🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Março de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Cloroquina só foi liberada para pacientes internados com Covid-19; posts omitem informações

Por Luiz Fernando Menezes

31 de março de 2020, 13h24

Publicações que circulam nas redes sociais distorcem fatos ao anunciar que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) teria liberado o uso de cloroquina, inclusive com a posologia indicada para o tratamento da Covid-19 (veja aqui). Na verdade, a permissão para o uso da droga partiu do Ministério da Saúde e está restrita somente a pacientes hospitalizados em estado grave com a doença causada pelo novo coronavírus. O documento da pasta ressalta ainda que a automedicação é contraindicada e que não há provas da eficácia da substância contra a infecção, “apesar de estudos promissores”.

Postagens do tipo feitas no Facebook por perfis pessoais, páginas e sites, como o Zap Bolsonaro, acumulam 57 mil compartilhamentos até a tarde desta terça-feira (31) e foram classificadas como DISTORCIDAS por veicularem uma informação factualmente correta, mas sem detalhes essenciais para a correta compreensão da notícia (saiba como funciona).


DISTORCIDO

Liberação da cloroquina / hidroxicloroquina pela Anvisa, já com posologia para tratamento da Covid-19.

Diferentemente do que sugerem publicações nas redes sociais, a liberação da cloroquina para tratamento da Covid-19 não ocorreu de maneira irrestrita. Tampouco o aval partiu da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Na verdade, uma nota informativa do Ministério da Saúde publicada em 27 de março autorizou o uso do medicamento e indicou sua posologia apenas para pacientes hospitalizados em estado grave. Ou seja, a norma da pasta não permite que a droga seja vendida em farmácias ou prescrita por médicos para casos qualquer tratamento contra a doença decorrente do novo coronavírus.

Na nota informativa, o Ministério da Saúde ressalta ainda que é contraindicada a automedicação com cloroquina ou hidroxicloroquina e que os efeitos adversos do uso das drogas incluem retinopatia (lesões na retina ocular) e distúrbios cardiovasculares. O órgão também destaca no documento que a liberação pode ser modificada a qualquer momento, em razão de novas evidências científicas:

“A presente medida considera que não existe outro tratamento específico eficaz disponível até o momento. Importante ressaltar que há dezenas de estudos clínicos nacionais e internacionais em andamento, avaliando a eficácia e segurança de cloroquina/hidroxicloroquina para infecção por COVID-19, bem como outros medicamentos, e, portanto, essa medida poderá ser modificada a qualquer momento, a depender de novas evidências científicas”.

Segundo o pesquisador Gildo Girotto, do Instituto de Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a nota do ministério permite que a junta médica opte pelo uso em pacientes hospitalizados com formas graves de Covid-19 e casos críticos e destaca que o uso não foi liberado por pessoas que manifestam sintomas, mas não estão internadas. Tampouco médicos podem prescrever as drogas nesse último caso.

Girotto aponta ainda que, para a cloroquina ser liberada para o tratamento geral, o medicamento “deve ter sua eficiência comprovada pelos testes e os testes devem apontar que não geram riscos à saúde”. No presente momento, apesar de estudos promissores, ainda não há provas de que a substância ajuda, de fato, na cura da Covid-19, como reconhece o próprio Ministério da Saúde.

Já a Anvisa, apontada nas postagens checadas como autora do documento que libera a substância nos hospitais, informou ao Aos Fatos que apenas autorizou o uso da cloroquina pelo Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Referências:

1. Ministério da Saúde (Fontes 1 e 2)
2. Diário Oficial da União


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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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