Jornal Nacional
Boa noite! Nós estamos entrevistando nesta semana os candidatos à Presidência mais bem colocados na pesquisa Datafolha de intenção de voto divulgada no dia 28 de julho.
Pela ordem determinada em sorteio com a presença dos assessores dos partidos, Ciro Gomes do PDT é o entrevistado de hoje. Na quinta-feira será Luiz Inácio Lula da Silva do PT. E na sexta Simone Tebet do MDB. O candidato à reeleição Jair Bolsonaro do PL foi o entrevistado de ontem.
Em 40 minutos nós vamos abordar os temas que marcam essas candidaturas. E o candidato vai ter ainda um minuto par a as considerações finais. Candidato Ciro Gomes, boa noite!
Ciro Gomes
Boa noite, Bonner, boa noite, Renata. Boa noite a todos.
Jornal Nacional
Obrigada pela sua presença. O seu tempo começa a contar a partir de agora. A defesa da democracia e o apaziguamento do país têm sido temas centrais nessas eleições. O senhor mesmo tem criticado o clima de polarização entre os candidatos que estão à frente nas pesquisas, mas o senhor tem se referido a eles em termos bastante duros. Eu diria até em alguns casos ofensivos. É com esse discurso que o senhor pretende unir o país?
Ciro Gomes
Eu pretendo unir o Brasil ao redor de um projeto e esse projeto tem um diagnóstico.
Eu acho que o o Brasil vive hoje a mais grave crise. Se nós tomarmos em atenção os números do desemprego, da fome. Fome, fome, fome.
33 milhões de pessoas estão com fome.
O número citado por Ciro Gomes está no 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar). Segundo a pesquisa, 33,1 milhões de pessoas têm insegurança alimentar grave no país, ou seja, passam fome. Os dados foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir de entrevistas em 12.745 domicílios em todos os estados e no Distrito Federal.
Cento e vinte, não fizeram as três refeições hoje.
E há pessoas e grupos políticos responsáveis por essa tragédia. E eu acho francamente que a maior ameaça à democracia é o fracasso dela na vida do povo. Mas eu vou me esforçar para unir o Brasil. A unir unir o Brasil, reconciliar o Brasil. O que não me parece a ver com tradição.
Jornal Nacional
Esse é um tema que não é banal, é um tema extremamente importante pelo nível de polarização que nós temos enfrentado é importante atentar como governante, o eventual governante vai lidar com o contraditório, eventuais adversários. E eu volto a insistir na pergunta, o senhor tem se referido aos principais, outros candidatos que estão à frente nas pesquisas com termos bastante duros. Eu volto a lhe fazer a pergunta: esse discurso não agrava esse clima de polarização?
Ciro Gomes
Eu talvez deva levar em consideração sua pergunta, mas repare: a corrupção é praticada por pessoas, e o desastre econômico, o privilégio...
... que faz com que o Brasil tenha cinco pessoas acumulando a renda dos 100 milhões de nacionais, brasileiros mais pobres, de classe média.
Ciro se refere aos dados divulgados em 2017 pela Oxfam Brasil, organização que estima a desigualdade de renda no país. O relatório, último dado público disponível, afirma que seis brasileiros tinham à época uma riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões mais pobres. Além disso, os 5% mais ricos detinham a mesma fatia de renda dos demais 95%. Em 2022, a Oxfam divulgou outro recorte: segundo o relatório “A Desigualdade Mata”, os 20 maiores bilionários do país têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) do que 128 milhões de brasileiros (60% da população).
É responsabilidade de pessoas e de grupos.
Elas tem que ser apontadas, indicadas, mas não olhando para trás. Olhando para frente.
Porque a ciência da insanidade dizia o Einstein, talvez o maior cérebro da idade moderna, a ciência da insanidade é você repetir as mesmas coisas e esperar resultado diferente.
Ainda que a frase citada pelo candidato seja frequentemente atribuída a Albert Einstein, não há evidência de que o cientista alemão tenha dito algo semelhante. Essa declaração, que também já foi atribuída ao diplomata e escritor americano Benjamin Franklin e ao escritor americano Mark Twain, é dita por uma personagem do romance Sudden Death, da americana Rita Mae Brown, de 1983. Por isso, o livro The Ultimate Quotable Einstein (2011), de Alice Calaprice, atribui a Mae Brown a autoria desta citação.
Eu estou tentando mostrar ao povo brasileiro que essa polarização odienta, que eu não ajudei a construir, pelo contrário, eu estava lá em 2018 tentando advertir que as pessoas não podiam usar, vamos dizer, a promessa enganosa do Bolsonaro para repudiar a corrupção generalizada e o colapso econômico gravíssimo que foram produzidos pelo PT. Isso aconteceu no Brasil e agora está se tentando repetir uma espécie de 2018.
