Reprodução do Twitter

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Maio de 2019. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Como os filhos de Bolsonaro usam polêmicas para impulsionar engajamento no Twitter

3 de maio de 2019, 09h21

Levantamento realizado pelo Aos Fatos nos perfis de Twitter dos irmãos Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro indica que os três filhos do presidente da República, Jair Bolsonaro, conseguem mais engajamento nas redes sociais com polêmicas do que ao divulgar propostas e ações de seus mandatos parlamentares ou do governo do pai. Nos quatros primeiros meses deste ano, os três publicaram, juntos, 2.974 mensagens e retweets. Em alguns casos analisados, tweets com xingamentos tiveram até quatro vezes o número de curtidas de publicações propositivas, como mensagens sobre a reforma da Previdência. A varredura dos tweets publicados entre 1º de janeiro e 30 de abril deste ano foi feita com o auxílio da ferramenta TAGS.

Carlos Bolsonaro faturou mais interações no Twitter ao atacar o ex-ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) e o vice-presidente Hamilton Mourão do que ao abordar o projeto de reforma da Previdência do governo para policiais.

Eduardo, por sua vez, notabiliza-se ao twittar informações controversas sobre movimentos e partidos de esquerda e temas internacionais, além de lançar mão de sites conhecidos pela difusão de notícias falsas e teorias da conspiração.

Já o irmão mais velho, Flávio Bolsonaro, reduziu substancialmente sua presença na rede social após a eclosão do escândalo Queiroz, que revelou movimentações atípicas do seu gabinete na Assembleia do Rio identificadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), no fim do ano passado.

Confira abaixo, em detalhes, o que identificamos.

Carlos Bolsonaro - 1,11 milhão de seguidores e 852 tuítes em 2019

Braço direito do pai durante as eleições de 2018 e apontado pela imprensa como o twitteiro oficial do presidente, Carlos Bolsonaro (PSC), 36 anos, é bastante atuante nas redes, com particular pendor para bate-boca e declarações controversas, inclusive em relação a políticos da base bolsonarista.

O primeiro choque com aliados do pai ocorreu em fevereiro, em meio às repercussões do escândalo das candidaturas laranjas do PSL. Na ocasião, Carlos atacou publicamente Gustavo Bebianno, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, chamando-o de "mentiroso" após Bebianno ter dito à imprensa que conversou com o presidente, que estava internado. A postagem rendeu a Carlos 13,6 mil curtidas e 2,1 mil compartilhamentos.

Em 16 de fevereiro, Bebianno deixou o cargo e, dias depois, a revista Veja publicou áudios que o presidente enviou para Bebianno enquanto estava no hospital, confrontando o argumento do presidente de que não teria falado com o agora ex-ministro.

Também em fevereiro, Carlos postou um agrado ao vice-presidente Hamilton Mourão, hoje seu alvo de críticas: uma foto que mostra a assinatura do vereador em um pedido de homenagem da Câmara do Rio ao general. Dois meses depois, a relação mudou: após um entrevero entre Mourão e Olavo de Carvalho, Carlos saiu em defesa do segundo em 21 de abril. Nos dias seguintes, o vereador foi ainda mais enfático, tendo criticado abertamente o vice-presidente, insinuando um “alinhamento” do general com opositores.

Entre 21 e 27 de abril, Carlos postou 37 mensagens e retweets, sendo que 28 foram sobre polêmicas, principalmente ataques ao vice-presidente Mourão, e nove sobre assuntos propositivos, como os projetos da reforma da Previdência e do pacote anticrime. No período, as polêmicas, mais uma vez, saíram ganhando em alcance e interações. É o caso, por exemplo, de quando Carlos chamou seus críticos de “vagabundos” em um tweet: a postagem teve mais de 25 mil curtidas, quatro vezes acima das interações obtidas em um tweet sobre a Previdência para policiais e militares.

Os elogios a ministros como Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), e ainda aplausos a ações do governo Bolsonaro indicam que Carlos é uma peça importante de divulgação na estrutura da gestão federal. Em seus 852 tuítes desde janeiro, ele mencionou ao menos 29 vezes a “Nova Previdência”, em referência ao projeto de reforma da Previdência, que partiu do Executivo e tramita hoje na Câmara.

