Cinco gráficos para entender a desinformação sobre Covid-19 no Brasil em 2021

Compartilhe

Ataques à CPI da Covid-19 e a defesa de medicamentos sem eficácia contra a doença predominaram na desinformação surgida sobre a pandemia em 2021, de acordo com dados captados pelo monitoramento do Radar Aos Fatos ao longo deste ano. De janeiro a dezembro, esses dois temas foram os mais recorrentes entre os conteúdos de baixa qualidade a respeito do novo coronavírus detectados pelo sistema.

Ao todo, o monitoramento coletou 620.545 publicações potencialmente enganosas relacionadas à pandemia entre 1º de janeiro e 26 de dezembro. Desse total, 126.779 continham termos vinculados à CPI (20%) e 122.368 mencionaram drogas que não funcionam para conter ou prevenir a infecção, o dito “tratamento precoce” (20%).

Entre os demais assuntos mapeados pela ferramenta, destacaram-se mensagens xenofóbicas direcionadas à China (12%), teorias conspiratórias sobre a pandemia (10%) — como a de que o vírus seria uma arma biológica criada para reduzir a população mundial —, publicações sobre vacinas (10%) e ataques a políticos (10%).

O gráfico abaixo mostra o volume de conteúdos detectados pelo Radar nos assuntos mais frequentes vinculados ao coronavírus. Cada postagem pode ter sido classificada em mais de uma categoria.

Lançado em agosto de 2020, o monitoramento do Radar Aos Fatos detecta automaticamente postagens de baixa qualidade — como, por exemplo, que contenham expressões sensacionalistas e termos ligados a campanhas enganosas — em cinco redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp e YouTube) e na web.

O volume de conteúdos de baixa qualidade coletados e classificados varia de acordo com a disponibilidade de dados em cada plataforma. Em 2021, o Twitter teve o maior número de mensagens sobre Covid-19 coletadas (526.058), seguido de WhatsApp (34.581), Facebook (20.553), YouTube (14.856), textos em sites (13.779) e Instagram (10.718).

Nem todo o conteúdo coletado pelo sistema é necessariamente falso, mas reúne características e padrões de linguagem que costumam ser indicativos de desinformação. Além de coronavírus, o algoritmo também monitora atualmente os temas democracia e Judiciário. Entenda aqui a metodologia.

DESINFORMAÇÃO SEGUE CALENDÁRIO POLÍTICO

Os dados mapeados pelo Radar neste ano sinalizam que o ritmo de desinformação nas redes acompanhou o calendário político do país. Postagens de baixa qualidade sobre a CPI da Covid-19 e as vacinas, por exemplo, tiveram picos nas plataformas monitoradas em períodos marcados por eventos simbólicos.

Instalada em abril no Senado, a CPI registrou ápice de conteúdos potencialmente enganosos em junho, como mostra o gráfico abaixo. O mês coincide com as suspeitas de irregularidades em torno da compra da vacina Covaxin e com depoimentos de aliados do governo federal à comissão, como a médica Nise Yamaguchi e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) — que mobilizaram a base bolsonarista nas redes sociais.

Um exemplo está na mensagem exibida a seguir, colhida pelo Radar em grupos de discussão política no WhatsApp. Em resposta às críticas do senador Otto Alencar (PSD-BA) a defensores de medicamentos sem comprovação científica contra a Covid-19 na comissão, a postagem afirmava que a hidroxicloroquina e a ivermectina são eficazes para prevenir a doença, o que é falso.

Já publicações potencialmente desinformativas sobre os imunizantes tiveram dois picos, no início e no final do ano. Em janeiro, no início da vacinação no Brasil, imperaram mensagens de baixa qualidade que lançavam desconfiança sobre a CoronaVac, imunizante do Instituto Butantan que foi mais aplicado nos primeiros meses da campanha.

Em dezembro, o volume de conteúdos de baixa qualidade foi intensificado pela postura contrária do presidente Jair Bolsonaro (PL) à liberação das doses da Pfizer para crianças de cinco a 11 anos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Um tweet coletado pela ferramenta em janeiro, por exemplo, alega falsamente que as “vachinas” — expressão usada por bolsonaristas para se referirem à CoronaVac — “não funcionam”. Na realidade, o imunizante tem taxa de eficácia global de 50,38%, índice que representa a capacidade de proteção da vacina contra todas as ocorrências da Covid-19, de extremamente leve à grave.

CLOROQUINA FOI A DROGA MAIS CITADA

No caso das postagens sobre drogas sem eficácia comprovada, o pico coincidiu com um dos momentos mais agudos da crise sanitária, em março, quando o país registrava recordes de óbitos por Covid-19.

Naquele momento, Bolsonaro e seus aliados foram os principais disseminadores de desinformação sobre o chamado “tratamento precoce”, como identificou na época o Radar.

Entre os conteúdos sobre medicamentos ineficazes ou sem comprovação científica contra a Covid-19 captados pelo monitoramento, a cloroquina e a hidroxicloroquina foram as drogas que mais movimentaram as redes sociais. Promovidas pelo bolsonarismo ao longo de toda a pandemia, elas apareceram em 58.805 postagens de baixa qualidade em 2021.

Em seguida, os remédios identificados com mais frequência nas mensagens desinformativas foram ivermectina (27.419), azitromicina (4.213) e zinco (1.920). Além das menções a drogas específicas, também foi encontrada uma quantidade significativa de referências a expressões genéricas como “tratamento precoce” e “kit covid”, presentes em 41.522 conteúdos potencialmente enganosos.

Referências

  1. Aos Fatos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12)
  2. Senado
  3. G1
  4. UOL
  5. Folha de S.Paulo

Compartilhe

Leia também

Como não errar ao investigar dados sobre atividade parlamentar

Como não errar ao investigar dados sobre atividade parlamentar

Imigrantes nos Estados Unidos recebem anúncios de falsas vagas de emprego no Instagram

Imigrantes nos Estados Unidos recebem anúncios de falsas vagas de emprego no Instagram

Como verificar seu perfil no Bluesky com a configuração de domínios personalizados

Como verificar seu perfil no Bluesky com a configuração de domínios personalizados