Portanto, a gente tem que denunciar isso, recompreendendo, respeitando, vou levar em consideração as suas ponderações, mas nós temos que ser duro, sabe? A corrupção é um flagelo no Brasil.
Jornal Nacional
Estou me referindo especificamente aos termos usados. A gente é importante lembrar que hoje esses adversários tem juntos 79% das intenções de voto. Então, o senhor está dizendo aqui que reavalia esse discurso?
Ciro Gomes
Eu devo sempre reavaliar. Eu faço esse esforço de humildade permanentemente. Minha tarefa é reconciliar o Brasil. Deixa eu lhe explicar aqui. O Brasil tem hoje, como eu lhe falei, pessoas que estão passando fome numa conta de metade da população.
E eu tenho um programa, um programa de renda mínima com status constitucional que vai entrar como uma ferramenta da Previdência Social, ou seja, para nos proteger das manipulações de véspera da eleição. Para que eu viabilize isso, eu tenho que confrontar aqueles que mandaram no Brasil durante esses anos todos.
E às vezes, eu sim, eu sou, eu tenho, eu venho de uma tradição, vamos dizer do Nordeste, a nossa cultura política é palavrosa, digamos assim. Às vezes, no Sul, no Sudeste, as pessoas não entendem bem. Não me custa nada rever. Sabe? Certos temas e tal, especialmente na proporção em que meu sonho é reconciliar o Brasil.
Jornal Nacional
O senhor trouxe à baila agora a economia. Então, o senhor falou até do programa de renda mínima, né? O governo atual aumentou o auxílio Brasil para R$ 600 só até dezembro. Esses R$ 200 a mais só até dezembro vão custar aí R$ 26 bilhões. O senhor me acionou, o senhor tem aí um plano de garantir uma renda mínima de R$ 1.000 para todas as famílias brasileiras de baixa renda e em caráter permanente. Como, candidato?
Ciro Gomes
Essa é uma boa pergunta porque eu peço às pessoas para me darem oportunidade numa, é cirotv.com.br . Ela vai estar no ar competindo com a Rede Globo a partir de sábado. Brincadeira, né? Mas eu quero explicar ali, né? Mas você me dá a oportunidade. Veja o que eu estou propondo é uma perna de um novo modelo previdenciário.
Então eu vou pegar o BPC (Benefício Prestação Continuada), a aposentadoria rural de muitos brasileiros que ainda remanescem, que não contribuíram no passado, o seguro desemprego. E pegar todos os programas de transferência, especialmente o novo Bolsa Família, que é o Auxílio Brasil, transformar em um direito previdenciário, constitucional. Ou seja, ninguém mais vai depender de político A, político B, eleição A, como está acontecendo. Ameaças e tentativas de manipular o sofrimento mais humilhado do nosso povo, das mães de família que estão vendo seus filhos dormir hoje com fome. Isso me dói o tempo todo. Essa é a minha história de vida.
E essa consolidação dá R$ 290 bilhões.
Jornal Nacional
Essa conta fecha, candidato?
Ciro Gomes
Fecha porque eu vou agregar para fechar os R$ 297 bilhões dos recursos que já existem. Eu vou agregar um tributo sobre grandes fortunas apenas e tão somente sobre os patrimônios superiores a R$ 20 milhões.
Entenda bem, só 58 mil brasileiros têm um patrimônio superior a R$ 20 milhões.
O que quer dizer o seguinte: que cada super rico no Brasil vai ajudar a financiar com R$ 0,50 apenas de cada R$ 100 da sua fortuna a sobrevivência digna de 821 brasileiros abaixo da linha de pobreza. Ou seja, aqueles domicílios que as pessoas ganham R$ 417,00 ou menos por cabeça, por mês.
Jornal Nacional
O seu plano de governo, além dessa proposta de garantir renda mínima, prevê ainda também reformas, né? Tem reforma tributária, tem reforma fiscal. E esse tipo de assunto precisa ser resolvido com o apoio do Congresso Nacional. O que nos leva a questão do isolamento. O senhor tem 40 anos de vida pública. O senhor foi prefeito, foi governador, foi deputado, ministro de estado. O senhor, hoje, disputa a Presidência da República pela quarta vez. E, no entanto, o seu partido PDT não conseguiu formar alianças nessa eleição. É fato!
A candidatura Ciro Gomes pelo PDT é uma candidatura, como se diz, puro sangue. É uma chapa sem alianças. Como é que o senhor pretende formar a maioria no Congresso pra aprovação das suas proposta?
Ciro Gomes
Eu proponho mudar o modelo econômico, que é uma tarefa profundamente complexa e difícil. Eu pretendo mudar também o governo, modelo de governança política. Pedindo às pessoas para pensarem juntos, juntas comigo. O Brasil se redemocratizou, se nós tomarmos eleições diretas para presidente em 89. O Collor governou com esse modelo e foi cassado.
O Fernando Henrique e o PSDB nunca mais ganharam eleição nacional governando com esse modelo. O Lula foi parar na cadeia governando com esse modelo.
