No Inteligência Ltda., Nunes desinforma sobre Cracolândia e educação

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Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda., na noite da última sexta-feira (20), o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), distorceu dados sobre a Cracolândia ao alegar que o total de dependentes químicos caiu — quando, na verdade, não é possível fazer comparações com números de gestões anteriores devido a diferenças de metodologia.

O prefeito também voltou a desinformar sobre a evasão escolar na capital paulista e tratou o tema como se houvesse um indicador único para avaliá-lo. No entanto, existem estatísticas distintas para os ensinos fundamental e médio.

Uma nova ocorrência no discurso de Nunes foi a desinformação sobre o PL 2.622/2024 — que, segundo o prefeito, seria “um projeto de lei do PSOL (…) para poder tirar da cadeia 42 mil pessoas que são usuários e que transportam e vendem drogas”. Durante a semana, o tema viralizou nas redes com peças desinformativas.

Na verdade, o projeto busca anistiar pessoas presas por comprar, portar ou transportar para uso próprio até 40 gramas ou seis plantas de maconha — a mesma quantidade definida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como limite para diferenciar usuários e traficantes.

Confira, a seguir, um resumo do que checamos:

  1. É FALSO que números mostram uma queda no total de dependentes químicos na Cracolândia. As pesquisas disponíveis usam metodologias distintas, que impedem comparação;
  2. Também não é verdade que a taxa de evasão escolar na cidade de São Paulo é de 0,7%. Os dados mais recentes do Inep se referem a 2021 e indicam que, na capital, taxa foi de 2,8% no ensino médio e 0,9% no ensino fundamental;
  3. Nunes engana ao alegar que o Centro TEA (Centro Municipal para Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo), equipamento que está sendo construído pela prefeitura, será o primeiro do tipo na América Latina. Há instalações similares em outras cidades brasileiras;
  4. É FALSO que projeto de lei do PSOL busca tirar 42 mil traficantes da cadeia. O projeto diz respeito a anistiar pessoas presas com quantidades de maconha definidas pelo STF para diferenciar usuários de traficantes;
  5. O prefeito inflou dados ao dizer que inaugurou 19 UPAs, pois três delas foram entregues em outras gestões;
  6. Nunes também exagerou ao afirmar que sua rejeição caiu e a aprovação de seu governo aumentou. As principais pesquisas feitas durante o período eleitoral, indicam oscilações dentro da margem de erro, com tendência de estabilidade;
  7. O prefeito também foi impreciso ao afirmar que nenhuma capital no mundo vacinou tanto quanto São Paulo, pois outras cidades mostraram índices de vacinação melhores que os paulistanos;
  8. O sistema Smart Sampa, para licitação de câmeras de reconhecimento facial, não foi alvo de ações apenas do PSOL, mas também da Defensoria Pública e de organizações da sociedade civil;
  9. É VERDADEIRO que, durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na prefeitura, o número de crianças aguardando vaga em creches se aproximou de 150 mil;
  10. É VERDADEIRO que a gestão de Nunes aumentou em 2.000 agentes o efetivo da Guarda Civil Metropolitana;
  11. É VERDADEIRO que, em 2023, a cidade de São Paulo registrou a menor taxa de homicídios dolosos desde o início do levantamento, em 2001.

“Deixa eu te falar uma coisa da Cracolândia. Eram 4.000 [usuários de drogas]. Hoje são 900.”

A declaração do candidato à reeleição é FALSA por dois motivos:

  • Não há registros de que o fluxo da Cracolândia tenha chegado a 4.000 usuários;
  • Alegações sobre o aumento ou a redução no fluxo de usuários na Cracolândia ao longo do tempo não são verificáveis, devido aos problemas metodológicos da contagem oficial da prefeitura e à ausência de levantamentos sistemáticos que permitam comparações.

“Ao longo desses 30 anos de existência da Cracolândia, não foram feitas pesquisas longitudinais, de forma ininterrupta, seguindo a mesma metodologia”, explicou ao Aos Fatos o pesquisador Aluízio Marino, do LabCidade da USP.

“O que a gente tem são pesquisas dispersas, com metodologias diferentes, em tempos diferentes. E muitas dessas pesquisas também são encomendadas pela própria gestão da vez — são pouquíssimo confiáveis.”

Atualmente, a prefeitura monitora o fluxo da Cracolândia por meio do Dronepol, programa lançado em 2017, na gestão João Doria. O projeto divulga dados diários e relatórios com médias por período.

