no país”.

Havia, à época, algumas faculdades apenas, como a Escola de Cirurgia da Bahia, criada em 1808, e as faculdades de direito de São Paulo e Olinda, de 1827. O Colégio Pedro II, citado pela corrente, foi de fato modelo de educação na época. A instituição foi fundada em 1837, antes de o imperador ascender ao trono.

O número de colégios durante o Segundo Reinado, no entanto, de fato cresceu. De acordo com biografia de dom Pedro 2º escrita pelo francês Benjamin Mossé e revista pelo Barão do Rio Branco, havia no Brasil, em 1857, 2.595 escolas primárias com 70.000 alunos. Alguns anos mais tarde, em 1886, havia 6.605 com 213.670 alunos.


DISTORCIDO

Dom Pedro 2º falava 23 idiomas, sendo que 17 era fluente.

De acordo com o artigo publicado em 2012 na revista Cadernos de Tradução, diversas fontes apresentam diferentes números de línguas supostamente conhecidas por dom Pedro 2º. Nenhuma delas, no entanto, chega ao apresentado pela corrente.

Segundo depoimento da princesa Teresa da Baviera, que visitou o Brasil pouco antes da queda da monarquia, o imperador era fluente em 14 línguas. Mas os autores, baseados principalmente no livro Capítulos sobre História do Império (1972, Companhia das Letras), de Sérgio Buarque de Holanda, listam que o imperador falava, além do português, sete línguas — alemão, italiano, espanhol, francês, latim, hebraico e tupi-guarani — e lia em mais quatro — grego, árabe, sânscrito e provençal.


DISTORCIDO

A mídia ridicularizava a figura de Pedro 2º por usar roupas extremamente simples, e o descaso no cuidado e manutenção dos palácios da Quinta da Boa Vista e Petrópolis. Pedro 2º não admitia tirar dinheiro do governo para tais futilidades.

De fato, dom Pedro 2º ficou conhecido por usar roupas que não condiziam com um monarca. A justificativa para tal, no entanto, não residia na recusa em gastar dinheiro público com futilidades. De acordo com o autor do livro Dom Pedro 2º e a Moda Masculina na Era Vitoriana (2012, Estação das Letras e Cores), Marcelo de Araujo, em entrevista ao Valor, “isso era proposital, uma forma de rebeldia”.

Ainda de acordo com Araujo, dom Pedro 2º ganhou fama de excêntrico junto aos ingleses por sua "predisposição para evitar protocolos, solenidades oficiais e, sobretudo, para ignorar as regras que então regulavam, ainda que de moda difuso, a utilização de casacas, sobrecasacas, gravatas e demais acessórios da burguesia". Nos EUA, ele chegou a ser comparado a um homem de negócios, tal a despretensão com que se vestia.

O mau-estado de conservação das carruagens e dos palácios imperiais está registrado em um trecho de As Barbas do Imperador, de Lilia Moritz Schwarcz. Em trecho que cita o relato de um jornalista da época, Schwarcz ressalta a decadência da corte imperial em 1883, poucos anos antes da proclamação da República.

“Diferentemente dos relatos de meados do século, que exaltam a pompa e a riqueza do ritual, nesse caso o viajante não perdoa a pobreza da indumentária imperial, a decadência dos palácios — do Paço de São Cristóvão e do Paço da Cidade —, o mau estado das carruagens.”

Segundo historiadores, a má conservação dos bens da família imperial deve-se muito mais ao estado de decadência da corte, agravado pelo fato de o imperador doar grande parte do que ganhava à caridade, do que a um senso de austeridade com o dinheiro público.


DISTORCIDO

A família imperial não tinha escravos. Todos os negros eram alforriados e assalariados, em todos os imóveis da família.

Na biografia Dom Pedro 2º, Imperador do Brasil, de Benjamin Mossé e do Barão do Rio Branco, é mencionado o fato de que os escravos do imperador trabalhavam mediante salário. “Na qualidade de imperador, dom Pedro 2º tinha o usufruto de certo número de escravos chamados escravos da nação. Eram para ele protegidos, mais do que escravos. Trabalhavam mediante salário. Eles, ou seus filhos, frequentavam escolas fundadas pelo imperador; recebiam aí instrução primária e religiosa. Quanto aos seus escravos particulares, dos quais podia dispor livremente, concedeu a todos a liberdade.” O fato de alguns dos escravos da nação receberem salário e educação, no entanto, não os transformava em homens livres.