Jornal Nacional
A que modelo o senhor se refere especificamente?
Ciro Gomes
É o que se convencionou chamar de presidencialismo de coalizão na expressão elegante do Fernando Henrique ou nessa adesão vexaminosa e corrupta ao centrão.
Mas a questão básica pra explicar. Então se a gente não chegar a conclusão, Bonner, Renata, de que este modelo é a certeza de uma crise eterna. Lula pra cadeia, Dilma cassada, Collor cassado, Fernando Henrique e o PSDB nunca mais disputaram a eleição nacional e Collor cassado. E o Bolsonaro desmoralizado agora.
Então veja, qual é a minha proposta? A minha proposta é transformar minha eleição. Isso é muito importante pra dona de casa que está nos ouvindo, pro cidadão brasileiro. Transformar a minha eleição não num voto pessoal, mas num plebiscito programático eu vou tentar forçar uma mão em todas as ocasiões que eu tiver oportunidade mais uma vez agradeço a vocês, aos senhores, estão me chamando de senhor, né? Está aqui pra que a gente discuta ideias, porque com isso eu celebro um uma uma nova cumplicidade com o povo brasileiro.
Isso diminui muito a distância entre o presidente que quer reformar o país, como eu quero, e um Congresso que tende a ser reativo naturalmente porque é filho grande. Deixa só eu completar porque são três argumentos breves. Então primeiro propor as ideias e não o deixa que eu chuto que tem sido a característica do populismo de lado a lado. É de direita e de esquerda. Propondo os seis primeiros meses é uma hora mágica. Se o Fernando Henrique propõe ali na sequência do Real eu estava lá, não é? Está aqui as reformas sem o que o Real não vai sobreviver. Tinha passado tudo. Não propuseram nada.
O Lula não propôs nada.
É FALSO que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não propôs reformas no início do governo. Em abril de 2003, três meses após tomar posse, o petista enviou ao Congresso propostas de reformas previdenciária e tributária. A PEC 40/2003 alterava regras da aposentadoria de servidores públicos e a PEC 41/2003 propunha mudanças na tributação, como a simplificação da cobrança de ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) pelos estados. As duas medidas foram promulgadas em dezembro daquele ano.
Perderam aquela hora mágica. Terceiro aí está a chave de inteligência de como é que eu tiro o Brasil dessa crise eterna: negociar.
Quem quer que o povo eleja, eu peço que elejam deputados do PDT. Eles começam com o número 12, então é tradição no Brasil que o presidente elege, uma vez eleito, elege com ele 50%, 10% do Congresso. Mas todos eles só elegem isso, terminam. Então propor a ideia, propor nos seis primeiro meses e ampliar a negociação com governadores e prefeitos.
Estabelecer um pacto novo libertando a o a falência dos estados e municípios.
Eu tenho os números todos: são R$ 600 bilhões de dívida...
A dívida de estados e municípios brasileiros com a União é de R$ 625,9 bilhões, conforme dados do Tesouro Nacional de abril de 2020. O valor é próximo do que foi citado por Ciro Gomes e, portanto, a declaração foi considerada verdadeira.
... que estão levando 15% da receita dos estados e municípios pra Brasília. Eu reestruturo essa dívida, reforço o caminho do investimento dos estados e municípios e os governadores e prefeitos vem pra mediação. Ponto. Acabou. Persistiu o impasse neste ou naquele ponto? Chama o povo pra votar diretamente através de plebiscitos.
Jornal Nacional
Ó, vamos falar de plebiscito daqui a pouco, mas o que chama atenção é porque em diversas eleições nós já vimos candidatos apostarem muito nesses seis meses mágicos, né? Tem uma lua de mel, como se chama na política. Muitas vezes, os candidatos apostam no capital político de uma vitória nas urnas para imaginar que ao longo dos seis meses terão a ao seu lado não apenas os eleitores, mas uma facilidade maior para, como o senhor acabou de dizer, convencer governadores recém eleitos a formarem essa força de mudança, digamos assim. No entanto, não é o que se tem visto na prática. O senhor tem uma receita pra que isso aconteça sem repetir o fracasso de tentativas anteriores nesse sentido que o senhor mesmo mencionou?
Ciro Gomes
A receita eu lhe repito, é tentar transformar a minha eleição numa eleição de ideias. Então você fala isolamento. O Bivar é presidente da União Brasil me pediram, jantamos juntos, me pediram pra deixar a porta aberta até o último dia e, no fim, foi honesto. Disse: olha o problema do Ciro não é a pessoa dele que nós queremos bem, gostamos são as ideias dele. Então é basicamente isso, a gente tem que entender que eu represento uma espécie de movimento abolicionista num sistema escravista.
