Fotos dos CEOs das maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos na cerimônia de posse de Donald Trump, na última segunda-feira (20), retrataram a convergência entre as big techs e o novo governo que já havia se manifestado em uma série de mudanças ocorridas nas plataformas nos últimos meses.
Leitores do Aos Fatos já acompanhavam essa aproximação desde a campanha eleitoral. No caso do X, de Elon Musk, as evidências estavam claras muito antes. O bilionário, que ocupa um cargo na nova gestão, nunca escondeu suas opiniões políticas e as fez refletir nos algoritmos e padrões de comunidade da plataforma desde que assumiu a empresa, em 2022.
No caso da Meta, de Mark Zuckerberg — que doou US$ 1 milhão para o evento de inauguração de Trump e participou de reuniões do governo de transição —, as mudanças na política chegaram no começo deste ano. Em vídeo, o CEO anunciou o fim do programa de checagem de fatos nos Estados Unidos e grandes mudanças nas regras de moderação de conteúdo.
As novas regras fazem com que falas mentirosas e preconceituosas que acusam imigrantes de comer cachorros nas ruas de cidades americanas, como as proferidas por Trump durante a campanha, ou expressões de supremacia racial e de preconceito religioso circulem livremente pelo Facebook, pelo Instagram e pelo Threads.
Para piorar, posts desse tipo poderão ser sugeridos a usuários, já que a empresa também decidiu retomar a recomendação de conteúdos políticos no feed, em mais uma decisão alinhada ao novo governo americano.
Essa mudança pode, inclusive, ter influenciado na viralização do vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre a suposta taxação do Pix, que alimentou a desinformação sobre o tema nas redes brasileiras na semana passada.
Se você não quiser se surpreender com conteúdo desse tipo enquanto estiver rolando o feed do Instagram ou do Threads, ainda é possível mudar as configurações de posts sugeridos. Basta entrar nas suas preferências e modificar os ajustes para conteúdos políticos (veja abaixo):

É possível selecionar entre:
- “padrão”, na qual conteúdos políticos serão mais recomendados;
- “ver mais”, na qual posts sobre o assunto serão recomendados como qualquer outro;
- “ver menos”, em que conteúdos políticos não serão sugeridos nunca.
A escolha não afeta conteúdos de pessoas que o usuário segue ativamente. Ou seja, se você segue páginas que compartilham posts políticos, eles continuarão a aparecer para você. Porém, publicações relacionadas ao tema não serão sugeridas na seção “explorar” ou em recomendações de posts no feed.
A ferramenta também não vai impedir que conteúdos criminosos e desinformativos sigam circulando nas redes, mas pelo menos deixará seu feed livre disso. Tanto quanto as mudanças da plataforma, essa também é uma escolha política.
🤔 Uma estranha coincidência
Quase que simultaneamente ao anúncio das novas políticas da Meta, usuários do Instagram relataram ter “passado a seguir automaticamente” as contas de Donald Trump e J. D. Vance, que tomaram posse como presidente e vice-presidente dos Estados Unidos no último dia 20.
Apesar de usuários terem teorizado que isso se devia a uma manipulação das big techs, que estariam agindo em consonância com a nova gestão, trata-se de procedimento padrão em transições de governo nos Estados Unidos. Seguidores das contas oficiais da Presidência do país (@POTUS e @VP) são transferidos para as contas dos novos ocupantes do cargo.
Assim, quem seguia os perfis profissionais de Joe Biden e Kamala Harris passou a seguir as contas de Trump e J. D. Vance.

Com tanta gente nova seguindo os perfis — e com a volta da recomendação de conteúdos políticos —, eles também passaram a ser exibidos como sugestão a outros usuários.
Como tudo não passa de uma coincidência, para deixar de seguir as contas não tem segredo: basta clicar em “seguindo” e então em “deixar de seguir”.
