No Flow, Nunes distorce dados sobre educação na capital paulista

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Em entrevista ao Flow Podcast na última terça-feira (10), o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), citou dados enganosos sobre a taxa de evasão escolar e sobre o desempenho de estudantes da rede municipal no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

Diferentemente do que alegou o prefeito, não há dados públicos que apontem uma redução nas taxas de evasão de 0,95% para 0,7%. A capital paulista também não registrou nota no Ideb acima da média das capitais nos primeiros anos do ensino fundamental.

Confira, a seguir, um resumo do que checamos:

  1. É FALSO que a taxa de evasão escolar em São Paulo caiu de 0,95% para 0,7%. Os dados mais recentes, de 2021, apontam uma taxa de 2,8% de evasão entre alunos do ensino médio e 0,9% entre matriculados no fundamental;
  2. Não é verdade que a educação municipal de São Paulo registrou nota acima da média das capitais brasileiras no Ideb 2023 no ensino fundamental. Isso só se aplica a alunos que cursam os anos finais;
  3. Nunes exagera ao dizer que entregou 18 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) durante sua gestão. Ao menos três estabelecimentos foram entregues em administrações anteriores;
  4. Ao afirmar que cerca de 450 mil empresas foram criadas em São Paulo desde 2021, Nunes omite que outras 190 mil encerraram suas atividades no mesmo período;
  5. É fato que, enquanto esteve à frente da prefeitura, Fernando Haddad (PT) só cumpriu 1 das 10 metas previstas para a área da saúde. Os dados constam em levantamento do TCM (Tribunal de Contas do Município).

“Nós temos no Brasil o percentual de evasão escolar acima de 5%, 5,5%. Vamos falar de São Paulo. A gente tinha na época lá em 2015, 2016, 1,5% de evasão. Eu estava com 0,95%, eu falei, não, ainda é muito. A gente chegou agora em 0,7% de evasão escolar.”

A comparação feita pelo prefeito é incorreta por dois motivos:

  • Não existem dados oficiais recentes sobre evasão escolar;
  • E a fala de Nunes ignora que há dados diferentes de evasão para alunos dos ensinos fundamental e médio.

Os últimos números disponíveis foram calculados em 2021 pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Na época, o Brasil registrou uma taxa de evasão de 5,9% para alunos do ensino médio — índice próximo ao citado pelo candidato — e de 2,3% para estudantes do ensino fundamental.

Já a rede municipal de São Paulo registrou naquele ano — primeiro de Nunes à frente da prefeitura — 2,8% de evasão escolar entre alunos do ensino médio e 0,9% entre matriculados no fundamental.

Os números representam uma queda com relação aos dados de 2015 e 2016, quando a taxa de evasão escolar foi de 1,7% no fundamental e de 6,9% no médio.

Aos Fatos não identificou dados mais recentes que possam comprovar que a evasão escolar na rede municipal de São Paulo caiu para 0,7% após 2021, como alega o prefeito. O Inep confirmou à reportagem que o indicador mais recente de evasão escolar é de 2021.

Outro lado. Questionada, a equipe de Nunes afirmou que o prefeito se referia a dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE.

A pesquisa constatou que 94,6% dos estudantes entre 6 e 14 anos estavam na faixa etária ideal por curso frequentado em 2023 — o que indicava uma taxa de abandono escolar de 5,4%. O número, no entanto, não diz respeito à taxa de evasão — portanto, não é comparável aos dados do Censo Escolar —, e o levantamento não foi feito com recorte por municípios.

“Eu peguei a média das capitais do ensino municipal do país, pra gente poder ter média. Média é média, né? Qual foi a média do ensino nos anos finais? Nós tivemos uma nota de 5,6, e a nossa [municipal] de 5,8. Se pegar os anos finais e os anos iniciais. Então, na média, a gente teve dois pontos a mais.”

Ricardo Nunes é IMPRECISO ao dizer que a educação municipal de São Paulo teria ficado com uma média maior que a das capitais brasileiras no Ideb 2023 no ensino fundamental. Isso só é verdade apenas para os anos finais.

Nos anos iniciais do ensino fundamental, a capital paulista registrou nota de 5,6, enquanto a média nacional foi de 5,8 — o contrário do mencionado pelo candidato.

Já nos anos finais, a nota da cidade de São Paulo foi de 4,8 — 0,2 ponto a mais do que a média nacional (4,6).