Você não vai esperar que o escravista ajude o abolicionista. E é basicamente o que eu estou tentando fazer. Mas deixa eu lhe fazer. Se nós puxarmos a história brasileira recente nenhum presidente de verdade tinha concepção pra mudar o Brasil. Qual foi a proposta que foi feita pelo mágico momento que nós elegemos o Fernando Henrique, com o Real? Não teve. O primeiro ano transcorreu em Alves, como a gente diz no direito, ou seja, em branco, não é? Propôs mudar só o conceito de empresa nacional de capital nacional. Qual foi a concepção estratégica do Lula? Ambos se prostraram ao modelo econômico que produz desigualdade, desemprego, informalidade é a mais grave da história do Brasil e destruição dos serviços públicos, a infraestrutura do Brasil está caindo aos pedaços.
Jornal Nacional
Então, aproveitando esse nosso debate sobre governança, modelo de de governança, o senhor citou a ferramenta do plebiscito e já disse em outras ocasiões. Tem impasse, se houver impasse, plebiscito. Mas o que a história tem mostrado é que os plebiscitos tem sido usados por líderes populistas especialmente na América Latina como um instrumento pra esvaziar o Congresso, o Poder Legislativo criando crises institucionais graves. Esse tipo de democracia digamos assim democracia direta pode por em xeque a nossa democracia representativa. Como é que o senhor pode evitar isso?
Ciro Gomes
É olhando mais pra Europa, pros Estados Unidos do que pra Venezuela. Eu acho o regime da Venezuela abominável. Então é assim, é muito clara a minha distinção entre com esse populismo sul-americano que infelizmente o PT replica que, Ortega na Nicarágua, eu acho tudo isso trágico.
Qual é a questão aqui? É um é um modelo, é uma tentativa de se libertar o Brasil de uma crise que corrompeu organicamente a Presidência da República. Transformar a Presidência da República numa espécie de esconderijo do pacto de corrupção e fisiologia do Brasil. Nós chegamos ao limite da emenda do emenda do relator.
Eu gosto que formalizou. Eu vi ontem o cidadão aqui falando que não tem corrupção. A corrupção no Brasil está se institucionalizando, tal é o despudor com que se manipula os dinheiros públicos no Brasil hoje. Então, qual é a minha ideia? Primeiro, fazer com que a eleição seja um plebiscito programático. Isso faz uma diferença importante na tradição brasileira. Por exemplo, quando nós fomos com Fernando Henrique na eleição, era o Real que estava em debate, não era a personalidade do Fernando Henrique. Isso dá uma força mágica.
O tempo da reforma é a qualidade da reforma que diz, mas repare, o mais importante talvez seja alargar a negociação. Estabelecer uma mediação com os governadores e prefeitos que são as forças políticas. Eu tenho muita experiência que tem prevalência sobre os grupos de pressão e os lobbys. A corrupção e a fisiologia.
Eu tenho como fazer com que os governadores e prefeitos se envolvam nesse redesenho porque eu vou libertar 15% da receita de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul que estão falidos...
... pegando liminar para não pagar dívida.
Os estados citados por Ciro Gomes conseguiram liminares no STF (Supremo Tribunal Federal) para não pagar uma ou mais parcelas de suas dívidas com a União. Em 2020, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu o pagamento da dívida de São Paulo com a União por 180 dias em razão da pandemia. Os recursos economizados pelo estado, no entanto, só poderiam ser utilizados no combate à Covid-19. Decisões provisórias suspenderam também, desde 2018, parcelas da dívida mineira, que chegam a R$ 40 bilhões, somados juros e multas. Em março deste ano, o ministro Dias Toffoli determinou a suspensão, por três meses, do pagamento da dívida do estado do Rio de Janeiro. Já o Rio Grande do Sul homologou em julho um acordo para voltar a pagar a dívida com a União, que estava suspensa desde julho de 2017 por uma liminar concedida pelo Supremo.
Eu vou fazer o quê? Eu vou reestruturar isso, esses 15% vão ficar na mão dos governadores. Nós vamos combinar um grande projeto de investimento por onde eu vou dizer de onde virão 5 milhões de empregos nos dois primeiros anos, que é um dos elementos centrais também do meu projeto, que eu peço a atenção das pessoas para especializar como é que eu vou fazer lá. E aí eu vou conseguir uma mediação generosa. Persistindo em passe, Renata, é o Congresso que interessa chamar a população para desvendar esse impasse. Por exemplo, imposto sobre grande fortuna.
58 mil brasileiros em 212 milhões de pessoas são muito poderosos.
