Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda. na noite da última terça-feira (1º), o deputado federal e candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) desinformou ao dizer que o roubo de celulares é o crime que mais cresce na cidade.
Pelos dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública, o total de aparelhos subtraídos (somando roubos e furtos) na capital paulistana caiu de 2021 a 2023. E o crime que mais cresceu na cidade foi o estupro.
Boulos também citou de modo incorreto dados de pesquisas eleitorais ao afirmar que subiu nos levantamentos da AtlasIntel e da Quest. Ele oscilou positivamente em uma delas, e na outra manteve o mesmo índice.
O candidato foi impreciso ao comparar o total de viagens de ônibus — que de fato caíram 20% — com o valor de subsídios pagos pela prefeitura às empresas. A quantia não dobrou, como disse Boulos, embora tenha aumentado 80%.
Confira o que checamos:
- É FALSO que o roubo de celulares foi o crime que mais cresceu na capital. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o total de aparelhos subtraídos caiu entre 2021 e 2023;
- Também é incorreto afirmar que o candidato subiu nas últimas pesquisas de intenção de voto da AtlasIntel e da Quaest. Foi registrado crescimento apenas em uma das pesquisas, e ainda assim, dentro da margem de erro;
- Boulos é impreciso ao afirmar que o Rio de Janeiro tem quase 8.000 agentes na Guarda Municipal. No ano passado, a prefeitura divulgou que apenas 5.806 dos 7.306 funcionários estavam efetivamente em serviço;
- É fato que as empresas de ônibus de São Paulo reduziram em cerca de 20% o total de viagens realizadas entre 2019 e 2023. O total pago em subsídios, no entanto, não aumentou em 100%, como afirmou o psolista, e sim em 80%.
- O candidato acerta ao afirmar que a capital paulista tem cerca de 590 mil imóveis desocupados. Os dados são do Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística);
- Também é fato que o primeiro edital do Smart Sampa previa que as câmeras de monitoramento fizessem um perfilamento racial para identificar “pessoas suspeitas”. O documento foi alterado no ano passado, após críticas de parlamentares e da sociedade civil.
“Roubo de celular, que é o crime que mais explodiu em São Paulo.”
A declaração é FALSA. Estatísticas oficiais compiladas pela SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) mostram que o número de celulares subtraídos na capital paulista caiu entre 2021 e 2023.
Levando em consideração o número de boletins de ocorrência registrados como roubo e furto de celular nas delegacias da capital, houve:
- 236.843 ocorrências em 2021;
- 272.853 em 2022;
- e 176.944 em 2023.
Em relação aos números mensais, é possível observar uma leve queda no número de celulares subtraídos na cidade (veja abaixo).
A mesma base de dados mostra que o crime que mais cresceu nesse período foi estupro, que passou de 2.661 ocorrências em 2021 para 3.373 em 2023, um aumento de 26,8%. Outros crimes que apresentaram aumento foram lesão corporal dolosa (aumento de 26,7%) e furtos em geral (22,5%).
Vale ressaltar que o Anuário Brasileiro de Segurança Pública trouxe os dados referentes ao furto e roubo de celular na capital paulista pela primeira vez neste ano. Segundo o levantamento, a cidade apresentou taxa de 1.781,6 furtos ou roubos de celular por 100 mil habitantes em 2023 — e foi a terceira pior cidade nesse quesito. Não há dados referentes a 2022.
“De mim é difícil [Tabata Amaral] ter tirado [intenções de voto], porque eu cresci. Na [pesquisa] Quaest, eu cresci um ponto, na Atlas eu cresci um ponto.”
A declaração do candidato é imprecisa, porque omite que só foi registrado aumento numérico em uma das pesquisas citadas. Além disso, não é possível dizer que Boulos “cresceu”, já que a variação ocorreu dentro da margem de erro.
No levantamento da AtlasIntel divulgado na última segunda-feira (30), ele aparece com 29,4% das intenções de voto na pesquisa estimulada. Isso representa uma oscilação positiva de 1,1 ponto percentual em relação à pesquisa anterior, de 23 de setembro. Como a margem de erro é de dois pontos percentuais, não é possível afirmar que houve crescimento.
