Não é verdade que a CNN noticiou na última segunda-feira (15) que imagens inéditas dos atos golpistas de 8 de Janeiro foram entregues ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Além de a emissora não ter divulgado nenhum conteúdo do tipo, o próprio Tagliaferro desmentiu as alegações em suas redes.
Publicações com o conteúdo falso acumulavam 5.000 compartilhamentos no X, 2.500 compartilhamentos no Facebook e mil curtidas no Instagram até a tarde desta quarta-feira (17).
A CNN informou nesta segunda-feira, 15 de setembro, que as imagens dos atos de 8 de Janeiro — que o então ministro da Justiça, Flávio Dino, havia declarado estarem desaparecidas — chegaram ao TSE. O material está sob a guarda de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes

Publicações nas redes mentem ao alegar que a CNN teria noticiado na última segunda-feira (15) que Eduardo Tagliaferro teria entregue imagens inéditas do 8 de Janeiro ao TSE. Além de a emissora não ter veiculado nenhum conteúdo similar, o próprio Tagliaferro desmentiu os boatos em publicação feita em seu Instagram:
Tô fazendo esse vídeo aqui pra reforçar que eu não tenho as imagens de 8 de janeiro. Trata-se de uma fake news. (..,) As imagens de 8 de janeiro jamais estiveram em minhas mãos.
O rumor surgiu a partir de um vídeo divulgado no YouTube como se fosse uma notícia da CNN Brasil. Nele, o apresentador exibe o trecho de uma entrevista de 8 de agosto em que o senador Izalci Lucas (PL-DF) afirma à Band News que um ex-assessor de Moraes teria prometido entregar imagens inéditas dos atos golpistas.
Pouco depois, em 12 de agosto, Tagliaferro negou as alegações em seu perfil no Instagram. O ex-assessor de Moraes também deu uma entrevista a um blog pró-Bolsonaro dizendo que “não sabe de onde ele tirou isso”.
As peças de desinformação fazem referência às imagens do circuito interno do prédio que abriga o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que não puderam ser fornecidas aos investigadores por terem sido apagadas pela empresa que prestava serviços de monitoramento. De acordo com o então ministro da Justiça, Flávio Dino, o acordo com a companhia não previa o armazenamento por longos períodos.
Mentiras recorrentes. Algumas peças de desinformação também incluem gravações dos atos golpistas como se fossem cenas inéditas. Na realidade, essas imagens circularam nas redes já no mesmo dia ou nos dias seguintes à depredação e vêm sendo usadas repetidamente em boatos.
É o caso da cena em que um homem quebra um relógio histórico, explorada em narrativas falsas que tentaram associá-lo ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Essas mesmas gravações também têm sido mobilizadas para sustentar a tese falsa de que “infiltrados de esquerda” seriam responsáveis pela violência. Mas investigações da Polícia Federal, denúncias do Ministério Público Federal e decisões judiciais confirmam que a depredação foi praticada por apoiadores do ex-presidente inconformados com o resultado eleitoral.
O caminho da apuração
A reportagem realizou buscas no site da CNN Brasil e em seus perfis nas redes e não encontrou qualquer publicação sobre a suposta entrega de imagens do 8 de Janeiro ao TSE. Também foi feita pesquisa em veículos de imprensa que cobrem o Judiciário e a política nacional, sem que houvesse menção ao episódio.
Além disso, a reportagem analisou o vídeo que circula nas redes, verificando que ele contém trechos editados de uma entrevista concedida em agosto pelo senador Izalci Lucas à Band News. A equipe também consultou as redes sociais de Eduardo Tagliaferro, onde ele nega ter tido acesso às imagens, e cruzou as informações com registros anteriores de verificações sobre o mesmo tema.