Dão as cartas, sabe? Controlam os elementos da política, centrais e tal. Eles vão ser contra isso. Ainda ontem tive uma discussão fraterna com um amigo velho querido que é contra, hostil demais com isso, que é o presidente do grupo Guararapes, meu amigo o Flávio, Flávio Rocha. E te disseram que era bate-boca. Não é bate-boca, é uma questão de modelo. E eu não estou querendo cobrar nada. Mas veja, essas pessoas vão dizer: não, isso é ruim. Isso vai fazer fuga de capital. Eu vou dizer: não. Se a alíquota fosse alta, sim, mas eu vou fazer uma alíquota moderada, calibrada com o IOF da remessa de lucro, da remessa de dinheiro para o estrangeiro de maneira que fica R$ 0,50 em cada R$ 100. E cada super-rico vai pagar a vida digna com R$ 1.000 por domicílio de 821 brasileiros mais pobres. Isso é sério. E aí vamos dizer se o Congresso persiste em passe [erro de transcrição]. Vamos pedir ao povo que vote.
Jornal Nacional
Mas a estratégia não parece ser tão simples assim. O senhor está contando que o Congresso aderirá. Mas, se o Congresso se opor a essa estratégia, a crise está instalada, né?
Ciro Gomes
Não. Eu vou energizar a política brasileira. Porque a crise brasileira está instalada e tem 30 anos. Deixa eu lhe dar aqui alguns rápidos breves números de quem acompanha a vida nacional e deu-se ao povo brasileiro por paixão e amor, que é a minha vida inteira. O Brasil tinha 34% da sua riqueza tirado da indústria, ...
... que paga os melhores salários, ...
As pesquisas Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de julho de 2022 e a Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2020 desmentem a alegação de Ciro Gomes. Na Pnad, o grupo com o maior rendimento médio real mensal é “administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais”, com R$ 4.186 por mês, enquanto a indústria geral está em terceiro, com R$ 2.721. Na Rais, o setor de serviços aparece com a maior remuneração real (R$ 3.802,88), e a indústria geral, em segundo (R$ 3.405,70).
... que dá os melhores empregos,
que hoje está com menos de 10% de participação no PIB ...
Não é verdade que a participação da indústria no PIB (Produto Interno Bruto) seja menor do que 10%. Dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostram que a fatia total do setor foi de 22,2% em 2021, última informação pública disponível. Se considerada apenas a indústria de transformação, ou seja, aquela que cria produtos finais ou intermediários para outras, a participação é de 11,1%. O levantamento foi feito com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
... destruíram a indústria nacional brasileira.
A tradição do desemprego no Brasil é 4%, 5%. Nós batemos em 12. Estamos aí na faixa de 10%. A informalidade está mandando para velhice.
Minha irmã, deixa eu lhe dizer, perdoa aqui a expressão. Mas é uma irmandade, uma fraternidade que eu estou pedindo. Nós estamos mandando para a velhice daqui 15 anos, 50 milhões de brasileiros que não terão nenhuma cobertura previdenciária. Só eu que estou preocupado com isso? Não é possível. A política não pode ser reduzida a essa coisa odienta. Sabe? De o Bolsonaro é um protesto contra a corrupção e a crise econômica que o PT produziu. Agora a frustração com Bolsonaro a gente vai voltar ao passado. O Brasil não aguenta mais isso.
Jornal Nacional
Candidato, além do capital político obtido com uma vitória expressiva nas urnas, além do apoio de governadores que o senhor descreveu aqui, além de uma união nacional em torno de uma ideia que o senhor venda, ao longo da campanha o senhor chegou a mencionar também, mais de uma vez, que o senhor pretendia assumir um compromisso com o eleitor brasileiro de não concorrer à reeleição.
Não terá sido o primeiro político a prometer isso, mas a questão que se apresenta é a seguinte: de que maneira um compromisso desses de "olha, não vou concorrer à eleição" poderia ajudá-lo a formar maioria no Congresso, como o senhor chegou a explicar em alguns momentos da sua campanha?
Ciro Gomes
Eu reafirmo aqui solenemente. Pode me cobrar.
Jornal Nacional
O senhor não tinha dito hoje.
Ciro Gomes
É porque você me interrompeu, e eu estava sendo extenso porque são quatro providências e um gesto. Então, as quatro providências são prebiscito programático, seis meses renegociação com a mediação de governadores e prefeitos, prebiscito para impasses então somente para eles. O gesto, abri mão da reeleição a partir de agora.
Jornal Nacional
Mas, então, por que que abrir mão da reeleição significaria para o senhor facilitar as suas relações com o Congresso Nacional?
Ciro Gomes
Porque o que destruiu a governança política brasileira nesse modelo que eu estou lhe falando é a reeleição. O presidente se colocar com medo dos conflitos porque quer agradar todo mundo para fazer a reeleição. o presidente se vende a esses grupos picaretas da política brasileira. Desculpa a expressão. Eu tenho, a pedido da Renata, trocar um pouco as expressões. Assim, grupos de pouco escrúpulo republicano. Também tenho essas expressões, sabe? Por quê? Porque tem medo de CPI e porque querem se reeleger. Eu tenho outra relação com a questão moral. Sabe? Eu me garanto. Eu não sou corrupto. Eu resolvi fazer uma vida republicana. Então, eu não tenho medo de CPI. Ao contrário, um governo como o meu CPI vai ajudar. Porque, se eu não roubo, não vou deixar ninguém roubar. Então, quem denunciar corrupção no meu governo estará coperando comigo. Eu abrindo mão da reeleição eu vou cuidar só de fazer a reforma que o país precisa. Veja, essa é a minha história.
