Checamos o debate do Flow entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo

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Os seis principais candidatos à Prefeitura de São Paulo se reuniram na noite desta segunda-feira (23) em debate promovido pelo Grupo Flow.

O encontro foi encerrado durante as considerações finais, após Pablo Marçal desrespeitar as regras e insultar Ricardo Nunes (MDB) — o que levou o mediador Carlos Tramontina a decidir pela expulsão do candidato do PRTB.

Enquanto Marçal discutia com Tramontina fora dos microfones, uma confusão teve início no estúdio, e um assessor do ex-coach acertou um soco no rosto do marqueteiro do prefeito.

Aos Fatos verificou as declarações de Nunes, Marçal, Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB), José Luiz Datena (PSDB) e Marina Helena (Novo).

Confira abaixo o que checamos:

  1. Ricardo Nunes
  2. Guilherme Boulos
  3. Pablo Marçal
  4. Tabata Amaral
  5. José Luiz Datena
  6. Marina Helena

Ricardo Nunes (MDB)

Foto do candidato Ricardo Nunes

“Melhoramos muito o nosso índice de evasão escolar. No Brasil, pra gente poder ter ideia, é 5,5%. A gente tinha aqui 0,95%. Recebi os dados agora. Olha que coisa sensacional. Caiu para 0,7% a nossa evasão escolar.”

A alegação, já repetida pelo prefeito mais de uma vez (veja aqui e aqui), é FALSA, porque:

  • não há dados oficiais recentes sobre evasão escolar;
  • não existe uma taxa única de evasão escolar, como sugere Nunes. Há indicadores distintos para alunos dos ensinos fundamental e médio.

Os últimos dados disponíveis sobre evasão escolar, de acordo com o Inep (Instituto Nacional de Pesquisa e Estudos Educacionais Anísio Teixeira), se referem a 2021: em todo o Brasil, a evasão era de 5,9% no ensino médio e de 2,3% no ensino fundamental. Na cidade de São Paulo, no mesmo ano — o primeiro de Nunes à frente da prefeitura —, a taxa foi de 2,8% no ensino médio e 0,9% no ensino fundamental.

Aos Fatos não localizou dados mais recentes sobre evasão. O Inep confirmou que os últimos números se referem a 2021.

Outro lado. A equipe de Nunes já havia sido questionada pelo Aos Fatos sobre os números usados pelo prefeito. Segundo a assessoria, ele citou os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com a pesquisa, 94,6% dos estudantes brasileiros de 6 a 14 anos frequentavam, em 2023, a série adequada para a idade. Isso daria, portanto, uma taxa de 5,4% de abandono escolar — quando o aluno deixa de frequentar as aulas durante o ano letivo.

A pesquisa, no entanto, não fez o recorte por município. Além disso, conceitualmente, abandono escolar é diferente de evasão — que se caracteriza quando o estudante, reprovado ou aprovado, não se matricula no ano seguinte.

Perguntada novamente, a assessoria da campanha informou que o candidato quis “ressaltar com sua declaração que houve, sim, uma significativa redução da evasão na rede de ensino do município, graças a políticas públicas como Mães Guardiãs”.

“Inclusive, eu instituí o Baby-TEG. Porque não tinha transporte para os bebês.”

A declaração é incorreta porque o programa da prefeitura de São Paulo apelidado Baby-TEG — ou TEG Creche —, que oferece transporte escolar gratuito para crianças de zero a três anos, foi anunciado em agosto de 2020. Naquela época, o prefeito era Bruno Covas (PSDB), e Nunes era vice-prefeito.

A abertura do credenciamento de veículos para o programa ocorreu em janeiro de 2021, ainda durante a gestão do tucano. Nunes assumiu a prefeitura meses depois, em maio de 2021, com a morte de Covas.

Outro lado. A equipe de Nunes argumentou que mesmo como vice-prefeito, ele fez parte da criação do Baby-TEG. “E o prefeito não só participou da implantação do programa: o mantém e dará continuidade na sua próxima gestão”, acrescentou.

“Por exemplo, 57 mil empresas vieram de outros municípios pra cidade de São Paulo, e abriram só de 2021 até junho desse ano novas 458 mil empresas.”

Nunes volta a repetir uma informação enganosa que já havia dito em entrevista ao Flow. O prefeito faz referência a dados divulgados pelo Mapa das Empresas, do governo federal. Ele omite, porém, que nem todas continuam abertas. O saldo final do período em que Nunes esteve à frente da prefeitura — considerando o total de empresas abertas e fechadas — é de 251.431.

