No Flow, Datena desinforma sobre câmeras corporais da polícia e condenação de Pablo Marçal

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Em entrevista ao Flow Podcast na segunda-feira (9), o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena, desinformou ao dizer que as imagens das câmeras corporais de policiais mostrariam, na maior parte dos casos, uma atuação dentro da lei nos confrontos com criminosos.

Datena também enganou quando acusou a gestão do atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), de não ter feito nenhuma campanha publicitária de conscientização para evitar acidentes de trânsito.

O ex-apresentador de TV desinformou ainda quando disse que Pablo Marçal (PRTB) teria fugido para os Estados Unidos após ser condenado por furto qualificado, o que evitou sua prisão. Na realidade, a pena foi suspensa por prescrição.

A entrevista durou cerca de duas horas, e o vídeo acumula 145 mil visualizações no YouTube até a tarde desta terça-feira (10).

Confira, a seguir, um resumo do que checamos:

  1. É FALSO que a maioria das imagens de câmeras policiais mostram atuação dentro da lei da polícia durante confronto com bandidos. Não há dados disponíveis para sustentar a alegação. E um levantamento da Defensoria Pública de São Paulo feito a partir de 96 casos contradiz a conclusão do tucano;
  2. Diferentemente do que afirmou Datena, Pablo Marçal não fugiu para os Estados Unidos para não ter que cumprir pena de prisão após ser condenado por furto qualificado;
  3. Também não é verdade que a Prefeitura de São Paulo não tenha feito campanhas para evitar acidentes de trânsito. Há diversos registros de ações envolvendo órgãos municipais, como a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego);
  4. O apresentador superestimou o tamanho do efetivo da Polícia Militar ao dizer que são 100 mil homens. Na realidade, são cerca de 80 mil;
  5. Datena apresentou dados bem próximos à realidade quando citou os valores arrecadados pelas campanhas dos adversários.

“A maioria das câmeras corporais mostrou que as ações da polícia eram legalistas. Eram tiroteios legalistas contra bandidos.”

Não há dados sobre todos os registros das câmeras corporais em ações da polícia. Mas um levantamento da Defensoria Pública de São Paulo divulgado em junho, baseado em 96 audiências de custódia, apontou para um cenário oposto do que foi mencionado por Datena.

Os batalhões não disponibilizaram imagens de 56 casos. Nos 40 em que há imagens disponíveis, a Defensoria identificou:

  • 11 situações em que havia violência nas abordagens;
  • oito em que os policiais tiraram as câmeras dos uniformes;
  • e quatro em que os agentes tentaram encobrir o equipamento para evitar o registro das ações.

Ou seja, foram registradas 23 situações irregulares entre 40 analisadas — mais da metade. Apenas uma das ocorrências com imagens disponíveis confirmou a regularidade da abordagem policial. A declaração do candidato, portanto, foi classificada como FALSA.

Em metade dos 40 casos para os quais há imagens, o registro foi feito a partir de gravação de rotina, que filma de maneira ininterrupta, porém em menor qualidade de imagem e sem áudio. A chamada gravação intencional, que aumenta a resolução e capta som, depende do acionamento manual pelo agente e deve ocorrer a partir de “fato de interesse policial”, como atendimento de ocorrências, flagrantes ou perseguições.

“[Pablo Marçal] só não cumpriu prisão porque fugiu para os Estados Unidos.”

Não é verdade que Pablo Marçal (PRTB) fugiu para os Estados Unidos para não cumprir a pena de prisão por furto qualificado, à qual foi condenado em 2010.

O ex-coach, de fato, foi condenado pela Justiça por fazer parte de uma quadrilha que desviava dinheiro de contas bancárias após invadir computadores de correntistas usando emails falsos, infectados com vírus.

Quando o esquema foi desmontado pela Polícia Federal, em 2005, Marçal chegou a ser preso provisoriamente, mas foi solto após delatar seus companheiros e aguardou o julgamento em liberdade.

A condenação ocorreu em 2010, quando Marçal foi considerado culpado pelo crime de furto qualificado. Segundo a sentença, ele fazia a manutenção dos computadores da quadrilha e ajudava a operar um programa que montava as listas de emails para envio dos spams.