Jornal Nacional
Mas a questão...
Ciro Gomes
Deixa eu só completar. Porque assim, a minha história, ...
... eu fui governador do Ceará. O mais popular governador do Brasil.
Uma pesquisa Datafolha divulgada em setembro de 1994 atribuiu a Ciro Gomes o mais alto índice de aprovação entre 12 governadores pesquisados. No levantamento, 74% dos entrevistados consideravam o seu governo no Ceará “ótimo” ou “bom”.
Nunca mais voltei.
Jornal Nacional
O Congresso vai olhar pro senhor de uma forma menos belicosa ou com maior boa vontade na aprovação dos seus projetos?
Ciro Gomes
Isto ajuda muito. Acredite, com a experiência que eu tenho, ajuda muito. Mas deixa eu lhe dizer, eu vou é negociar. Dizer de novo. Elejam deputados que tenham compromisso comigo, não necessariamente só do PDT, que tem um compromisso com esse conjunto de ideias, porque quem você eleger, desculpa eu me dirigir, com as pessoas quem você eleger, é com esses que eu sou democraticamente obrigado a negociar. A minha diferença é que o Bolsonaro, por exemplo, denunciou isso e fez o oposto do que denunciou.
A minha diferença é que o PT fez o tempo inteiro a denúncia da corrupção dos outros e depois negociou exatamente nas mesmas bases. Eu estou anunciando humildemente que quem quer que o povo eleja é com eles que eu vou negociar. O que eu prometo? Negociar em cima da mesa sem o toma lá dá cá e sem a roubalheira. Por quê? Porque eu vou substituir esta esse aliciamento por uma aliança do novo pacto da das finanças estaduais e municipais. Prefeitos e governadores. E tem um fusível.
Persistir o impasse somente naquele ponto onde os o impasse persistir por maioria simples, que eu monto entre a eleição e a posse. Isso é relativamente simples. Eu peço a autorização do Congresso pra fazer um plebiscito popular.
Jornal Nacional
Aí o senhor é eleito, o senhor consegue convencer o de que não vai concorrer a uma reeleição. E aí, digamos que o senhor consiga com isso fazer uma administração exitosa. Né? Ao fim de um mandato exitoso é muito natural que um presidente da República se converta num num eleitor poderoso do seu sucessor.
Ciro Gomes
Essa é a chave.
Jornal Nacional
Pois então, ao se converter num eleitor poderoso do seu sucessor, o senhor não contrai com a oposição no Congresso o mesmo problema daquele presidente que vai disputar a reeleição? No fim das contas, se o senhor vai fazer o seu o seu sucessor, não muda muito a história pra quem está no Congresso na oposição.
Ciro Gomes
Sim e não. Mas veja, a chave aqui é que naquela reeleição o povo estará sendo induzido voluntariamente a votar no projeto que gerou resultados positivos. É o que eu sonho para o Brasil: o país estar bombando, crescendo a 5% ao ano.
O meu projeto, Bonner, não sei se é impertinente eu mostrar. Ele está escrito é um livro que já vendeu mais de duzentos mil exemplares e eu peço pra quem puder. Tem de graça já na internet. Ele está explicado. Eu eu não estou dizendo que é fácil. Eu tô tentando sair dos impasses que acertam para o Brasil a maior crise econômica da história e maior crise política que não tem fim.
São 11 anos sem crescer.
O Brasil teve um crescimento médio de 0,3% entre 2011 e 2020, o pior desempenho dos últimos 120 anos, e estagnou em 2021 no mesmo patamar de 2012, de acordo com estudo publicado em 2021 pela FGV (Fundação Getulio Vargas). A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em junho, indicou que o rendimento médio mensal per capita do brasileiro no ano passado, de R$ 1.353, foi o menor desde 2012, início da série histórica.
27 milhões de brasileiros nasceram no nosso país.
Ciro superestima o crescimento da população brasileira ao fazer um paralelo com o desempenho da economia, que ficou estagnada na última década. Na verdade, entre 2009 e 2021, informação mais recente disponível no sistema de estatísticas do IBGE, o Brasil passou de 191,4 milhões de habitantes para 213,3 milhões — um crescimento, portanto, de 21,9 milhões de pessoas, 5 milhões a menos de pessoas do que o citado pelo candidato.
O país crescendo 0,26%, 1/4 de 1%, sabe?
Com perversões absolutamente graves na concentração de renda, na miséria, na violência, nas doenças ou no Brasil, Bonner, eu vi ontem um cidadão aqui. Eu vou atender o apelo da Renata, né? O senhor presidente da República dizendo aqui, mas veja bem, o Brasil, meu irmão, ...