De acordo com o levantamento, de fato 442.003 empresas foram abertas em São Paulo desde maio de 2021, início do mandato do prefeito — o dado não considera os CNPJs registrados como MEI (microempreendedor individual). No mesmo período, 190.572 encerraram suas atividades.

Outro lado. Procurada anteriormente pelo Aos Fatos, a assessoria do candidato afirmou que ele citou “um dado procedente, referindo-se ao total de empresas abertas e não incluindo na conta as informações trazidas posteriormente pelo serviço de checagem”.

O argumento foi repetido quando questionada novamente. “O candidato cita o total de empresas criadas e que vieram para a cidade para demonstrar que as ações de redução de impostos e desburocratização trazem resultados positivos”, afirmaram.

Guilherme Boulos (PSOL)

Foto do candidato Guilherme Boulos (PSOL)

“O número de viagens feitas pelos pelos ônibus das empresas reduziu em 20% desde o fim da pandemia. Ou seja, tem menos ônibus na rua. E quem anda de ônibus sabe do que eu estou falando. Sente isso na pele. Está demorando mais pra chegar. O ônibus está mais lotado.”

Os dados citados por Boulos são imprecisos porque se referem ao período de julho de 2019 a julho de 2023 — e, portanto, incluem a pandemia. Nesse período, o número de viagens de ônibus em São Paulo diminuiu 22%, segundo informações obtidas pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

Além disso, o número não reflete diretamente a redução do número de ônibus nas ruas da cidade, apenas do número de viagens feitas.

Segundo dados da SPTrans, a frota teve uma redução de cerca de 5% entre julho de 2020 e julho de 2024 — de 14.016 veículos para 13.261. A companhia justifica a redução no número de viagens como resposta à diminuição da demanda no período.

“A alfabetização na idade certa, São Paulo caiu lá para trás, de segundo lugar para vigésimo primeiro lugar.”

Boulos faz uma comparação enganosa ao dizer que São Paulo teria caído nos índices de alfabetização. Durante o debate, Tabata Amaral (PSB) deu uma declaração semelhante, que também foi checada.

São Paulo ficou em segundo lugar entre 26 capitais brasileiras, segundo a pesquisa Alfabetiza Brasil, que se baseia em dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) de 2021. A pesquisa indicou que 39,35% das crianças do segundo ano na cidade estavam alfabetizadas naquele período.

Já o indicador Criança Alfabetizada, que se baseia em diferentes avaliações realizadas por cada estado, registrou uma taxa de alfabetização de 37,9% na capital paulista em 2023. O índice colocou a cidade no 21º lugar no ranking entre 23 capitais.

Como usam metodologias diferentes, os levantamentos não podem ser comparados — e, portanto, não é possível dizer que a cidade tenha caído de posição.

“Devido a essas diferenças nas metodologias, a comparação direta entre os rankings deve ser feita com cautela. A pequena variação na taxa de alfabetização em São Paulo e a grande mudança na posição no ranking podem ser reflexo dessas diferenças”, explicou ao Aos Fatos Pedro Rodrigues, coordenador de políticas educacionais do Todos Pela Educação.

Para ele, uma comparação mais precisa poderá ser feita após a divulgação dos resultados do Saeb 2023, que deverá ser feita ainda este ano. O especialista ainda lembra que a prova do Saeb 2021 foi realizada em contexto de pandemia, “o que pode ter impactado os resultados”.

Pablo Marçal (PRTB)

Foto do candidato Pablo Marçal (PRTB)

“Esses dias agora o governo federal deixou vencer R$ 250 milhões em vacina e ninguém fica chocado com isso.”

Pablo Marçal é impreciso ao responsabilizar o atual governo pelo vencimento de vacinas. Um levantamento do Ministério de Saúde apontou que 28.604.735 doses de diversos imunizantes de fato precisaram ser descartadas por estarem vencidas em março de 2023. Segundo o governo, o prejuízo foi de cerca de R$ 250 milhões, conforme apontado pelo candidato.

No entanto, as vacinas haviam sido compradas entre 2019 e 2022 — portanto, durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL). Além disso, o novo governo assumiu em janeiro de 2023, e grande parte dos imunizantes venceram entre janeiro e fevereiro daquele ano. O governo afirma que não houve tempo hábil para distribuir as doses antes do vencimento.

