No Inteligência Ltda., Tabata Amaral desinforma sobre operação contra milícia na Cracolândia

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Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda. na noite da última quinta-feira (26), a deputada federal e candidata à Prefeitura de São Paulo Tabata Amaral (PSB) enganou ao dizer que a atual gestão, do candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB), “não fez nada” para combater uma milícia composta por agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) na Cracolândia.

Na verdade, a prefeitura tomou ações tanto antes como após o Gaeco (Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado) deflagrar a Operação Salus et Dignitas. “Durante a operação, a prefeitura auxiliou na lacração de imóveis e tem colaborado com as investigações”, informou o Ministério Público de São Paulo em nota ao Aos Fatos. Segundo o órgão, a investigação “não aponta evidências de omissão da Prefeitura de São Paulo, até o momento”.

A candidata do PSB também errou dados sobre educação, uma de suas bandeiras de campanha. Ao repetir que a cidade de São Paulo caiu 19 posições no ranking de alfabetização, ela se baseou em pesquisas que usam metodologias diferentes — o que torna a comparação enganosa. Tabata Amaral inflou ainda o número de crianças com deficiência matriculadas nas escolas municipais.

Confira o que checamos:

  1. É FALSO que a Prefeitura de São Paulo “não fez nada” para combater a existência de uma milícia na Cracolândia formada por guardas civis e que não colabora com a investigação;
  2. Tabata Amaral não foi a candidata mais buscada no Google durante o debate promovido pelo Grupo Flow. Ela passou a maior parte do programa em segundo, atrás de Pablo Marçal, e foi ultrapassada por Ricardo Nunes no final;
  3. Há 25.749 alunos com alguma deficiência, transtorno do espectro autista ou superdotação matriculados nas escolas municipais de São Paulo — não 40 mil, nem 43 mil, ambos números errados citados pela candidata;
  4. Com os dados disponíveis, não é possível concluir que a capital paulista foi a “que mais caiu na alfabetização”, como repetiu Amaral;
  5. Apesar de ainda não estar em pleno funcionamento, o programa de câmeras de vigilância Smart Sampa, implementado pela gestão Nunes, auxiliou em prisões e na identificação de pessoas desaparecidas, ao contrário do que sugere a candidata do PSB;
  6. Nos cenários de segundo turno da pesquisa AtlasIntel, Tabata Amaral aparece à frente de Nunes e Marçal para além da margem de erro. Contra Boulos, ela aparece numericamente à frente, mas dentro da margem de erro, em empate técnico;
  7. É VERDADEIRO que o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, é o maior doador da campanha de Ricardo Nunes, conforme dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

“A prefeitura sabia o tempo todo [sobre guardas civis investigados por integrar uma milícia na Cracolândia] e não fez nada. Sabia de tudo. É uma operação e aí ela dá uma declaração, a responsável por essa operação que está acontecendo na Cracolândia, Salus et Dignitas. Tem uma declaração oficial da responsável que ela fala: ‘A prefeitura sabia e se omitiu’. Por isso que a prefeitura não vai participar dessa operação.”

É FALSO que a Prefeitura de São Paulo “não fez nada” para combater a existência de uma milícia na Cracolândia formada por agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e que não colabora com a investigação.

A gestão de Ricardo Nunes tomou medidas em relação ao caso tanto antes como após o Gaeco (Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público de São Paulo, deflagrar a Operação Salus et Dignitas.

Em nota ao Aos Fatos, o Ministério Público de São Paulo informou que “não aponta evidências de omissão da Prefeitura de São Paulo, até o momento”. Segundo os promotores, “durante a operação, a prefeitura auxiliou na lacração de imóveis e tem colaborado com as investigações”.

Dos 26 agentes da GCM investigados, quatro estão presos e já foram expulsos da corporação. Desses, três sofreram as sanções na gestão de Nunes.

  • Rubens Alexandre Bezerra havia sido expulso da GCM em 2019, no governo de Bruno Covas (PSDB);
  • Também preso na operação, Elisson de Assis havia sido afastado em junho de 2023, sob Nunes, por suspeita de cobrar taxas de comerciantes;
  • Outros dois guardas civis foram afastados e tiveram processo de expulsão iniciado após a operação.

Os demais 22 agentes que também são alvo da investigação foram afastados do trabalho nas ruas e ficarão em atividades administrativas enquanto durarem as investigações, segundo a prefeitura, que entrou com um pedido no Judiciário para atuar como assistente de acusação contra os investigados.

Em outro momento da entrevista, a candidata afirmou que os agentes investigados não foram afastados da função pela prefeitura — o que é impreciso, conforme explicado acima. “Toda vez que a gente deixa uma laranja podre ali no cesto, a gente mancha a reputação de todo mundo”, disse Tabata Amaral.

“Essa operação que eu falava da Cracolândia, ela denunciou guardas civis metropolitanos que estavam beneficiando o esquema da Cracolândia. Eles são a exceção da exceção da exceção. Só que, quando a prefeitura decide não afastá-los, eles mancham a reputação de toda a GCM.”

