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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Presidenciáveis inflam legados e omitem fatos ao atacar adversários no Programa do Ratinho

Por Amanda Ribeiro, Marco Faustino e Priscila Pacheco

23 de setembro de 2022, 18h41

Os quatro presidenciáveis mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais inflaram seus legados e distorceram informações sobre os adversários durante as entrevistas concedidas ao Programa do Ratinho, no SBT, entre a semana passada e quinta-feira (21).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escondeu o papel do atual governo na conclusão da ferrovia Norte-Sul. Ao atacar o oponente, o presidente Bolsonaro (PL) enganou ao dizer que o Brasil tem o pior índice de educação do mundo. Ciro Gomes (PDT) omitiu a gestão Temer ao atribuir só ao PT e a Bolsonaro o baixo crescimento econômico. Simone Tebet (MDB) errou ao falar que foi a primeira prefeita do país.

Confira a seguir o que checamos:

  1. Luiz Inácio Lula da Silva
  2. Jair Bolsonaro
  3. Ciro Gomes
  4. Simone Tebet

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (PT)


Selo falso

E no meu tempo de presidente da República, todas as categorias de trabalhadores organizadas recebiam aumento acima da inflação. Hoje, nem 10% recebe.

Não é verdade que todas as categorias de trabalhadores receberam aumento acima da inflação entre 2003 e 2010, anos em que Lula foi presidente da República.

Em 2003, apenas 18,8% das categorias profissionais tiveram aumento real. O maior percentual foi registrado em 2007 e 2010, chegando a 87,7%, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que compara reajustes com a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

Também não procede que menos de 10% das categorias receberam aumento acima da inflação hoje. De acordo com o Dieese, de janeiro a agosto de 2022, 20,5% dos reajustes resultaram em ganhos acima da inflação, com base no mesmo critério utilizado no estudo anterior.


Selo não é bem assim

Nós fizemos a ferrovia que saiu do Maranhão do Porto de Itaqui (...) e trouxemos elas até Cruzeiro do Oeste aqui em São Paulo.

A declaração de Lula foi classificada como enganosa porque ele omite que o último trecho da ferrovia Norte-Sul, que vai de Açailândia (MA) a Estrela d' Oeste (SP) — não Cruzeiro do Oeste, como dito pelo candidato —, foi finalizado na gestão de Jair Bolsonaro (PL).

O projeto da ferrovia foi anunciado em 1987 pelo então presidente José Sarney (MDB), mas escândalos de corrupção atrasaram as obras. Em 1989, foi inaugurado o primeiro trecho, de 95 quilômetros, entre Açailândia (MA) e Imperatriz (MA). Somente em 1996, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a operação nessa área foi iniciada integralmente.

Em 2002, FHC finalizou mais trechos no Maranhão, alcançando 215 quilômetros. As gestões petistas deram continuidade às obras: em 2010, Lula inaugurou um trecho de 256 quilômetros no Tocantins, e em 2014 Dilma Rousseff (PT) concluiu 855 quilômetros que ligam Palmas (TO) a Anápolis (GO). As obras até Estrela d'Oeste (SP) foram anunciadas em 2007, mas iniciadas em 2011.

Em 2018, o então presidente Michel Temer (MDB) concedeu a ferrovia à iniciativa privada, com mais de 90% da construção até o interior de São Paulo concluída. O leilão para a concessão, no entanto, ocorreu em 2019, já no governo Bolsonaro. Em março de 2021, o atual mandatário inaugurou o trecho de 172 quilômetros de São Simão (GO) a Estrela d’Oeste (SP).

O Porto de Itaqui, em São Luís (MA), é ligado à ferrovia Norte-Sul pela Estrada de Ferro Carajás.

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JAIR BOLSONARO (PL)


Selo falso

Nós temos realmente o pior índice da prova do Pisa de educação.

Para criticar as políticas educacionais adotadas durante gestões petistas, Bolsonaro já repetiu ao menos 39 vezes desde o início de seu mandato que o Brasil ocupa a última posição no ranking do Pisa, programa internacional de avaliação de estudantes realizado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o que é falso.

Na última edição da prova, em 2018, que teve a participação de 79 países, o Brasil alcançou a 58ª-60ª posição em Leitura (considerando a margem de erro da média de pontos), com 413 pontos, a 72ª-74ª em Matemática, com 384 pontos, e a 66ª-68ª em Ciências, com 404 pontos, o que levou o país à 57ª colocação no ranking geral.