O prefeito também omite que os valores representam uma queda no desempenho da educação municipal de São Paulo em relação a 2019, quando a cidade registrou nota 6 nos anos iniciais e 4,8 nos anos finais.

Na segunda-feira (9), em entrevista ao Roda Viva, Nunes já havia distorcido dados do Ideb ao afirmar que todas as capitais registraram queda entre 2019 e 2023 devido à pandemia de Covid-19, a fim de justificar a queda no caso de São Paulo.

Na verdade, porém, oito capitais tiveram aumento da nota nos anos iniciais e, nos anos finais, dez cidades registraram índices maiores mesmo em meio à pandemia.

Outro lado. Questionada pelo Aos Fatos, a assessoria de Nunes afirmou que o prefeito se referia apenas aos anos finais do ensino fundamental.

“Eu inaugurei 18 UPAs.”

O prefeito repete uma desinformação citada também em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira (9). Questionada pelo Aos Fatos sobre quais seriam os estabelecimentos citados pelo prefeito, a Secretaria Municipal de Saúde encaminhou uma lista de 18 endereços. Três deles, no entanto, foram inaugurados antes da atual gestão:

  • A UPA Jabaquara foi entregue por Bruno Covas (PSDB) em abril de 2021. Na época, Nunes ainda era vice-prefeito;
  • A UPA 24h Vera Cruz foi inaugurada ainda antes, em 2018, pelo então prefeito João Doria;
  • Já a UPA Santo Amaro, entregue em 2018, também na gestão Doria, foi transferida de endereço e reformada pelo governo Nunes em junho deste ano.

Outro lado. Em nota, a assessoria do candidato encaminhou a lista da Secretaria de Saúde com as 18 unidades de saúde entregues entre 2021 e julho de 2024. As UPAs Jabaquara, Vera Cruz e Santo Amaro constam no levantamento.

“Abriram novas 458 mil empresas.”

Nunes faz referência a dados divulgados pelo Mapa das Empresas, do governo federal. Ele omite, porém, que nem todas continuam abertas. O saldo final do período em que Nunes esteve à frente da prefeitura — considerando o total de empresas abertas e fechadas — é de 251.431.

De acordo com o levantamento, de fato 442.003 empresas foram abertas em São Paulo desde maio de 2021, início do mandato do prefeito — o dado não considera os CNPJs registrados como MEI (microempreendedor individual). No mesmo período, 190.572 encerraram suas atividades.

Outro lado. Procurada pelo Aos Fatos, a assessoria do candidato afirmou que ele citou "um dado procedente, referindo-se ao total de empresas abertas e não incluindo na conta as informações trazidas posteriormente pelo serviço de checagem".

“Relatório do TCM diz que Haddad só entregou uma das dez metas estabelecidas na área da saúde.”

A declaração é VERDADEIRA. De acordo com relatório do TCM (Tribunal de Contas do Município), Fernando Haddad (PT) só cumpriu uma das dez metas estabelecidas para a área da saúde enquanto foi prefeito de São Paulo, entre 2013 e 2016.

O atual ministro da Fazenda não conseguiu, por exemplo, entregar nenhum dos três hospitais que havia prometido. Já a meta de reformar prontos-socorros e entregar cinco novas UPAs teve índice de cumprimento de apenas 22,5%.

O único objetivo efetivamente alcançado foi a implantação de 12 novos consultórios para tratamento odontológico e reabilitação pelo uso de álcool e entorpecentes. Mesmo nesse caso, no entanto, técnicos do TCM apontaram que o projeto foi concluído antes da publicação do Plano de Metas.

O caminho da checagem:

Aos Fatos acompanhou a entrevista de Ricardo Nunes ao Flow Podcast ao vivo na noite da última terça-feira (10), utilizando a ferramenta Escriba para transcrever os diálogos.

Enquanto um dos editores selecionava declarações checáveis, um repórter verificava as informações a partir de bases públicas de dados, afirmações anteriores do candidato e reportagens. A equipe complementou a apuração nesta quarta (11).

A reportagem também procurou a assessoria de imprensa do candidato para que pudesse comentar as checagens.


Esta reportagem foi atualizada às 18h18 do dia 11 de setembro para incluir o posicionamento do candidato Ricardo Nunes.

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