“Quando fomos fazer uma análise dos estoques, devido à validade muito próxima, foi impossível distribuir e fazer qualquer utilização”, afirmou à época a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel.

“A gente quer é [emprego] nas 1.000 favelas de São Paulo.”

Marçal subestima o número de favelas existentes na capital paulista. No ano passado, a Secretaria Municipal de Habitação tinha 1.747 comunidades cadastradas, número 75% maior do que o citado pelo candidato.

Em nota divulgada por veículos da imprensa, a própria pasta ressaltou que a quantidade real de favelas é ainda maior do que a presente no levantamento. “Os números se referem a favelas monitoradas pela pasta e não representam o total existente na capital. Esses locais são cadastrados para futuras intervenções ou por meio de determinações judiciais para atendimentos específicos”.

Tabata Amaral (PSB)

Foto da candidata Tabata Amaral (PSB)

“As linhas de ônibus são as mesmas hoje que eram 15 anos atrás, quando o meu pai era cobrador.”

Não é verdade que as linhas de ônibus atualmente existentes em São Paulo são as mesmas de 15 anos atrás, como disse a candidata Tabata Amaral.

Nos últimos anos, os itinerários dos ônibus da capital paulista sofreram diversas alterações. Algumas linhas deixaram de existir, enquanto outras foram criadas ou sofreram mudanças:

  • Em 2019, por exemplo, a linha 6262-21, que ligava a Vila Leopoldina à estação da CPTM Leopoldina, saiu de operação;
  • Já em 2020, foi criada a linha 8078-31, que liga o bairro Jardim das Palmas ao Hospital do Campo Limpo;
  • Em 2013, a linha 577T-10, que ia do Jardim Miriam, na divisa com Diadema (SP), à Vila Gomes, no bairro do Butantã, sofreu alterações e passou a circular apenas entre o Jardim Miriam e o terminal Ana Rosa;
  • Após protestos dos moradores do Butantã, que perderam uma ligação com a avenida Paulista, foi criada em 2014 a linha 8018-21, ou Vila Gomes–Paulista, que em 2018 passou a se chamar Vila Gomes–Trianon Masp.

Outro lado. Questionada, a equipe da candidata afirmou que “nas últimas gestões não houve um redesenho robusto das linhas de ônibus”, mas reconheceu algumas mudanças desde a gestão de Fernando Haddad.

“Em 2023, Nunes começou o redesenho de algumas linhas, mas não concluiu todo o processo. A proposta da Tabata é que esse redesenho, já previsto no contrato, seja feito de maneira mais séria e célere, criando, principalmente, novas linhas”, afirmaram.

“São Paulo caiu 19 posições no ranking das capitais brasileiras em alfabetização durante a gestão de Ricardo Nunes.”

A fala da candidata é imprecisa, pois os rankings nacionais de alfabetização que usam dados de 2021 — último ano da gestão de Bruno Covas (PSDB) — e 2023 usam metodologias distintas e não podem ser comparados. Durante o debate, Guilherme Boulos (PSOL) deu uma declaração semelhante, que também foi checada.

De acordo com a pesquisa Alfabetiza Brasil, baseada nos dados do Saeb 2021, 39,35% das crianças do segundo ano na cidade de São Paulo estavam alfabetizadas naquele ano. Mesmo baixa, a taxa colocava a cidade em segundo lugar no ranking das 26 capitais do país.

O indicador Criança Alfabetizada, lançado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) em 2024, registrou uma taxa parecida: com 37,9% de crianças alfabetizadas em São Paulo em 2023. Contudo, nesse caso, o valor colocou a cidade em 21º lugar no ranking entre 23 capitais — o levantamento não inclui dados de Boa Vista, Florianópolis e Rio Branco.

A diferença de posições se explica pela diferença entre as metodologias aplicadas em cada uma das pesquisas. Enquanto a Alfabetiza Brasil estabeleceu como critério para alfabetização uma nota de 743 pontos na escala Saeb, o indicador Criança Alfabetizada se baseia em avaliações realizadas pelos estados, onde cada um aplicou sua própria prova de alfabetização.

“Devido a essas diferenças nas metodologias, a comparação direta entre os rankings deve ser feita com cautela. A pequena variação na taxa de alfabetização em São Paulo e a grande mudança na posição no ranking podem ser reflexo dessas diferenças”, explicou ao Aos Fatos Pedro Rodrigues, coordenador de políticas educacionais do Todos Pela Educação.