Apesar da condenação a quatro anos e cinco meses de reclusão, o candidato do PRTB não cumpriu pena porque ela foi extinta. Ao julgar o recurso apresentado pela defesa do réu, em 2018, a Justiça Federal entendeu que a punição havia prescrito após a condenação de 2010. Marçal foi beneficiado por uma regra que reduz pela metade o tempo de prescrição de crimes cometidos por menores de 21 anos, e ele tinha 18 anos em 2005.

“Por que ele [Nunes] não investiu em campanhas publicitárias que dissessem: não use seu carro como uma arma. Não use seu carro como uma arma, a vítima pode ser você. Se beber, não dirija.”

Há registros recorrentes de campanhas de conscientização de trânsito realizadas pela Prefeitura de São Paulo, ao contrário do que disse Datena. Por esse motivo a declaração do candidato tucano é FALSA.

Em maio deste ano, por exemplo, a SME (Secretaria Municipal de Educação) e a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) fizeram programações sobre o tema com teatro, cinema e outras iniciativas nos CEUs (Centros Educacionais Unificados).

No mesmo mês, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e a CET realizaram ações educativas de conscientização sobre a importância dos primeiros socorros para salvar vidas.

Nas redes sociais da CET também é possível ver diferentes publicações sobre o assunto, como a divulgação do Prêmio CET de Educação de Trânsito. No site do órgão também há uma lista das ações desenvolvidas para a conscientização da população entre 2015 e 2023.

“(…) com o poderio da Polícia Militar, que é um exército que temos aí de 100 mil homens, aproximadamente.”

A Polícia Militar de São Paulo conta com um efetivo de 80.037 militares, incluindo bombeiros, segundo dados recentes publicados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número é 20% menor do que o afirmado por Datena e por isso a declaração foi classificada como NÃO É BEM ASSIM.

O efetivo de 100 mil agentes, citado pelo tucano, é próximo da soma dos efetivos da Polícia Militar (80.037) e da Polícia Civil de São Paulo (21.089), que resulta em 101.126 pessoas.

“O Boulos [arrecadou] R$ 44 milhões. Ele [Nunes] R$ 27 milhões. A Tabata R$ 14 milhões. Eu, R$ 3 milhões.”

Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostram que os valores citados por Datena são próximos do que ele próprio e seus adversários Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) arrecadaram até o dia 2 de setembro de 2024, informação mais atualizada disponível.

Confira abaixo os valores exatos:

  • Boulos: R$ 44.643.484,03;
  • Nunes: R$ 32.040.000,00;
  • Tabata Amaral: R$ 15.081.697,00;
  • Datena: R$ 3.696.000,00.

O limite de gastos estipulado pela Justiça Eleitoral para cada candidato a prefeito de São Paulo para o primeiro turno é de R$ 67.276.114,50. Para o segundo turno, o limite é de R$ 26.910.445,80.


Outro lado. Aos Fatos procurou a assessoria de Datena na tarde desta terça-feira (10). Caso sejam enviados, os posicionamentos serão adicionados no texto posteriormente.

O caminho da checagem:

Aos Fatos acompanhou a entrevista de Datena ao Flow Podcast ao vivo na noite da última segunda-feira (9), utilizando a ferramenta Escriba para transcrever os diálogos.

Enquanto um dos editores selecionava declarações checáveis, um repórter verificava as informações a partir de bases públicas de dados, afirmações anteriores do candidato e reportagens. A equipe complementou a apuração nesta terça (10).

A reportagem também procurou a assessoria de imprensa do candidato para que pudesse comentar as checagens. O texto será atualizado em caso de resposta.

Referências

  1. YouTube
  2. Agência Brasil
  3. Folha de S.Paulo
  4. O Estado de S. Paulo
  5. Prefeitura de São Paulo (1 e 2)
  6. Instagram
  7. CET-SP (1 e 2)
  8. FBSP
  9. TSE (1, 2, 3, 4 e 5)
  10. Gazeta do Povo

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