🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.
Com desinformação, campanha contra vacina obrigatória domina debate no Twitter
Com uso de desinformação e ataques à China, publicações que criticam a possibilidade de vacinação obrigatória contra a Covid-19 no Brasil dominam o debate sobre o tema no Twitter, mostra levantamento do Radar Aos Fatos. Entre 13 e 22 de outubro, mensagens com esse posicionamento geraram 66% do engajamento entre os posts mais populares sobre o assunto contra apenas 5% das mensagens a favor da obrigatoriedade. Publicações neutras ou que mencionam o assunto sem se posicionar claramente angariaram os outros 29% das interações.
O levantamento analisou um total de 500 posts, os 50 mais populares em cada dia do período investigado. No total, essas publicações geraram mais de 1,8 milhão de interações (retweets e curtidas).
O grupo contra a vacinação obrigatória foi o único que disseminou desinformação —foi responsável pelas 76 alegações enganosas encontradas pelo Radar na rede. Entre as publicações desinformativas mais recorrentes estão posts que promovem a cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra o coronavírus.
Também se destacam mensagens que distorcem como funciona o processo de aprovação de uma vacina ao afirmar, por exemplo, que a vacinação obrigatória seria implementada sem a comprovação de eficácia do medicamento.
Prevista na legislação brasileira, a possibilidade de tornar a vacina para Covid-19 obrigatória se tornou um dos principais pontos de discussão sobre a pandemia desde que o governador João Doria (PSDB-SP) anunciou, no dia 16 de outubro, que a medida seria aplicada em São Paulo caso a CoronaVac, vacina de origem chinesa testada no estado, se mostrasse eficaz e segura. A declaração deu início a um embate com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores, que são contra a ideia.
No Twitter, foram justamente apoiadores do presidente os principais responsáveis por disseminar desinformação no debate sobre a obrigatoriedade. Os cinco perfis que mais somaram interações com desinformação —totalizaram mais de 118 mil curtidas e retweets— são de apoiadores de Bolsonaro.
No exemplo abaixo, um deles sugere que a cloroquina deveria ser usada como tratamento de Covid-19.
'Vachina' e politização. Ataques à China, país de origem da vacina testada em São Paulo, foram frequentes entre os posts contrários à obrigatoriedade: estavam em 76 mensagens, de um total de 317 e geraram 272.325 mil interações (22,8% do engajamento de posts contra a vacina obrigatória).
Com frequência, esses comentários usavam termos depreciativos para se referir a CoronaVac, como “xing ling”, “made in China” e “vachina”. O fato de o primeiro caso de coronavírus ter sido registrado na China também foi usado como argumento para desacreditar estudos e pesquisas feitas em torno da produção de uma vacina e sua eficácia.
O levantamento do Radar mostra, ainda, que a política nacional também entrou nas discussões sobre a obrigatoriedade da imunização. Das 317 mensagens contrárias à medida, 135 (47%) criticavam algum político ou partido. O principal alvo foi Doria, com 92 menções, que geraram 565.388 interações.
Em seguida, aparecem o presidente do partido Novo, João Amoêdo; o ex-presidenciável Ciro Gomes e seu partido, o PDT; e o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP). Amoêdo e Kataguiri apoiaram publicamente a obrigatoriedade da vacinação. Já o PDT entrou com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo que a decisão sobre a medida fique a cargo dos estados e não do governo federal.
Antes do pico do debate, até a gestão Bolsonaro foi criticada pelo grupo depois que o governo anunciou que seria necessário fornecer o CPF para tomar a vacina. No total, 33 publicações sobre o tema geraram 9.555 interações.
Já as 32 postagens a favor da obrigatoriedade, como a que rendeu críticas a Amoedo, destacam a responsabilidade social e coletiva da vacinação, citam o número de mortes decorrentes da Covid-19 no país e campanhas de vacinação em massa que culminaram na extinção de outras doenças no passado. Outras, como a da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também criticam a posição de Bolsonaro.
Já publicações classificadas como neutras incluíram posts noticiosos e informativos ou em que o assunto era mencionado sem que uma posição clara fosse adotada, como no exemplo abaixo.
Metodologia. Para a produção desta análise foram coletados via API do Twitter, tweets entre os dias 13 e 22 de outubro que continham algum dos termos pesquisados e selecionados a seguir:
vacina, vascina, vacinas, vacinação, imunização, vacinando, vacinar, vacinaram, vacinou, vacinada, vacinadas, vacinado, vacinados, imunizado, agulhada, coronavac, anti-vacina, antivacina, antivac, obrigar, obrigatória, obrigatórias, obrigatoriedade, obrigados, obrigadas, compulsória, compulsórias, coação, coagir, coagidos, forçar, forçado, forçada, forçados, forçadas, a força, autoritarismo, autoritário, autoritária, autoritários, autoritárias, liberdade, liberdades, livre, ditadura, #VacinaObrigatóriaNão, #VachinaNão, vachina, vashina, não será obrigatória, sem comprovação, feita às pressas
Em seguida, foram selecionados as 50 postagens com maior interação (curtidas + retweets) de cada um dos dias, totalizando 500 tweets, e analisadas qualitativamente de acordo com a posicionamento em relação à obrigatoriedade das vacinas e o subtema abordado.