Em tese que analisa as condições de trabalho e a existência de uma política estatal em relação aos escravos públicos no século 19, a pesquisadora Ilana Peliciari Rocha destaca que havia, em média, 3.000 escravos da nação durante o Segundo Reinado. Eles atuavam em diversos estabelecimentos. “Os estabelecimentos públicos que continham escravos nacionais eram as fazendas, as fábricas, as instituições militares e os estabelecimentos administrativos.” Alguns dos trabalhadores viviam em péssimas condições: alimentavam-se mal, andavam “quase nus” e moravam aglomerados.

Isso não significa, também, que o monarca fosse totalmente contrário à escravidão: apesar de ter ideais abolicionistas, dom Pedro 2º fez uso do tráfico de escravos para engrossar as fileiras do Exército durante a Guerra do Paraguai. “O próprio imperador incentivava a compra de escravos: ‘Forças e mais forças a Caxias’, escrevia ele em dezembro de 1866, ‘— apresse a medida de compra de escravos e todos os que possam aumentar o nosso exército’. Com efeito, a Casa Imperial não só libertava, nesse contexto, alguns cativos particulares, como ajudava na compra e indenização, revelando o caráter emergencial de empresa”, afirma Lilia Moritz Schwarcz em As Barbas do Imperador.


DISTORCIDO

Dom Pedro 2º recebeu 14 mil votos na Filadélfia para a eleição Presidencial, devido sua popularidade, na época os eleitores podiam votar em qualquer pessoa nas eleições.

Em 1876, dom Pedro 2º fez uma longa viagem aos Estados Unidos. Mesmo que não se tratasse de uma visita oficial, o governante acabou por se envolver em uma série de compromissos e ganhar a simpatia dos americanos.

A popularidade do monarca culminou, naquele mesmo ano, no lançamento simbólico do nome de dom Pedro 2º como candidato às eleições presidenciais dos Estados Unidos. A história começou quando um homem decidiu escrever, em tom de piada, ao periódico New York Herald, afirmando que lançaria uma chapa em que o brasileiro seria presidente e Charles Francis Adams, descendente do ex-presidente John Adams, vice.

Apesar de o Aos Fatos não ter conseguido verificar quantos votos dom Pedro 2º de fato recebeu, é documentado pelo jornalista Sebastião Salgado que o monarca realmente teve seu nome escrito em cédulas de votação. Os números foram especialmente expressivos no estado da Filadélfia, um dos lugares visitados durante a viagem.


DISTORCIDO

Pedro 2º fez um empréstimo pessoal a um banco europeu para comprar a fazenda que abrange hoje o Parque Nacional da Tijuca. Em uma época que ninguém pensava em ecologia ou desmatamento, Pedro 2º mandou reflorestar toda a grande fazenda de café com mata atlântica.

Apesar de dom Pedro 2º ter realmente sido o responsável pelo reflorestamento da região que hoje abrange o Parque Nacional da Tijuca, não é verdade que tenha pedido um empréstimo para comprar a fazenda que se instalava no local. De acordo com o site oficial do parque, as florestas da Tijuca e das Paineiras foram declaradas florestas protetoras pelo imperador em 1861. O objetivo, segundo detalha matéria do jornal O Globo, seria resolver os problemas de abastecimento de água que ocorriam na região. A partir daí, iniciou-se um processo de desapropriação de diversas chácaras e fazendas da região.

Coube ao major Manuel Gomes Archer a missão de reflorestar a região. Acompanhado de escravos, feitores e trabalhadores assalariados, o militar plantou, ao longo de 13 anos, cerca de 100 mil árvores, em sua maioria espécies nativas da Mata Atlântica. “Pode-se dizer que a Tijuca está entre as áreas protegidas pioneiras no mundo, já que é mais antiga até do que Yellowstone, o primeiro Parque Nacional, criado em 1872, nos Estados Unidos, diz o site.


DISTORCIDO

Princesa Isabel recebia com bastante frequência amigos negros em seu palácio em Laranjeiras para saraus e pequenas festas. Um verdadeiro escândalo para época.

Apesar de Aos Fatos não ter encontrado nenhum tipo de registro que mencione especificamente as festas citadas pela declaração, é fato que a princesa tinha um amigo negro que frequentava o palácio: o engenheiro e abolicionista André Rebouças, um dos principais articuladores do movimento que levou à assinatura da Lei Áurea em 1888. Porém, não verificamos outros na mesma condição que pudessem corroborar o que diz a corrente.

No livro O Castelo de Papel, a historiadora Mary del Priore faz menção à relação entre o casal e Rebouças: “o engenheiro André Rebouças frequentava as reuniões sociais que aí aconteciam [no palácio dos príncipes]. Durante a guerra, trocara cartas com Gastão e, agora, com Isabel, impressões musicais e livros: amigo íntimo do casal”.