Para ele, uma comparação mais precisa poderá ser feita após a divulgação dos resultados do Saeb 2023, que deverá ser feita ainda este ano. O especialista ainda lembra que a prova do Saeb 2021 foi realizada em contexto de pandemia, “o que pode ter impactado os resultados”.

Outro lado. Confrontada com a imprecisão, a assessoria da candidata citou outras ocasiões em que o indicador Criança Alfabetizada e a pesquisa Alfabetiza Brasil foram citadas em conjunto, entre eles documento do Inep — que sinaliza que os dados de um indicador se baseiam no Saeb, e os do outro, em sistemas estaduais de avaliação.

Também citaram dados do Ideb que comprovariam uma “piora significativa na qualidade da educação paulistana”. A assessoria também opinou que “não classificar a afirmação da candidata como verdadeira nos parece, em larga medida, uma injustiça”.

“São oito estupros por dia [em São Paulo], que a gente fica sabendo.”

A candidata acerta ao falar da ocorrência de estupros na cidade de São Paulo. Segundo dados da SSP (Secretaria de Segurança Pública) do estado, foram registradas 1.671 casos do tipo na capital paulista entre janeiro e julho de 2024, incluindo estupro (409) e estupro de vulnerável (1.262). Isso significa 7,9 registros por dia no período.

José Luiz Datena (PSDB)

Foto do candidato José Luiz Datena (PSDB)

“O auxílio-aluguel não pode ser de R$ 600, isso é um absurdo. Qualquer barraco em qualquer comunidade custa no mínimo de R$ 800 a R$ 1.000 — R$ 600 é muito pouco, tem que aumentar imediatamente.”

O candidato José Luiz Datena (PSDB) foi impreciso ao indicar o valor do auxílio-aluguel na capital paulista. O valor de R$ 600, citado por ele, só vale para moradores que aceitarem deixar áreas de risco. Na maior parte dos casos, o auxílio-aluguel é de R$ 400 — valor que está congelado há nove anos.

“Quanto à questão de mobilidade, não é só rampa não, de 1,5 milhão de metros quadrados de calçadas que você prometeu para a população de São Paulo, você não fez metade disso.”

De acordo com o site que monitora as metas da prefeitura de São Paulo, a gestão de Nunes realizou a manutenção de 828 mil metros quadrados de calçadas dos 1,5 milhão de metros quadrados prometidos. Até a última atualização, portanto, a meta foi 55% cumprida, o que representa um pouco mais da metade do plano inicial.

Marina Helena (Novo)

Foto da candidata Marina Helena (Novo)

“Por exemplo, a cidade com o melhor Ideb do Brasil é administrada pelo Novo.”

A candidata erra ao dizer que o município com a maior nota no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2023 seria administrado por seu partido. Nenhum dos prefeitos das cidades que tiveram melhor desempenho nas três categorias do indicador é do Novo.

  • Nos anos iniciais do ensino fundamental, a cidade que teve a melhor pontuação foi Pires Ferreira (CE), cuja prefeita é Livia Muniz (PSB).
  • Nos anos finais do fundamental, o município que tirou a maior nota foi Santana do Mundaú (AL), administrado por Arthur Freitas (MDB).
  • E no ensino médio, a cidade com melhor desempenho foi São João d’Aliança (GO), sob a prefeitura de Débora Domingues (PL).

Entre as quatro cidades com prefeitos do Novo, Joinville (SC) foi a que teve melhor desempenho no Ideb, com notas 7 e 6 nos anos iniciais e finais do ensino fundamental, respectivamente.

Essa pontuação colocou a cidade no topo do ranking de educação apenas entre os municípios com mais de 500 mil habitantes. Nos rankings gerais, no entanto, Joinville ocupa a 1.480ª e a 623ª posições.

Outro lado. Questionada, a assessoria de imprensa da candidata informou que “ela se referiu às grandes cidades, com mais de 500 mil habitantes”.

O caminho da apuração

Aos Fatos transcreveu todo o debate com o uso do Escriba e separou entre a equipe as declarações passíveis de checagem. Os repórteres verificaram as alegações por meio de dados de bases públicas e reportagens publicadas na imprensa.

Devido ao número de candidatos, foram escolhidas as checagens mais relevantes de cada um dos participantes.

A equipe entrou em contato com as assessorias dos candidatos nesta terça-feira (24) para que eles pudessem comentar as checagens.

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