Há, no entanto, três problemas com as estimativas feitas pelo Dronepol:

  • Elas são feitas apenas nos períodos diurno (10h às 11h) e vespertino (15h e 17h), e não contabilizam dados do período noturno;
  • Como as imagens são capturadas por drones, usuários ocultos pela vegetação ou por barracas não são contabilizados, o que pode levar à subnotificação;
  • E só são consideradas aglomerações com mais de 30 usuários, o que exclui do levantamento concentrações espalhadas pela cidade que são frequentadas por um fluxo menor de pessoas.

Em nota ao Aos Fatos, a prefeitura afirmou que, apesar de não divulgar esses números, ela também realiza contabilizações noturnas durante as operações da GCM (Guarda Civil Metropolitana) de 15 em 15 dias.

Questionada sobre a metodologia, a gestão afirmou que a contagem é “feita de forma manual, um a um, por ocasião do processo de identificação das pessoas”. Ainda de acordo com a prefeitura, esses dados não são divulgados no site do Dronepol pois não são realizados com o mesmo método do programa.

Foto mostra usuários de drogas nos arredores da Praça da Sé em 2020
Concentração de usuários de drogas existe desde a década de 1990 e mudou de lugar após operações de dispersão (Editorial Jornalístico e Conteúdo Online)

Antes do Dronepol, a contabilização do fluxo da Cracolândia era feita esporadicamente pela prefeitura e por pesquisadores sem vínculo com a gestão municipal:

  • A gestão de Fernando Haddad (PT) relatou em 2015 uma diminuição de 80% no fluxo diário de usuários na região — os números teriam caído de 1.500 para 300. A metodologia, no entanto, não foi tornada pública;
  • O governo do estado e a PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) também estimaram a população da Cracolândia em 2016 e 2017. Segundo o levantamento, a média de pessoas na região cresceu de 709 em 2016 para 1.861 em 2017;
  • Já a Uniad (Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas) realizou levantamentos entre 2016 e 2019. A metodologia, que contabilizava o total de pessoas presentes em quatro turnos — entre 9h30 e 17h30 —, estimou um fluxo médio de 709 pessoas em maio de 2016, 1.861 em maio de 2017, 414 em junho de 2017, após uma operação policial, e 1.680 em outubro de 2019;
  • Por fim, o LabCidade (Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade) da USP produziu um levantamento em maio de 2022 por meio de acompanhamento direto na região. Os pesquisadores estimaram um fluxo entre 1.000 e 2.000 pessoas, espalhadas por diversos pontos da região central.

Outro lado. Procurada, a campanha de Nunes afirmou que “o número de 4.000 usuários nas cenas de uso aberta foi apurado no início de 2017, no contexto da criação do Programa Redenção (o mais longevo programa de atuação na Cracolândia)”, sem, no entanto, citar o banco de dados ou a fonte da informação.

A assessoria do candidato à reeleição também enviou link para uma reportagem da Folha de S.Paulo, em que não consta a informação sobre 4.000 usuários na Cracolândia.

“Diminuímos a evasão escolar. No Brasil, é 5,5%. Aqui em São Paulo, a gente reduziu mais ainda. Eu recebi semana passada o resultado de 0,7%. Ano retrasado era 0,95%.”

A alegação, já repetida por Nunes, é FALSA, pois:

  • Não há dados oficiais recentes sobre evasão escolar;
  • O prefeito fala de evasão como se houvesse uma taxa única, mas existem indicadores distintos para alunos dos ensinos fundamental e médio.

Os últimos dados disponíveis sobre evasão escolar, de acordo com o Inep (Instituto Nacional de Pesquisa e Estudos Educacionais Anísio Teixeira), se referem a 2021: em todo o Brasil, a evasão era de 5,9% no ensino médio e 2,3% no ensino fundamental. Na cidade de São Paulo, no mesmo ano (o primeiro de Nunes à frente da prefeitura), a taxa foi de 2,8% no ensino médio e 0,9% no ensino fundamental.

Aos Fatos não localizou dados mais recentes sobre evasão. O Inep confirmou que os últimos se referem a 2021.

Outro lado. A equipe de Nunes já havia sido questionada pelo Aos Fatos sobre os números usados pelo prefeito. Segundo a assessoria, ele citou os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com a pesquisa, 94,6% dos estudantes brasileiros de 6 a 14 anos frequentavam, em 2023, a série adequada para a idade. Isso daria, portanto, uma taxa de 5,4% de abandono escolar — quando o aluno deixa de frequentar as aulas durante o ano letivo.