A candidata errou ainda ao atribuir a frase “a prefeitura sabia e se omitiu” a uma pessoa ligada à investigação. A candidata faz referência a uma mulher, sem citar nomes.

Na verdade, um dos promotores do caso, Juliano Atoji, disse em entrevista à CNN Brasil que “houve, sem dúvida alguma, conivência por parte do poder público, ou omissão”.

Em seguida, ele ponderou também que “não se pode, neste momento, afirmar se houve dolo omissivo [por parte da prefeitura] ou uma simples omissão de fiscalização desses guardas civis”, posicionamento que foi reiterado pelo Ministério Público de São Paulo na nota enviada ao Aos Fatos.

Outro lado. A campanha de Tabata Amaral diz que a afirmação dela é baseada em declarações do promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco, à Folha de S.Paulo, que disse que a prefeitura não integrou as investigações. “Não dá para chamar [para a operação] quem se omitiu por décadas”, afirmou Gakiya ao jornal — sem, no entanto, personalizar a crítica ao atual prefeito, como deu a entender a candidata do PSB.

“O debate todo [do Grupo Flow], a gente foi campeão em alta no Google.”

Não é verdade que Tabata Amaral liderou as pesquisas no Google durante o debate realizado pelo Grupo Flow, na última segunda-feira (23), nem que teve o maior crescimento entre os candidatos.

Segundo os dados públicos do Google Trends, a candidata ocupou o segundo lugar nas buscas das 19h — horário de início do programa — às 22h, atrás de Pablo Marçal (PRTB). Às 23h, pico de interesse segundo o Google, ela caiu para a terceira posição, sendo ultrapassada por Ricardo Nunes (MDB).

O aumento das buscas pelo nome do prefeito coincide com o momento do final do debate, em que ele foi alvo de ataques por Marçal — os dados também apresentam um pico de buscas pelo ex-coach neste momento. As ofensas culminaram na expulsão dele e no episódio de agressão de seu cinegrafista contra o marqueteiro do candidato à reeleição.

Outro lado. A fim de justificar a frase da candidata, a assessoria afirmou que “Tabata foi quem mais despertou interesse e mais segurou esse interesse” e apresentou dados de picos de buscas por candidato antes da expulsão de Marçal e do episódio do soco.

Segundo a análise apresentada pela equipe de Tabata Amaral, a candidata se baseia nos seguintes números para afirmar que foi campeã “de alta no Google”:

Tabata Amaral: 11 minutos totais

  • 19h47 a 19h50 (4 minutos)
  • 21h58 a 22h01 (4 minutos)
  • 20h59 a 21h01 (3 minutos)

Guilherme Boulos: 9 minutos totais

  • 19h52 a 19h58 (7 minutos)
  • 22h59 a 23h00 (2 minutos)

Marina Helena: 8 minutos totais

  • 22h13 a 22h16 (4 minutos)
  • 20h27 a 20h28 (2 minutos)
  • 20h33 a 20h34 (2 minutos)

Pablo Marçal: 6 minutos totais

  • 20h49 a 20h50 (2 minutos)
  • 21h13 a 21h14 (2 minutos)
  • 21h36 a 21h37 (2 minutos)

José Luiz Datena: 4 minutos totais

  • 22h43 a 22h44 (2 minutos)
  • 22h56 a 22h57 (2 minutos)

Ricardo Nunes: não houve blocos com mais de 1 minuto consecutivo.

“Na rede municipal são 43 mil [alunos com deficiência], se eu não me engano.”

Tabata Amaral se enganou ao citar o número de estudantes com deficiência matriculados na rede pública da capital paulista.

Segundo os microdados do Censo Escolar de 2023, há 25.749 alunos com alguma deficiência, transtorno do espectro autista ou superdotação matriculados nas escolas municipais de São Paulo.

A maior parte desses estudantes (24.968) está em classes comuns da rede de ensino, e os demais (781) em classes especiais.

Outro lado. A campanha da candidata não comentou.

“São Paulo foi a capital brasileira que mais caiu na alfabetização. Com Bruno Covas a gente tava na posição 2, com ele [Nunes] a gente caiu 19 posições.”

A candidata repete uma fala imprecisa que já havia dito no debate promovido pelo Grupo Flow, na segunda-feira (23). Ela compara dois rankings nacionais de alfabetização que usam dados de 2021 — último ano da gestão de Bruno Covas (PSDB) — e de 2023, mas que aplicam metodologias distintas e não podem ser comparados de modo direto.

De acordo com a pesquisa Alfabetiza Brasil, baseada nos dados do Saeb 2021, 39,35% das crianças do segundo ano na cidade de São Paulo estavam alfabetizadas. Mesmo baixa, a taxa colocava a cidade em segundo lugar no ranking das 26 capitais do país.