... o Brasil tem 3% da população do mundo e no Brasil morreram 11 de cada 100 pessoas que morreram no mundo na pandemia.
A projeção do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é que atualmente há cerca de 215 milhões de habitantes no Brasil. Ao considerar que a população mundial alcança 7,9 bilhões, o país possui aproximadamente 2,7% do total, próximo aos 3% citados por Ciro Gomes. Quanto aos óbitos causados pela Covid-19, dados registrados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) até esta terça-feira (23) indicam 6.451.016 mortes no mundo, das quais 682,5 mil no Brasil. A proporção, de 10,6%, também é próxima aos 11% citados pelo candidato do PDT.
Não tem explicação. Foi o comportamento genocida, que é uma palavra ruim, dura, mas foi o comportamento anti-ciência, foi o adiamento eterno por politicagem barata. A questão das vacinas, numa briga vil. "Ah, em janeiro, vacinamos". Vacinamos porque o governador de São Paulo transformou isso na sua principal ferramenta. Fazer aqui uma homenagem ao João Doria, que, aliás, eu sobrevivo aqui porque grandes brasileiros claudicaram no caminho da pré-campanha e eu estou aqui, por quê? Porque é grande a massa de brasileiros e eu espero estar falando com eles hoje. Sabe que estão votando no Lula porque querem se livrar do Bolsonaro e esqueceram que amanhã tem um Brasil pra governar.
Uma grande massa de brasileiros que são frustradas pela enganação do Bolsonaro, mas que não querem votar o Lula e o PT, sabe? A gente não precisa aceitar isso. Por que que a gente não usa a sabedoria dos dois turnos? Eu estou pedindo pra mim uma oportunidade de aclarar as ideias. O Brasil tem saída.
Jornal Nacional
Agora, candidato, falando nesse seu plano que de governo que o senhor tem, que citou aqui… Mas o senhor vai precisar do apoio no Congresso, e a gente pode lembrar que o PDT não conseguiu votar coisas importantes como a PEC dos Precatórios, votar unido nessas questões importantes, né? Isso é um isso é um fato importante que tem que ser colocado.
Ciro Gomes
É importantíssimo. Eu por exemplo a única vez na vida que eu falei na palavra renunciar, desistir, foi naquela noite. Depois eu até entendi que foi um grande mal entendido. A bancada achava o seguinte: que se votasse contra era irrelevante, porque ia passar por esmagadora maioria. E aí tentaram atenuar os danos. Mitigar, que é o papel de uma posição pequena numa onda de 300 deputados.
Jornal Nacional
Por que não houve união do seu próprio partido naquele? Porque foi de madrugada?
Ciro Gomes
Então, eu estava explicando isso. Na madrugada, eu dormindo, nos entendimentos, ele disse, o Lira, o presidente Lira disse pra eles: "olha, nós temos 340 votos, mas nós queremos fazer por consenso". Então se vocês votarem junto pra fazer o consenso, nós vamos entregar aqui a proteção aos professores. Vamos tirar o precatório dos professores dessa restrição imoral. E eles de boa fé acreditaram. E consultaram meu irmão. E ao consultarem o meu irmão que é senador eles imaginaram que estavam me consultando. Foi um curto circuito.
Jornal Nacional
E ameaçar deixar o partido o senhor acha que foi...
Ciro Gomes
Deixar o partido não. Deixar a candidatura.
Jornal Nacional
Deixar a candidatura, você acha que foi a melhor estratégia?
Ciro Gomes
Foi um sinal de a quem eu sirvo. O meu senhor, eu tenho muita honra de estar no partido que mais construiu pra vida do brasileiro. É o PDT, é o trabalhismo, a corrente mais fecunda da história do Brasil. Eu estou muito feliz de estar aqui e eu espero morrer aqui. Eu que tive uma vida partidária relativamente trágica por contradição dos partidos que eu ajudei inclusive a criar, mas acima do meu partido está o meu, a minha vassalagem ao povo brasileiro.
Jornal Nacional
Vamos falar, candidato, então agora de meio ambiente, que é outro tema importantíssimo, né? A crise climática é um tema que se impõe a todo o planeta nesse momento. E no momento em que o Brasil vive aí um recorde de desmatamento. São três anos consecutivos, né? Só que o Brasil tem um compromisso com o mundo de acabar com o desmatamento ilegal até 2028. Né?
O senhor tem dito que vai resolver essa situação do desmatamento no Brasil. O senhor usa até uma expressão em inglês que é enforcement, que, traduzindo meio assim, seria algo como a lei pegar, vai fazer a lei pegar.
Ciro Gomes
Porque no Brasil é assim, essa lei não pegou.
Jornal Nacional
É porque no Brasil, às vezes uma lei pega, às vezes não pega…
Ciro Gomes
É, mas só entre nós, né?