A pesquisa, no entanto, não fez o recorte por município. Além do mais, conceitualmente, abandono escolar é diferente de evasão — que se caracteriza quando o estudante, reprovado ou aprovado, não se matricula no ano seguinte.

“Eu tô construindo o primeiro centro TEA, o maior centro TEA do nosso país.”

A declaração de Nunes é FALSA, porque o Centro TEA (Centro Municipal para Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo) não será o primeiro do país.

Aos Fatos já verificou essa declaração e mostrou que outras cidades brasileiras — como Rio de Janeiro, Balneário Camboriú (SC) e São Luís — mantêm em funcionamento equipamentos semelhantes, voltados ao atendimento de pessoas com autismo e suas famílias.

No Rio de Janeiro, o Centro de Estímulo ao Desenvolvimento no Transtorno do Espectro Autista foi inaugurado em fevereiro deste ano. O Complexo Neurossensorial Casa do Autista, de Balneário Camboriú (SC), funciona desde junho deste ano; em São Luís, o Centro TEA 12+, voltado a crianças e adolescentes com autismo, existe desde 2023.

Foto mostra concentração de pessoas em ginásio com as cores azul, amarelo e branco. Ao fundo, uma faixa diz: ‘Aniversário de um ano do Centro TEA 12+. Celebração do mês de conscientização do autismo’.
Centro TEA 12+ em São Luís, voltado a crianças e adolescentes com autismo, completou um ano de existência em 2024 (Divulgação/Governo do Maranhão)

Outro lado. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, o centro citado por Nunes se diferenciaria dos demais por não ser apenas uma clínica, mas um centro de atendimento cultural e social tanto para os pacientes como para suas famílias. Aos Fatos verificou, porém, que os três serviços citados já atuam com essa mesma proposta.

“PL 2.622/2024. Projeto de lei 2.622. É um projeto de lei do PSOL. Qual é o projeto? Para poder liberar, tirar da cadeia, 42 mil pessoas que são usuários e que transportam e vendem drogas.”

A declaração é FALSA. O PL 2.622/2024, de autoria da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), dispõe sobre a concessão de anistia a pessoas acusadas ou condenadas por comprar, portar ou transportar para uso próprio até 40 gramas ou seis plantas de maconha — a mesma quantidade definida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como limite para diferenciar usuários e traficantes durante o julgamento concluído em julho deste ano.

Segundo o Atlas da Violência 2024, divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), cerca de 42 mil pessoas não estariam presas se até 25 gramas de maconha ou até 10 gramas de cocaína fossem consideradas quantidades para uso pessoal, e não tráfico.

No entanto, o STF não julgou o porte de cocaína, que segue ilegal. Não há, portanto, uma estimativa exata de quantas pessoas seriam colocadas em liberdade com a aprovação do projeto de lei que trata somente do porte de maconha.

Outro lado. Procurada, a campanha de Nunes afirmou que “o fato é que a decisão do STF não fala em retroatividade, mas o projeto de lei do PSOL propõe retroatividade e anistia a condenados por tráfico de drogas”.

“Eu inaugurei 19 UPAs.”

Nunes exagera o total de UPAs (unidades de pronto atendimento) inauguradas ao longo de sua gestão, e, por isso, a declaração é imprecisa.

Questionada pelo Aos Fatos no início de setembro sobre quais seriam as unidades mencionadas pelo prefeito, a Secretaria Municipal de Saúde encaminhou uma lista com 18 estabelecimentos. Três deles, no entanto, foram inaugurados por outros prefeitos:

  • A UPA Jabaquara foi entregue por Bruno Covas (PSDB) em abril de 2021. Na época, Nunes ainda era vice-prefeito;
  • Já a UPA 24h Vera Cruz foi inaugurada ainda antes, em 2018, pelo então prefeito João Doria;
  • Por fim, a UPA Santo Amaro, entregue em 2018, também na gestão Doria, foi transferida de endereço e reformada pelo governo Nunes em junho deste ano.
Doria aparece na entrada da UPA 24h Vera Cruz ao lado de totem com bandeira da prefeitura
Doria entregou primeira unidade da UPA 24h Vera Cruz em março de 2018 (Reprodução)

O candidato à reeleição tem citado essa alegação enganosa ao menos desde o debate da Band, ocorrido ainda durante a pré-campanha. Nessa e em outras ocasiões (veja aqui e aqui), no entanto, o número citado era de 18 UPAs.

O acréscimo de uma unidade ocorreu devido à reforma da AMA (Assistência Médica Laboratorial) Jardim Helena, na zona leste, que foi transformada em UPA e reinaugurada na última quarta (18). A unidade, que antes lidava com casos de baixa e média complexidade, agora está habilitada a realizar atendimentos de urgência e emergência.

