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Com desinformação, campanha contra vacina obrigatória domina debate no Twitter

Por Marina Gama Cubas, Bernardo Barbosa e João Barbosa

28 de outubro de 2020, 16h23

Com uso de desinformação e ataques à China, publicações que criticam a possibilidade de vacinação obrigatória contra a Covid-19 no Brasil dominam o debate sobre o tema no Twitter, mostra levantamento do Radar Aos Fatos. Entre 13 e 22 de outubro, mensagens com esse posicionamento geraram 66% do engajamento entre os posts mais populares sobre o assunto contra apenas 5% das mensagens a favor da obrigatoriedade. Publicações neutras ou que mencionam o assunto sem se posicionar claramente angariaram os outros 29% das interações.

O levantamento analisou um total de 500 posts, os 50 mais populares em cada dia do período investigado. No total, essas publicações geraram mais de 1,8 milhão de interações (retweets e curtidas).

O grupo contra a vacinação obrigatória foi o único que disseminou desinformação —foi responsável pelas 76 alegações enganosas encontradas pelo Radar na rede. Entre as publicações desinformativas mais recorrentes estão posts que promovem a cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra o coronavírus.

Também se destacam mensagens que distorcem como funciona o processo de aprovação de uma vacina ao afirmar, por exemplo, que a vacinação obrigatória seria implementada sem a comprovação de eficácia do medicamento.

Prevista na legislação brasileira, a possibilidade de tornar a vacina para Covid-19 obrigatória se tornou um dos principais pontos de discussão sobre a pandemia desde que o governador João Doria (PSDB-SP) anunciou, no dia 16 de outubro, que a medida seria aplicada em São Paulo caso a CoronaVac, vacina de origem chinesa testada no estado, se mostrasse eficaz e segura. A declaração deu início a um embate com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus apoiadores, que são contra a ideia.

No Twitter, foram justamente apoiadores do presidente os principais responsáveis por disseminar desinformação no debate sobre a obrigatoriedade. Os cinco perfis que mais somaram interações com desinformação —totalizaram mais de 118 mil curtidas e retweets— são de apoiadores de Bolsonaro.

No exemplo abaixo, um deles sugere que a cloroquina deveria ser usada como tratamento de Covid-19.

'Vachina' e politização. Ataques à China, país de origem da vacina testada em São Paulo, foram frequentes entre os posts contrários à obrigatoriedade: estavam em 76 mensagens, de um total de 317 e geraram 272.325 mil interações (22,8% do engajamento de posts contra a vacina obrigatória).

Com frequência, esses comentários usavam termos depreciativos para se referir a CoronaVac, como “xing ling”, “made in China” e “vachina”. O fato de o primeiro caso de coronavírus ter sido registrado na China também foi usado como argumento para desacreditar estudos e pesquisas feitas em torno da produção de uma vacina e sua eficácia.

O levantamento do Radar mostra, ainda, que a política nacional também entrou nas discussões sobre a obrigatoriedade da imunização. Das 317 mensagens contrárias à medida, 135 (47%) criticavam algum político ou partido. O principal alvo foi Doria, com 92 menções, que geraram 565.388 interações.

Em seguida, aparecem o presidente do partido Novo, João Amoêdo; o ex-presidenciável Ciro Gomes e seu partido, o PDT; e o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP). Amoêdo e Kataguiri apoiaram publicamente a obrigatoriedade da vacinação. Já o PDT entrou com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo que a decisão sobre a medida fique a cargo dos estados e não do governo federal.

Antes do pico do debate, até a gestão Bolsonaro foi criticada pelo grupo depois que o governo anunciou que seria necessário fornecer o CPF para tomar a vacina. No total, 33 publicações sobre o tema geraram 9.555 interações.

Já as 32 postagens a favor da obrigatoriedade, como a que rendeu críticas a Amoedo, destacam a responsabilidade social e coletiva da vacinação, citam o número de mortes decorrentes da Covid-19 no país e campanhas de vacinação em massa que culminaram na extinção de outras doenças no passado. Outras, como a da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também criticam a posição de Bolsonaro.

Já publicações classificadas como neutras incluíram posts noticiosos e informativos ou em que o assunto era mencionado sem que uma posição clara fosse adotada, como no exemplo abaixo.

Metodologia. Para a produção desta análise foram coletados via API do Twitter, tweets entre os dias 13 e 22 de outubro que continham algum dos termos pesquisados e selecionados a seguir:

vacina, vascina, vacinas, vacinação, imunização, vacinando, vacinar, vacinaram, vacinou, vacinada, vacinadas, vacinado, vacinados, imunizado, agulhada, coronavac, anti-vacina, antivacina, antivac, obrigar, obrigatória, obrigatórias, obrigatoriedade, obrigados, obrigadas, compulsória, compulsórias, coação, coagir, coagidos, forçar, forçado, forçada, forçados, forçadas, a força, autoritarismo, autoritário, autoritária, autoritários, autoritárias, liberdade, liberdades, livre, ditadura, #VacinaObrigatóriaNão, #VachinaNão, vachina, vashina, não será obrigatória, sem comprovação, feita às pressas

Em seguida, foram selecionados as 50 postagens com maior interação (curtidas + retweets) de cada um dos dias, totalizando 500 tweets, e analisadas qualitativamente de acordo com a posicionamento em relação à obrigatoriedade das vacinas e o subtema abordado.

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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