Eduardo F. S. Lima/FotoArena/Estadão Conteúdo

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Conteúdos golpistas nas redes dispararam a partir de junho de 2022 e mantêm patamar alto

Por Bianca Bortolon, Bruno Fávero e Luiz Fernando Menezes

23 de janeiro de 2023, 15h37

O volume de conteúdos com falsas alegações de fraude nas eleições, pedidos por intervenções militares golpistas e ataques a instituições democráticas, como o Congresso Nacional e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disparou nas redes sociais a partir de junho de 2022, meses antes do início oficial da campanha eleitoral.

É o que revela análise exclusiva do Radar Aos Fatos com dados reunidos entre março de 2021 e janeiro de 2023, quando manifestantes golpistas depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.

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Radar Anti-democratic content surged on social media before Brazil's 2022 election — and it's not slowing down

A ferramenta, que coleta e avalia automaticamente milhares de posts por dia em seis plataformas, registrou aumento significativo em conteúdo antidemocrático no WhatsApp, no Twitter, no Facebook, no YouTube e em sites monitorados.

  • De junho de 2022 a janeiro de 2023, o Radar Aos Fatos detectou mais de 991 mil mensagens de Twitter no tema “ataques à democracia”;
  • O número é 1.278% maior do que o do mesmo período um ano antes (72 mil);
  • As outras plataformas tiveram aumentos menores, mas também expressivos: 281% no WhatsApp, 181% em sites hiperpartidários, 115% no YouTube e 71% no Facebook;
  • Mesmo após a eleição, o volume de publicações coletadas permanece elevado;
  • O levantamento foi realizado a pedido do jornal The Washington Post, que publicou no sábado (21) uma reportagem sobre desinformação eleitoral no Brasil.


Urnas. Mesmo confrontados com checagens, usuários questionavam a segurança das urnas eletrônicas e afirmavam que houve fraude nas eleições de 2022 (Reprodução/Twitter)

Golpismo. A análise qualitativa de uma amostra aleatória de 400 mensagens publicadas no Twitter e no WhatsApp no período de alto engajamento (jun.2022–jan.2023) sugere que o aumento súbito não está associado a nenhum evento específico e sim à proximidade com o processo eleitoral de 2022.

  • Da amostra analisada, 35% do conteúdo contêm algum tipo de desinformação objetiva. A mais comum é que de que as eleições foram fraudadas, seguida de tentativas de associar Lula (PT) ao crime organizado;
  • Uma parcela de 9,5% não contém desinformação checável, mas é abertamente golpista — pede intervenção militar ou convoca outros usuários para atos antidemocráticos;
  • A imprensa também foi alvo preferencial: ataques a veículos de mídia e jornalistas apareceram em 23% das mensagens. Esse grupo aponta uma suposta perseguição a Bolsonaro, favorecimento a Lula e a manipulação de pesquisas de opinião;
  • Já ataques a instituições democráticas e seus representantes, como o STF (Supremo Tribunal Federal), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o Congresso, estavam presentes em 7% do conteúdo analisado;
  • Por fim, outras mensagens coletadas consistem em ataques e xingamentos a políticos e partidos de esquerda, especialmente o presidente Lula e o PT. Em escala significativamente menor, também há conteúdo hostil a Bolsonaro e seus aliados.


Antipetismo. Montagens emulam sites de notícias para atacar o presidente Lula e a esquerda (Reprodução/Facebook)

Outro lado. Em nota enviada ao Aos Fatos, o WhatsApp disse que coopera com as autoridades para proteger a integridade do processo eleitoral e que "é importante que comportamentos inapropriados, além de conteúdos ofensivos e possivelmente ilegais, sejam denunciados às autoridades competentes".

O Youtube afirmou que encerrou mais de 2.500 canais e removeram mais de 10 mil vídeos relacionados ao tema. A assessoria afirma ainda que a rede social destacou conteúdo de fontes autorizadas e expandiu sua política de integridade eleitoral para "proibir conteúdo que alega que os resultados das eleições presidenciais do Brasil foi roubada ou fraudada".

O Aos Fatos também entrou em contato com as assessorias de imprensa do Facebook e do Twitter. Este texto será atualizado caso haja resposta.

Metodologia. Os dados foram coletados por meio da ferramenta automatizada Radar Aos Fatos, que usa um algoritmo para estimar a probabilidade de publicações de certos temas serem de “baixa qualidade”.

No caso do tema “ataques à democracia”, esse conceito abarca desinformação sobre o processo democrático, mensagens de cunho antidemocrático (pedidos de intervenção do Exército, por exemplo), além de ataques (ameaças ou xingamentos) a personalidades e instituições da imprensa e da política.

A metodologia detalhada usada pelo Radar Aos Fatos pode ser acessada aqui.

Veja abaixo mais exemplos de publicações encontradas:


Artigo 142. Publicação em grupo no Facebook repete mentira de que fraudes foram comprovadas (Reprodução/Facebook)


Plano. Mensagem no WhatsApp alega que perseguição religiosa, descriminalização das drogas e "sexualização das crianças" estariam entre as propostas de um novo governo Lula


Pesquisas. Publicações questionam segurança na contagem de votos (Reprodução/Youtube)


STF. Imagem que circulou no WhatsApp usa desinformação sobre urnas para criticar Barroso


Apoio ao golpe. Mensagem no Twitter pedem que Exército impeça Lula de assumir Presidência


Militares e urnas. Tuíte faz apelo a militares e ironiza segurança das urnas eletrônicas

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Esta reportagem foi atualizada às 17h15 para acrescentar o posicionamento do WhatsApp.

Esta reportagem foi atualizada às 16h05 para acrescentar o posicionamento do Youtube.

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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