“A minha rejeição foi baixando. A aprovação do governo aumentando.”

A declaração é imprecisa por dois motivos:

  • A margem de erro das principais pesquisas de intenção de voto não permite dizer que a rejeição de Ricardo Nunes caiu desde o início da campanha;
  • Apesar de pesquisas terem registrado crescimento na avaliação positiva do governo Nunes entre 2022 e 2024, as rodadas realizadas durante o período eleitoral tanto pelo Datafolha como pela Quaest mostram tendência de estabilidade.

Rejeição. O relatório completo da pesquisa de intenção de voto mais recente do Datafolha mostra que a primeira rodada, divulgada em 7 de agosto, registrou taxa de rejeição de 24% para o candidato à reeleição. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais.

Nas quatro rodadas seguintes, esse índice caiu fora da margem de erro apenas uma vez (de 25% para 21%) e atingiu o menor patamar na penúltima pesquisa, quando registrou 19%. Na última rodada, no entanto, ele voltou a oscilar para cima e voltou a 21%.

Considerando os números da primeira e da última pesquisas, portanto, a rejeição passou de 24% para 21%, uma alteração dentro da margem de erro que não permite dizer que houve queda, apesar da tendência.

Gráfico mostra taxas de rejeição dos candidatos Guilherme Boulos, Tabata Amaral, Ricardo Nunes, Datena e Pablo Marçal
Levantamento do Datafolha mostra que rejeição de Nunes variou de 24% a 19%, fora da margem de erro, mas voltou a oscilar para cima (Reprodução/Datafolha)

Já a pesquisa da Quaest mede dois critérios: “conhece e vota (potencial de voto)” e “conhece e não vota (rejeição)”. A consultoria realizou cinco pesquisas desde o início da corrida eleitoral, e Nunes registrou 37% de rejeição no levantamento divulgado em 18 de setembro — mesmo número que havia registrado na primeira rodada, em junho, como mostra o relatório completo mais recente.

No critério de “potencial de voto”, Nunes é o candidato com a melhor estatística, segundo a medição da Quaest. Ele subiu de 39% na primeira pesquisa para 50% na mais recente — neste caso, é possível afirmar que houve crescimento, porque a variação superou a margem de erro.

Avaliação de governo. De acordo com a Quaest, a avaliação de Nunes à frente da prefeitura se manteve estável nas cinco pesquisas realizadas, entre junho e 18 de setembro:

  • Na comparação da primeira com a mais recente, 31% dos entrevistados consideravam o governo positivo, número que oscilou para 32%;
  • As taxas de avaliação regular (41% para 39%) e negativa (20% nas duas pesquisas) também não tiveram alteração significativa.

A série do Datafolha sobre a avaliação do governo começa em abril de 2022 — quando o prefeito estava no cargo havia 11 meses — e mostra um crescimento expressivo na aprovação entre aquele momento e o início deste ano, período que engloba quatro pesquisas. Nesse intervalo, o percentual de entrevistados que consideravam o governo Nunes ótimo ou bom subiu de 12% para 29%.

Por causa das eleições, o instituto passou a medir a avaliação do governo com mais frequência neste ano. Apesar de o gráfico desde 2022 de fato mostrar um crescimento, nas pesquisas realizadas em 2024 a aprovação de Nunes apresentou tendência de estabilidade.

Na rodada divulgada nesta semana, a taxa de aprovação oscilou para baixo, de 31% para 28%, segundo o Datafolha — números próximos aos registrados na primeira pesquisa do ano, feita em março, quando Nunes teve 29%.

“Nenhuma capital do mundo vacinou mais do que a cidade de São Paulo.”

É verdade que, em poucos meses, São Paulo atingiu altas taxas de vacinação contra a Covid-19. No entanto, não existem dados comparativos precisos e mensais entre as capitais globais que possam atestar que São Paulo foi, de fato, a capital que mais vacinou no mundo em números absolutos ou proporcionais.

Mulher de jaleco branco ergue carteira de vacinação contra a Covid. Ao lado dela, governador João Doria usa camisa com os dizeres: ‘Vacina do Butantan. Vacina do Brasil’.
Primeira vacinada contra a Covid-19 no país, a enfermeira Mônica Calazans mostra carteira de vacinação ao lado do então governador João Doria (Divulgação/Governo de São Paulo)

Em setembro de 2021, por exemplo, quando a cidade tinha 75,1% da população adulta totalmente vacinada, a capital chinesa, Pequim, já tinha 97% dos adultos imunizados. Em outubro de 2021, a capital da Austrália, Canberra, se aproximava de 100% da população vacinada e também disputava o título de cidade com maior taxa de vacinação no mundo.