A relação entre Isabel e Rebouças foi importante no processo de abolição no país e teve seus principais momentos registrados em um diário do engenheiro. Em outro trecho de O Castelo de Papel, Priore afirma que “coincidentemente, no dia 12 de fevereiro, [Rebouças] anotou: ‘Primeira batalha de flores. [...] Primeira manifestação abolicionista de Isabel I.’ Chovia, mas foi um sucesso, segundo os jornais. Pela primeira vez, os príncipes entraram pessoalmente em campo para arrecadar fundos para a Confederação Abolicionista”.


VERDADEIRO

A primeira tradução do clássico árabe “Mil e uma noites” foi feita por dom Pedro 2º, do árabe arcaico para o português do Brasil.

De fato, segundo a pesquisa Dom Pedro 2º tradutor: análise do processo criativo, de Rosane de Souza, o imperador, aos 62 anos, foi o primeiro a iniciar a tradução do clássico árabe As Mil e uma Noites. O último registro de texto transcrito por ele para o português é de 1891, um mês antes de sua morte.

Em seu texto, Souza destaca que o imperador manteve inclusive os trechos eróticos da obra, que haviam sido descartados em outras traduções, como a publicada em língua francesa.


VERDADEIRO

O Maestro e Compositor Carlos Gomes, de “O Guarani” foi sustentado por Pedro II até atingir grande sucesso mundial.

De fato, o compositor Carlos Gomes, autor da ópera O Guarani foi amigo e protegido de dom Pedro 2º, que sustentou ele e outros artistas.

Em página dedicada à história de Gomes, a prefeitura de Campinas detalha que o músico, ainda jovem, foi apresentado ao monarca, que o encaminhou ao diretor do Conservatório de Música. Depois de dois anos sob os ensinamentos da escola, foi escolhido para ir à Europa com todas as despesas custeadas pela Empresa de Ópera Lírica Nacional. Partiu em 1863, com uma carta de recomendação de dom Pedro 2º para o rei da Espanha, Fernando, que pedia que fosse apresentado ao diretor do Conservatório de Milão.

Na Europa, Gomes circulou por uma série de países, onde suas composições foram ganhando fama até o ápice de sua carreira, marcado pela estreia de O Guarani. A peça, que rodou por todo o continente, estreou no Brasil em 2 de dezembro de 1870, data do aniversário de dom Pedro 2º.


VERDADEIRO

Os pequenos filhos da princesa Isabel possuíam um jornalzinho que circulava em Petrópolis, um jornal totalmente abolicionista.

Houve, de fato, um jornal produzido em Petrópolis que divulgava ideais abolicionistas e era atribuído aos filhos de Isabel. O Correio Imperial, no entanto, era de autoria da própria princesa, como aponta a historiadora Mary Del Priore em O Castelo de Papel.

“O texto traía sua autoria. Ele falava em ‘corações benfazejos’, em ‘santo empenho’, em ‘querubins da terra’, em desfile de “anjos de caridade a pedir óbolo para apagar-se entre nós a mácula da escravidão”. Ela diria mais tarde que a escravidão, ‘um atentado à liberdade humana, a repugnava’”, escreve Priore.


VERDADEIRO

Mesmo diante desses ataques, dom Pedro 2º se colocava contra a censura. "Imprensa se combate com imprensa", dizia.

A imprensa era livre tanto para pregar o ideal republicano quanto para falar mal do nosso Imperador.

A frase “Imprensa se combate com imprensa” é, de fato, atribuída ao imperador dom Pedro 2º, de acordo com o historiador José Murilo de Carvalho, consultado pelo Aos Fatos por email. É fato também que o monarca considerava a liberdade de imprensa fundamental. Em cartas enviadas por ele à princesa Isabel, compiladas no livro Conselhos à Regente, de 1958, o imperador afirma que “A nossa principal necessidade política é a liberdade de eleição; sem esta e a de imprensa não há sistema constitucional na realidade, e o ministério que transgride ou consente na transgressão deste princípio é o maior inimigo do Estado e da monarquia”.

Em outro trecho da mesma carta, dom Pedro 2º ressalta a importância de um governante se manter atualizado por meio da leitura do que é publicado na mídia. “Leio constantemente todos os periódicos da corte e das províncias e os que, pelos extratos que deles se fazem, me parecem interessantes. A tribuna e a imprensa são os melhores informantes do monarca”.


VERDADEIRO

"Diplomatas europeus e outros observadores estranhavam a liberdade dos jornais brasileiros" conta o historiador José Murilo de Carvalho.

A frase realmente consta na página 88 do livro Dom Pedro 2º do historiador e membro da Academia Brasileira de Letras, José Murilo de Carvalho. De acordo com Carvalho, as afirmações são atribuídas a ministros da Áustria e da França.