Em outras quatro oportunidades, Carlos demonstrou apoio ao pacote anticrime apresentado pelo ministro Sérgio Moro: “O pacote anticrime do Ministro Moro não é mera proposta de governo, é a principal demanda de nossa população!”, escreveu, em postagem de 26 de março, que continha ainda um vídeo do ministro defendendo as mudanças na legislação penal. Este tweet teve mais de 25 mil curtidas e 5,6 mil compartilhamentos.

No entanto, Carlos não ocupa cargo no governo federal, mas sim na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde é vereador desde 2001. Porém, há apenas uma postagem sobre a sua atuação no Palácio Pedro Ernesto, de 19 de fevereiro, quando se posicionou contra um projeto de “lei Rouanet municipal”. Até mesmo postagens com xingamentos, como “vagabundos”, em três oportunidades, e “idiotas”, em sete vezes, receberam mais engajamento do que a sua atuação na Câmara.

Eduardo Bolsonaro - 1,42 milhão de seguidores e 1.998 tweets publicados em 2019

São 1.998 tweets e retweets em quatro meses, uma média de 16 postagens por dia. Em seu perfil no Twitter, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) dedica-se a temas internacionais sob a ótica conservadora e ataques a movimentos e partidos de esquerda. Para isso, ele lança mão, inclusive, de sites vinculados à divulgação de notícias falsas: tais páginas foram citadas por ele em ao menos cem oportunidades, indica o levantamento.

Em março, por exemplo, Eduardo compartilhou uma notícia falsa que teve 23,5 mil curtidas no Twitter, publicada pelo site Terça Livre, que deturpou uma entrevista concedida pela repórter Constança Rezende, do jornal O Estado de S. Paulo. O caso teve repercussão nacional pelos ataques que a jornalista sofreu nas redes sociais.

Na agenda internacional, Eduardo demonstra predileção pelo governo republicano de Donald Trump nos EUA. Um destaque nesse ponto foi o dia 19 de março, quando o deputado acompanhou o pai e o chanceler Ernesto Araújo em visita oficial à Casa Branca. Na ocasião, o deputado twittou 23 vezes, sendo que a maior parte das mensagens e retweets tiveram como mote a agenda presidencial.

O presidente norte-americano, aliás, é mencionado em 83 postagens do deputado no período analisado por Aos Fatos. Em todas, de forma positiva. Exemplo disso são as mensagens elogiosas à aproximação do Brasil com os EUA ou às ações do governo Trump contra o terrorismo islâmico.

“A deferência que Trump fez a mim hoje é motivo de honra, mas foi para toda minha família, principalmente ao Carlos, que esteve a maior parte do tempo ao lado do JB durante o período difícil que o presidente dos EUA mencionou. Assim, Trump tb monstrou [SIC] +1 vez seu apreço p/ família.”, twittou Eduardo Bolsonaro, em 19 de março, em postagem que teve quase 35 mil curtidas e 5,8 mil compartilhamentos.

A aproximação com Trump, aliás, gerou atrito com chanceler Ernesto Araújo. Durante a visita aos EUA, a imprensa noticiou que Eduardo ofuscado o ministro. Na época, ele chegou a postar que não havia competição entre ele e Araújo.

O deputado também dispara com frequência contra movimentos e partidos de esquerda, mesmo com dados questionáveis, como verificou o Aos Fatos nas eleições do ano passado. Em janeiro deste ano, Eduardo postou uma mensagem onde ele reproduz um ataque de Donald Trump à imprensa norte-americana. O deputado complementa o tweet afirmando que a esquerda brasileira usaria “mentira” como “tática” para “derrubar governos”. Mesmo sem apresentar qualquer informação que confirme o ataque, postagem teve mais de 5 mil curtidas e cerca de 1 mil retweets.