A Quaest, por sua vez, não mostra variação percentual nas intenções de voto do psolista. Na pesquisa estimulada da última segunda (30), Boulos manteve os mesmos 23% que havia apresentado no levantamento anterior, de 24 de setembro.
“São Paulo, hoje, tem pouco menos de 7.500 guardas, certo? A população de São Paulo é de 12 milhões de habitantes, um pouco menos que isso. O Rio de Janeiro tem quase 8.000 guardas e tem a metade da população de São Paulo.”
Boulos é impreciso ao dizer que a GM-Rio (Guarda Municipal do Rio de Janeiro) tem quase 8.000 agentes. No ano passado, a prefeitura carioca divulgou que apenas 5.806 dos 7.306 funcionários efetivos da guarda estavam em serviço. Os outros 1.500 haviam sido cedidos a outros órgãos estatais, afastados ou empregados em trabalhos internos.
Em março deste ano, a prefeitura atualizou o número total de guardas para 7.202 — e, considerando o pessoal administrativo ou que exerce outras funções, o efetivo total é de 7.474. No entanto, nem todos os agentes estão empregados no serviço de patrulhamento, como explicado acima.
É verdade, porém, que o Rio de Janeiro tem mais guardas contratados do que São Paulo. Segundo a Secretaria Municipal de Segurança Urbana paulistana, o efetivo da GCM (Guarda Civil Metropolitana) era de 7.039 agentes em maio deste ano, sendo 5.318 homens e 1.721 mulheres.
“Nós estamos pagando o dobro para as empresas de ônibus. E o que as empresas de ônibus estão nos entregando de volta? 20% menos viagens.”
Boulos acertou ao dizer que as empresas de ônibus de São Paulo estão realizando menos viagens, mas exagerou ao falar do aumento no valor pago a elas pela prefeitura.
De acordo com dados obtidos pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), o número de viagens de ônibus realizadas em São Paulo diminuiu 22% entre 2019 e 2023.
Nesse período, o subsídio pago às empresas de ônibus cresceu de R$ 3,1 bilhões para R$ 5,6 bilhões — um aumento de 80%, não 100% como afirma o candidato.
No mesmo tema, durante a entrevista, o candidato corrigiu uma fala enganosa que disse no debate organizado pelo Grupo Flow. Na ocasião, Boulos afirmou que a diminuição no número de viagens refletia a redução do número de ônibus nas ruas da cidade, o que não procede.
“O número de imóveis abandonados na cidade de São Paulo chegou, segundo o IBGE, a 590 mil.”
Dados do Censo de 2022 mostram que a capital paulista tem 588.978 domicílios particulares não ocupados, que é próximo do número citado por Boulos e torna, portanto, a declaração VERDADEIRA. A pesquisa também mostra que outros 86.800 imóveis são de uso ocasional.
“Primeiro, o algoritmo das câmeras [do Smart Sampa] envolvia perfilamento racial.”
Boulos se refere ao primeiro edital do Smart Sampa, programa de monitoramento por vídeo da Prefeitura de São Paulo. Divulgado em 2022, o documento determinava que a identificação de pessoas suspeitas por imagem seria feita “por diferentes tipos de características, como cor, face e outras características”.
Outro trecho do texto criticado na época foi a especificação para que as câmeras de segurança identificassem cenas de “vadiagem”.
A licitação foi suspensa pela prefeitura em dezembro daquele ano após críticas de parlamentares e entidades da sociedade civil. Em fevereiro do ano passado, um relatório do TCM (Tribunal de Contas do Município) apontou que o sistema poderia violar os direitos de minorias, como a população negra e LGBTQIA+.
O edital foi alterado para, entre outras mudanças, excluir os trechos sobre perfilamento racial e análise de “vadiagem”. Em abril do ano passado, o TCM liberou a realização do pregão.
Outro lado
Aos Fatos procurou a assessoria do candidato na tarde desta quarta-feira (2) para que ele pudesse comentar as checagens. Não houve retorno até a publicação.
O caminho da apuração
Com auxílio da ferramenta de inteligência artificial Escriba, Aos Fatos transcreveu a íntegra da entrevista de Boulos. As declarações checáveis foram divididas entre os repórteres, e a equipe verificou as afirmações a partir de bases de dados públicas, documentos, pesquisas e outras verificações. A assessoria do candidato foi procurada para que pudesse comentar as checagens.