Considerando a média de pontos dos participantes, o Brasil teve um desempenho levemente superior em 2018 em comparação com 2015. Naquele ano, o país conquistou uma nota média de 407 em leitura (59ª posição entre 70 participantes), 377 em matemática (65ª posição) e 401 em ciências (63ª posição).


Selo não é bem assim

Hoje em dia você tem 14% do território nacional demarcado como terra indígena.

De acordo com dados da Funai (Fundação Nacional do Índio), há atualmente 417 terras indígenas regularizadas, que ocupam uma área de 906.601,8 km². Isso corresponde a 10,6% da extensão total do país, que é de 8,5 milhões de km², e não 14%, como disse Bolsonaro ao menos 48 vezes desde o início do seu mandato. Chega-se à taxa de 13% quando são somadas as terras que ainda estão em estudo ou que aguardam a sanção presidencial e as reservas indígenas, que são doadas por terceiros, adquiridas ou desapropriadas pela União e que não passam pelo processo tradicional de demarcação.

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CIRO GOMES (PDT)


Selo não é bem assim

87 das 100 melhores escolas públicas do Brasil, dado quentinho que saiu anteontem do Ideb, estão no Ceará, um Estado muito pobre.

Ciro Gomes exagera o desempenho do seu estado na educação pois, embora de fato o Ceará tenha 87 das 100 escolas com maior nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o resultado se refere apenas aos anos iniciais do ensino fundamental, ou seja, do 1° ao 5° ano. Nos anos finais (6º ao 9º), são 71 escolas e, no ensino médio, 24. O estado com maior número de escolas no ranking do ensino médio foi São Paulo, com 38 unidades.

Nos anos iniciais, o Ceará obteve nota 6,3, acima da meta projetada de 5,4. Nos anos finais, a nota foi 5,4, superando também a meta estipulada, que era de 5,1. Já no ensino médio, o Ceará não atingiu a meta estipulada, de 5,1, e marcou 4,3. Durante a pandemia de Covid-19, alguns governantes implementaram a aprovação automática, caso do Ceará, ação que pode ter interferido nas notas do Ideb.


Selo não é bem assim

Uma economia que tá parada de crescer há onze anos, três de Bolsonaro, oito de PT.

A fala do candidato é imprecisa, pois desconsidera que, no período mencionado, Michel Temer (MDB) também ocupou a Presidência da República, de agosto de 2016 a 1º de janeiro de 2018. Um estudo divulgado em 2021 pelo Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV (Fundação Getúlio Vargas), mostra que o pior período de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos 120 anos foi entre 2011 e 2020, quando o país cresceu somente 0,3%.

Em 2011, o PIB brasileiro atingiu o pico do seu valor em dólares, somando US$ 2,62 trilhões. Em 2021, último dado disponível, esse montante foi reduzido para US$ 1,61 trilhões, segundo dados do Banco Mundial.

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SIMONE TEBET (MDB)


Selo falso

Eu tive muitas primeiras vezes na minha vida, eu faço essa brincadeira, porque eu fui a primeira mulher prefeita.

A candidata erra ao não especificar que foi a primeira mulher prefeita de Três Lagoas (MS), não do país. A pioneira no cargo foi Luíza Alzira Soriano Teixeira, que assumiu a administração da cidade de Lajes (RN) em 1929.

Simone Tebet foi a primeira mulher eleita em Três Lagoas (MS), sua cidade natal. Ela assumiu a prefeitura em 2005. A senadora costuma repetir a informação em entrevistas e na propaganda eleitoral, sem omitir o local.

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Outro lado. O Aos Fatos entrou em contato com as assessorias de imprensa dos candidatos para que pudessem comentar as checagens, mas não recebeu retorno até a publicação da reportagem.

Referências:

1. Dieese (Fontes 1 e 2)
2. Ministério da Infraestrutura
3. Ministério da Economia
4. Poder 360 (Fontes 1 e 2)
5. EBC
6. CNT
7. G1 (Fontes 1, 2, 3, 4 e 5)
8. Estadão
9. EFC
10. Vale
11. Aos Fatos (Fontes 1 e 2)
12. OECD
13. INEP (Fontes 1 e 2)
14. Funai (Fontes 1 e 2)
15. IBGE
16. O Povo
17. Banco Mundial
18. TSE
19. FGV
20. YouTube Simone Tebet

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