🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Abril de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Como a desinformação bolsonarista entrou em colisão com o anúncio do auxílio emergencial do governo

Por Tai Nalon

6 de abril de 2020, 15h05

Se o trabalho de quem checa informações durante a pandemia do novo coronavírus é especialmente meticuloso, a função de monitorar desinformação no WhatsApp é sisífica. No último mês, a quantidade de inscritos nas listas de transmissão do Aos Fatos cresceu 20%. Desde que a crise se instalou, no início de março, recebemos diariamente uma média de 300 mensagens com pedidos diversos de checagem. A demanda aumentou sete vezes em relação ao mês anterior, o que significa algo como 1.550 mensagens por semana.

Embora essas mensagens tragam frequentemente informações cuja checagem é necessária, um acontecimento anormal é a quantidade de pedidos de ajuda devido a um fenômeno não exatamente novo, mas preocupante: o vácuo de informação.

Desde que o auxílio emergencial do governo foi anunciado, há duas semanas, pessoas das mais variadas origens, com baixo grau de alfabetização midiática, viraram alvo de golpes digitais sob pretexto de se inscreverem para receber o benefício. Aos Fatos checou alguns deles (aqui, aqui e aqui) e, como resultado, recebeu uma avalanche de mensagens pelo WhatsApp de pessoas querendo saber o que fazer, então, uma vez que haviam caído no golpe. Também queriam saber como receber o benefício, já que o caminho não era aquele.

Uma onda benéfica de desmentidos da imprensa e do governo ajudou a conter os danos, demonstrando os benefícios de ter cautela ao receber mensagens pelo WhatsApp. Aos Fatos redistribuiu um manual do fim do ano passado sobre como não cair em golpes digitais. Porém, com a demora do governo em sancionar e divulgar instruções sobre o recebimento do auxílio, uma nova leva de golpes, demanda por checagem e pedidos de ajuda inundou nossos canais.

Quando o Ministério da Economia finalmente anunciou que o cadastro para recebimento do benefício seria feito por site e aplicativo, o estrago era patente. Desnorteado, quem procurava pelo auxílio passou a demandar do Aos Fatos checagem sobre a autenticidade do site do governo. Havia quem não soubesse o que mais deveria ser feito além de esperar e pedia mais informação.

Os repórteres do Aos Fatos fazem o que podem, mas ainda não têm acesso às informações de como o governo vai distribuir o benefício. Enquanto escrevia esta análise, ainda não havia notícia sobre todo o cronograma de pagamento. Há pouca informação sobre como devem agir os elegíveis que não constam do Cadastro Único. Os comunicados oficiais são herméticos e não explicam de forma didática que quem recebe Bolsa Família já é elegível para o benefício, embora não possa acumulá-los. O vácuo de informações gera, inevitavelmente, mais desinformação.

Fica evidente que a maneira com a qual o Palácio do Planalto decidiu estruturar sua estratégia de comunicação entrou em colisão com a necessidade de comunicar suas políticas emergenciais contra a crise. Ao apostar na poluição informacional e na boataria para estimular sua militância, governistas bolsonaristas também jogam com a insegurança de quem necessita de solidariedade e tem seu direito a informações confiáveis sonegado.


Esta análise foi publicada na sexta-feira (3), na newsletter premium do Aos Fatos Mais, programa de apoiadores do Aos Fatos. Junte-se a nós aqui com R$ 20 mensais e receba com exclusividade antes.

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