VERDADEIRO

Dom Pedro 2º doava 50% de sua dotação anual para instituições de caridade e incentivos para educação com ênfase nas ciências e artes.

Apesar de obras como As Barbas do Imperador, de Lilia Moritz Schwarcz, não citarem quantias exatas, é fato que dom Pedro 2º doava parte de sua lista civil — espécie de salário pago pelo Estado ao imperador — a instituições de caridade e ao patrocínio de estudantes e cientistas.

Em trecho da biografia, Schwarcz reproduz um comentário do jornalista Carlos von Koseritz sobre os atos de beneficência do imperador. “(...) ele não possui nenhuma fortuna pessoal e sua lista civil, já de si insuficiente, vai na maior parte para obras de beneficência, de modo que ele não pode manter nenhuma pompa na corte, nem pode fazer nada para dar brilho às suas residências (...)”.

Em outro trecho do relato, Koseritz detalha que, atento apenas às obras de caridade, o imperador acabou por se afundar em dívidas, ao ponto de o andar térreo do palácio imperial ter sido alugado a comerciantes como forma de complementar a renda da coroa.


VERDADEIRO

A ideia do Cristo na montanha do Corcovado partiu da Princesa Isabel.

De fato, a existência do Cristo Redentor e sua presença no morro do Corcovado pode ser creditada à Princesa Isabel. Ela era conhecida como a “Redentora” por conta da assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no país. Para homenageá-la, foi sugerida a construção de um monumento.

A governante recusou o presente e pediu que, ao invés disso, fosse erguida no morro do Corcovado uma estátua em homenagem a Jesus. A partir daí, foi arquitetada a construção do Cristo Redentor, inaugurado em 1931.


O que não checamos (por falta de informações verificáveis ou por não citarem especificamente membros da família real):

1. "Uma senhora milionária do sul, inconformada com a derrota na guerra civil americana, propôs a Pedro II anexar o sul dos Estados Unidos ao Brasil, ele respondeu literalmente com dois “Never!” bem enfáticos".

2. "Em 1887, Pedro II recebeu os diplomas honorários de Botânica e Astronomia pela Universidade de Cambridge".

3. "Dom Pedro 2º andava pelas ruas de Paris em seu exílio sempre com um saco de veludo ao bolso com um pouco de areia da praia de Copacabana. Foi enterrado com ele".

4. "A Imperatriz Teresa Cristina cozinhava as próprias refeições diárias da família imperial apenas com a ajuda de uma empregada (paga com o salário de Pedro II)".

5. "D. Pedro Augusto Saxe-Coburgo era fã assumido de Chiquinha Gonzaga".

6. "(1880) O Brasil era a 4º economia do Mundo e o 9º maior Império da história."

7. "(1860-1889) A média do crescimento econômico foi de 8,81% ao ano."

8. "(1880) Eram 14 impostos, atualmente são 98."

9. "(1850-1889) A média da inflação foi de 1,08% ao ano."

10. "(1880) A moeda brasileira tinha o mesmo valor do dólar e da libra esterlina."

11. "(1880) O Brasil tinha a segunda maior e melhor marinha do Mundo, perdendo apenas para a da Inglaterra."

12. "(1860-1889) O Brasil foi o primeiro país da América Latina e o segundo no Mundo a ter ensino especial para deficientes auditivos e deficientes visuais."

13. "(1880) O Brasil foi o maior construtor de estradas de ferro do Mundo, com mais de 26 mil km."

Colaborou Luiz Fernando Menezes.

Referências:

1. Infoescola
2. EBC
3. Senado
4. História do Mundo
5. Câmara
6. Exército
7. IBGE
8. UFRGS
9. Superinteressante
10. Colégio Pedro II
11. Fundação Alexandre Gusmão
12. UFSC (Fontes 1 e 2)
13. Valor
14. USP
15. History
16. Parque Nacional da Tijuca
17. O Globo (Fontes 1 e 2)
18. Terra
19. Carlos Gomes
20. Assembleia Legislativa de São Paulo

Obras consultadas:

1. Asas da Loucura - A Extraordinária Vida de Santos Dumont, Paul Hoffman. Ponto de Leitura, 2010.

2. As Barbas do Imperador: Dom Pedro 2º, um Imperador dos Trópicos, Lilia Moritz Schwarcz. Companhia das Letras, 1998.

3. O Castelo de Papel: Uma História de Isabel de Bragança, Princesa Imperial do Brasil, e Gastão de Orléans, Conde d’Eu, Mary Del Priore. Rocco, 2013.

4. Dom Pedro 2º: Imperador do Brasil. Benjamin Mossé, José Maria da Silva Paranhos Júnior. 1889.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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