Outro lado. A fim de justificar a frase enganosa, a campanha de Nunes citou uma reportagem do site da revista Forbes, publicada em janeiro de 2022, sob o título: “Como São Paulo se tornou a ‘capital mundial da vacina’”.

O texto exalta o avanço da vacinação na cidade, mas em nenhum momento diz que São Paulo foi a cidade que mais vacinou, como disse Nunes. A reportagem da Forbes não possui a proposta de ser um levantamento comparativo entre cidades e também não justifica de onde tirou o apelido de “capital mundial da vacina”, publicado no título entre aspas.

“Eu comecei isso aqui em junho, esse sistema [Smart Sampa], porque eu perdi um ano. Eu não conseguia licitar. O PSOL entrava com a ação, não sei o quê. Então, demorou.”

A declaração atribui ao PSOL o atraso da licitação do sistema Smart Sampa, para compra de câmeras a serem usadas no reconhecimento facial. O partido de fato entrou com uma ação em maio de 2023 para suspendê-lo, mas outras organizações também se articularam contra o projeto. Por isso, a declaração foi classificada como NÃO É BEM ASSIM.

Em dezembro de 2022, o edital do programa foi suspenso pelo TCM (Tribunal de Contas do Município) após sete representações — movidas pela Defensoria Pública do Estado e por entidades da sociedade civil — questionarem pontos como possíveis violações da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), o modelo de licitação e o risco de possíveis violações de direitos de minorias.

Quatro meses depois, em abril de 2023, o edital foi liberado por unanimidade pelo TCM. O PSOL entrou com pedido de suspensão do programa no dia 15 de maio, que foi acatado pelo TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) no dia 18. Cinco dias depois, em 23 de maio, a prefeitura derrubou a liminar e anunciou a retomada do edital de contratação da empresa responsável por viabilizar o projeto.

Novamente, a Defensoria Pública de São Paulo e outras entidades da sociedade civil pediram a suspensão da licitação, mas a Justiça decidiu pela manutenção do pregão que definiu a companhia vencedora do edital.

Outro lado. A campanha de Nunes afirmou que “ele não disse que só o PSOL entrou com ação”.

“Na época do PT, eram 150 mil crianças querendo uma vaga de creche e não tinha aqui na cidade mais rica.”

A declaração é VERDADEIRA, porque os números são próximos aos informados pelo candidato. De acordo com levantamento do jornal O Estado de S. Paulo a partir de dados da Secretaria Municipal de Educação, havia em setembro de 2016, durante a gestão de Fernando Haddad (PT), um total de 133 mil crianças de zero a três anos aguardando por vagas em creches.

“Aumentei lá bastante o objetivo da Guarda Civil Metropolitana. Eu coloquei 2.000 guardas civis metropolitanos a mais.”

A declaração é VERDADEIRA. Desde o início de seu mandato, Nunes de fato nomeou 2.000 guardas civis metropolitanos. Foram convocados 1.000 guardas em 2023 e mais 1.000 neste ano — 500 em março e 500 em julho.

“No ano passado nós tivemos o menor índice de homicídios na nossa cidade.”

A alegação é VERDADEIRA. Segundo dados da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), em 2023, a cidade de São Paulo teve o menor número proporcional de homicídios dolosos (quando há intenção de matar) registrados desde o início do levantamento, em 2001.

Ao todo, foram contabilizados 481 casos em 2023 — uma taxa de 4,21 a cada 100 mil habitantes. No ano anterior, a proporção era de 4,68 a cada 100 mil habitantes. Em 2001, ano recorde da série histórica, a taxa foi de 49,16 a cada 100 mil habitantes.

O caminho da apuração

A entrevista de Ricardo Nunes ao podcast Inteligência Ltda. foi transcrita pelo Escriba, ferramenta de inteligência artificial desenvolvida pelo Aos Fatos. A equipe leu a transcrição, selecionou as declarações checáveis e fez as verificações necessárias. Consultamos bases de dados públicas, projetos de lei, relatórios de pesquisa e outras verificações já realizadas por nós. A assessoria de Nunes foi procurada para comentar os resultados.


Atualização: este texto foi atualizado às 17h04 de 21.set.2024 para incluir posicionamentos enviados pela campanha de Ricardo Nunes.

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