Print screen Twitter

É notável ainda a presença nos seus tweets de teorias conspiratórias conservadoras, como a que denuncia a existência de um movimento globalista, evidenciada pelo tweet acima. A hipótese é levantada por aqueles que são contrários à imigração e à diversidade cultural, e também a modelos de governança que, creem, interferem na soberania dos países. O site de economia conservador Mises Brasil cita a União Europeia como exemplo de ação globalista:“super-estado europeu, no qual as nações-estado da Europa irão se dissolver como cubos de açúcar em uma xícara quente de chá”.

Flávio Bolsonaro -1,24 milhão de seguidores e 124 tuítes em 2019

No ano passado, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), 37 anos, candidatou-se a uma vaga no Senado após quatro mandatos como deputado estadual no Rio de Janeiro e foi eleito com mais de quatro milhões de votos. A vitória nas urnas, porém, foi eclipsada pela revelação, meses depois das eleições, de suspeitas sobre a contratação de servidores laranjas em seu antigo gabinete, sob investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro.

A crise fez Flávio ficar longe dos holofotes, concedendo poucas entrevistas sobre o tema. Após o caso de movimentações suspeitas de dinheiro pelo ex-motorista de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, ser revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo, em 6 de dezembro do ano passado, o senador eleito pelo Rio de Janeiro postou apenas cinco mensagens nos 25 dias restantes daquele ano. Uma das mensagens foi para afirmar que não cometeu ilegalidade no caso.

Foram 124 tweets nos primeiros quatro meses de 2019, um pouco mais da metade do que Flávio postou em outubro e novembro do ano anterior (217 mensagens), quando o escândalo do motorista ainda não tinha vindo à tona, o que indica uma submersão do atual senador naquela rede social.

Apesar de econômico em tweets na comparação com os irmãos, Flávio gerou polêmicas nas redes com consequências para o governo. Em 2 de abril, o senador twittou “Quero que vocês se explodam” junto com uma imagem de uma reportagem da revista Exame cujo título era o seguinte: "Hamas repudia visita de Bolsonaro a Israel e pede 'retratação'". A mensagem foi apagada no mesmo dia, mas gerou repercussão negativa. Antes de ser deletado, o tweet já havia amealhado mais de 3.700 curtidas e 1.663 comentários.

No dia 3 de abril, o chefe de relações internacionais do Hamas, Basem Naim, criticou a postagem e chamou Flávio de “filho do presidente extremista”. De olho na forte relação comercial do Brasil com os países árabes, o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, também reprovou a mensagem do senador Flávio e disse à imprensa: “Chega dos meninos do Bolsonaro, não dá mais”.

Publicações de Flávio sobre assuntos de governo não se limitaram apenas a questões relativas à política externa. Segundo ele, no início de abril, “o governo trabalhou com vigor nos últimos 100 dias e vai trabalhar ainda mais até o fim do mandato. Vamos entregar para os eleitores o Brasil que nos pediram nas urnas. Parabéns, PR @jairbolsonaro”. O post teve cerca de 13 mil curtidas e mais de 2 mil compartilhamentos.

Caso Queiroz. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificou uma movimentação financeira de R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017 na conta bancária de Fabrício Queiroz, época em que ele trabalhava como motorista do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Um dos depósitos feitos por Queiroz foi para a primeira-dama Michelle Bolsonaro, isso fez o escândalo respingar no pai e gerou uma crise para o governo Bolsonaro.

O Coaf, órgão do governo federal, também identificou transferência de ao menos dez funcionários do gabinete de Flávio para Queiroz, incluindo a filha e a mulher do PM aposentado. Todos foram intimados a depor no fim do ano passado e são alvo das investigações cíveis e criminais --incluindo mulher e a mãe do ex-PM Adriano da Nóbrega, foragido apontado como chefe da milícia de Rio das Pedras.

Os dois procedimentos são sigilosos, motivo pelo qual o Ministério Público não se pronuncia sobre seu andamento.

Referências:

1. Contas do Twitter: Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro
2. G1
3. The Intercept Brasil
4. Aos Fatos
5. Exame
6. Estadão
7. Folha de S.Paulo
8. BBC Brasil
9. Abraji
10. Mises Brasil
11. Poder 360
12. Veja

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