Conspiradores criam mentira para relacionar Bill Gates, Mpox e ‘chemtrails’

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Desde a pandemia de Covid-19, se tornou comum encontrar nas redes teorias conspiratórias pseudocientíficas sobre doenças em geral. Essas publicações buscam engajamento ao disseminar pânico ou promessas milagrosas de cura.

Teorias do tipo geralmente começam em grupos “de nicho” — que compartilham entre si apenas peças de desinformação sobre um tema específico — e acabam vazando mais tarde para as redes mainstream. Isso aconteceu com a dengue, no início do ano, e tem ocorrido agora com a Mpox.

Aos Fatos já desmentiu diversas publicações enganosas sobre o novo surto do vírus (veja exemplos aqui e aqui), mas uma corrente mentirosa que apareceu no Telegram e no WhatsApp nas últimas semanas e agora está alcançando redes como Threads e Facebook chamou atenção pelo nível de conspiracionismo.

Uma marca das teorias conspiratórias é encontrar explicações fáceis para problemas complexos e situações incertas. A teoria sobre a emergência sanitária da Mpox não foge à regra: mais uma vez, a culpa do surto seria da elite global, que quer criar uma pandemia para controlar o restante da população.

As mensagens (veja abaixo) falam sobre o “Projeto Skypox”: a Fundação Bill & Melinda Gates teria criado uma versão “altamente contagiosa e aerossolizada” do vírus mpox para soltá-lo por meio de “chemtrails” — nome dado por conspiracionistas aos rastros deixados por alguns aviões no céu.

“O objetivo? Deflagrar uma nova pandemia que abriria caminho para mandatos draconianos de vacinas e severas restrições às liberdades pessoais”, continua a mensagem.

Texto publicado no Facebook diz que ‘denunciantes expõem a conspiração perigosa de bill gates para semear varíola dos macacos nas grandes cidades através de trilhas químicas’
Mensagem conspiratória apareceu no Facebook e no Threads, mas se originou em grupos negacionistas no Telegram (Reprodução)

Aparentemente simples, a teoria conspiratória é também extremamente frágil:

Conforme explicado pelo CDC (Centro de Controle de Doenças) dos Estados Unidos, a Mpox é transmitida via contato, seja pele com pele ou por meio de saliva, fluidos e secreções de uma pessoa infectada. A possibilidade de transmissão aérea está sendo estudada, mas hoje se acredita que o risco de ser infectado pelas vias respiratórias seja baixo.

Não há também nenhum indício de que uma nova versão do vírus tenha sido criada ou sequer que a Fundação Bill & Melinda Gates esteja pesquisando a doença. A organização de fato tem projetos na área da saúde, mas focados no “desenvolvimento de novas ferramentas e estratégias para reduzir o fardo das doenças infecciosas e as principais causas da mortalidade infantil nos países em desenvolvimento”.

Seção do site da Fundação explica os projetos relacionados à saúde global
Mpox não consta na lista de doenças destacadas na seção “Nosso Trabalho” da Fundação (Reprodução)

Aos Fatos entrou em contato com a assessoria da fundação, que negou a teoria conspiratória por completo.

Já em relação aos “chemtrails” (ou “rastros químicos”, em tradução literal), o que podemos dizer é que se trata de uma teoria conspiratória antiga importada dos Estados Unidos.

A tese mentirosa, que é relativamente famosa entre os americanos, alega que os rastros de fumaça deixados por aeronaves no céu seriam “produtos químicos e tóxicos” que estariam sendo pulverizados nas cidades pelo próprio governo para envenenar a humanidade.

Foto mostra rastros de aeronaves no céu azul
Exemplos de rastros de ‘chemtrails’ por conspiradores (Joachim Süß/Unsplash)

Desde a década de 1990, época dos primeiros registros da teoria conspiratória, nunca foram apresentadas provas sobre a existência dos “chemtrails”:

“Se realmente existisse um programa em larga escala de despejo de materiais com o uso de aeronaves na proporção descrita, teria que haver um grande programa operacional para fabricar, carregar e dispersar esses materiais. Se tal programa existisse na escala necessária para explicar a quantidade alegada de trilhas químicas, seriam necessárias milhares ou talvez dezenas de milhares de pessoas. Seria extraordinariamente difícil manter tal programa em segredo, porque seria muito fácil para um único indivíduo no programa revelá-lo usando documentos vazados, fotografias ou um hardware” — artigo no site da Universidade Harvard.

A explicação científica sobre os rastros é que o congelamento dos gases que saem dos motores dos aviões forma cristais a altitudes entre 8 km e 13 km. Essas emissões de fato são poluentes, mas por conta dos combustíveis usados, e não por um plano maquiavélico do governo.

Então, se você quiser ser contra os rastros de aviões, é possível fazer isso sem apelar para conspirações envolvendo Mpox ou toxinas: há movimentos que defendem a redução das emissões para evitar a poluição do meio ambiente, que agrava as mudanças climáticas — essa, sim, com potencial de matar milhões de pessoas.

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