O indicador Criança Alfabetizada, lançado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) em 2024, registrou uma taxa parecida, de 37,9% de crianças alfabetizadas em São Paulo em 2023. Esse índice colocou a cidade em 21º lugar no ranking entre 23 capitais — o levantamento não inclui dados de Boa Vista, Florianópolis e Rio Branco.

A diferença de posições se explica pela diferença entre as metodologias aplicadas em cada uma das pesquisas. Enquanto a Alfabetiza Brasil estabeleceu como critério para alfabetização uma nota de 743 pontos na escala Saeb, o indicador Criança Alfabetizada se baseia em avaliações realizadas pelos estados, nas quais cada um aplicou sua própria prova de alfabetização.

Outro lado. A assessoria da candidata afirma que, apesar das ponderações, os indicadores já foram citados em conjunto em um documento do Inep — que sinaliza que os dados de um indicador se baseiam no Saeb e os do outro, em sistemas estaduais de avaliação — e pela imprensa.

A assessoria também citou dados do Ideb que comprovariam uma “piora significativa na qualidade da educação paulistana”. E opinou que “não classificar a afirmação da candidata como verdadeira nos parece, em larga medida, uma injustiça”.

“O Nunes colocou as câmeras na cidade e não tem um trabalho feito com essas câmeras.”

A gestão Nunes inaugurou em julho o centro de monitoramento do programa Smart Sampa, que prevê a instalação de 20 mil câmeras de monitoramento com tecnologia de reconhecimento facial até o fim do ano. Dados da Prefeitura de São Paulo mostram que, até agosto, os aparelhos viabilizaram a prisão em flagrante de 159 pessoas.

Além disso, por meio de integração ao banco de dados da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, sete pessoas desaparecidas foram encontradas com o uso das câmeras.

No entanto, a maior parte das ações ocorreu de uma maneira mais analógica: por meio das câmeras, um agente pôde avistar um determinado crime e, a partir das imagens, acionar uma viatura da guarda municipal.

Para o pleno funcionamento do sistema, ainda estão pendentes a assinatura de convênio com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que possibilita a integração da central de monitoramento aos cadastros da instituição, e parcerias com outras instituições, como a Polícia Militar e Civil.

Outro lado. A campanha da candidata não comentou.

“Eu sou a única candidata, entre homens e mulheres, a única que ganha de todo mundo no segundo turno. Peguem a última Atlas, eu ganho com margem do Marçal, do Nunes e do Boulos.”

A última pesquisa AtlasIntel, divulgada no dia 23 de setembro e citada pela candidata, testou seis cenários de segundo turno. Nas alternativas com Tabata Amaral, ela ganharia de Nunes e Marçal.

Ela também aparece numericamente à frente de Boulos — mas dentro da margem de erro de dois pontos percentuais, o que representa um empate técnico. Por isso, a declaração foi classificada como imprecisa.

Segundo o levantamento, num eventual segundo turno:

  • Guilherme Boulos está empatado com Nunes: 41,7% x 39,5%;
  • Boulos venceria Marçal: 44,4% x 38,5%;
  • Nunes venceria Marçal: 47,5% x 28%;
  • Tabata está empatada com Boulos: 33,2% x 31,5%;
  • Tabata venceria Nunes: 46,8% x 35,2%;
  • E, por fim, Tabata venceria Marçal: 48,8% x 36,9%.

As pesquisas do Datafolha e da Quaest Consultoria testam apenas três cenários de segundo turno, que não incluem Tabata Amaral — Nunes e Boulos; Nunes e Marçal; e Boulos e Marçal.

Outro lado. A campanha da candidata não comentou.

“O Bolsonaro é o maior financiador do Nunes. O partido do Bolsonaro botou R$ 15 milhões na campanha do Nunes.”

De acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o maior doador da campanha de Nunes é a direção nacional do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, com R$ 17 milhões em contribuições. Em segundo lugar está a direção nacional do MDB, com R$ 15 milhões.


ATUALIZAÇÃO: este texto foi atualizado às 11h15 de 28.set.2024 para incluir posicionamentos enviados pela campanha de Tabata Amaral. O texto foi atualizado novamente às 11h37 para incluir a análise de dados do Google feita pela equipe da candidata.

O caminho da apuração

Com auxílio da ferramenta de inteligência artificial Escriba, Aos Fatos transcreveu a íntegra da entrevista da candidata Tabata Amaral. As declarações checáveis foram divididas entre os repórteres, e a equipe verificou as afirmações a partir de bases de dados públicas, documentos, pesquisas e outras verificações.

A assessoria da candidata foi procurada para que pudesse comentar as checagens.

Referências

  1. Ministério Público de São Paulo
  2. O Globo (1, 2 e 3)
  3. Folha de S.Paulo (1, 2, 3 e 4)
  4. CNN Brasil (1 e 2)
  5. Google Trends
  6. Governo federal (1, 2 e 3)
  7. Aos Fatos
  8. Veja
  9. UOL
  10. Quaest Consultoria
  11. TSE
  12. Inep
  13. O Estado de S. Paulo

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