Jornal Nacional
É fazer a lei ser cumprida, fazer a lei pegar. Mas isso basta, candidato?
Ciro Gomes
Veja, primeiro, antes de mais nada e, portanto, não basta. Primeiro, é preciso entender que o Brasil perdeu o senhorio sobre o seu território. Nós mandamos basicamente e são filhos ou eles mesmo que estão lá.
40 milhões de brasileiros migraram do Sul, do Nordeste para integrar para não entregar a Amazônia.
E sabe qual era a condição que o Incra impunha ao amazônida, ao brasileiro que foi trabalhar e produzir na Amazônia? Mostrar que desmatou.
Se ele não mostrasse que desmatou, o Incra não dava o papel da terra. De repente, no período de meia geração, isso vira crime hediondo. Os nossos irmãos de lá não entendem.
Jornal Nacional
Então como mudar essa cultura?
Ciro Gomes
É nisso que está a chave. Nós não podemos imaginar que só a repressão resolve. Nós temos que fazer primeiro uma base de desenvolvimento sustentável, que está na boca de muita gente e que não aterriza no território. Então o que é o território? Zoneamento econômico ecológico.
Estabelecer no mapa o georreferenciamento com satélite. Aqui pode, aqui não pode. Aqui pode, aqui não pode. Pegar as unidades de conservação, as terras indígenas, os biomas mais sensíveis. Que não é só a Amazônia, Mata Atlântica que está até se recuperando um pouquinho. A Caatinga está em está em extinção. O Pantanal está sofrendo como nunca sofreu também. Às vezes a Amazônia chama muita atenção do mundo, mas esses outros biomas brasileiros estão sofrendo do mesmo estresse. Então aqui pode, aqui não pode. A partir disso nós temos que fazer um grande esforço de retreinamento, de diversificação da atividade produtiva.
Por que que o nosso povo, nosso povo só sabe desmatar, pega madeira de lei sensível, corta e ganha dois mil dólares por um metro cúbico, dois metro cúbico de mogno? Ele não entende como é que ele vai passar fome, com o filho dele com fome ou tendo que ir embora. Com aquela aquela árvore ali podemos dar dois mil dólares com contrabando. Absolutamente grave. Nós precisamos fazer então um grande trabalho de reconversão da lógica produtiva. Proteger Manaus, que está sendo assediada pra ser destruída por conta de uma política malcinada de mudança do IPI do Bolsonaro.
Ali vem 8% da produção industrial brasileira.
Mas fazer com que a economia rural aprenda a ir a com financiamento, capacitação gerencial, acesso a mercado, marketing, sabe? Apoio ao comércio exterior, aprenda que a floresta vale muito mais em pé do que derrubada, biotecnologia, uma nova farmácia, biomassa, sabe, uma série de coisas que você com a floresta em pé. E aí reflorestamento. A área do Pará, por exemplo, o Pará já é praticamente todo deslorestado. Todo é um exagero, mas parte importante do Pará é desflorestado.
É preciso que a gente tenha clareza. Se nós fizermos um ambiente econômico ecológico… existe uma essência, que o deputado Giovani Queiroz que foi secretário de de cultura, um abraço pra ele e toda gente querida do Pará; e do Emílio Guelde, que me ajuda a pensar essas coisas, não é? O IMPA que me ajuda a pensar essas coisas da Amazônia, essa taca, teca aqui é uma madeira que vale mais do que o mogno. Então vamos ajudar a acontecer essas alternativas. Aí sim. Se você dá uma alternativa pra produzir em bases sustentáveis a repressão, o enforcement vale para o verdadeiro marginal. Vamos lá. Aquele pedaço… só uma informação.
Jornal Nacional
Seriam quatro anos de mandato pra fazer um projeto ambicioso.
Ciro Gomes
A minha tarefa é projetar o Brasil para os próximos 30 anos. Essa é que é a essência do projeto: eu quero transformar o Brasil pra que as pessoas terem como acompanhar… num Portugal sob ponto de vista de indicadores sociais e econômicos. Qualidade de vida, matrícula, maternidade, materno infantil, atenção à velhice, que é um tendência grave. Então, Portugal tem o seguinte padrão. O Brasil está em um padrão muito atrás. Eu quero, em 30 anos, que o Brasil vire um Portugal como qualidade de vida. E a minha etapa são os primeiros quatro anos.
Jornal Nacional
OK. Mas a nossa pergunta era sobre o meio ambiente. Eu vou lhe trazer de volta pra isso. Por quê? Nós temos uma questão urgente. Como eu disse na pergunta, em 2028, o Brasil tem que eliminar a o desmatamento ilegal. E o senhor tem se referido a fazer a lei pegar. Eu lhe pergunto: o arcabouço legal da área ambiental no Brasil lhe parece suficiente, adequado para fazer com que o Brasil, com esta urgência que temos, e não em 30 anos, com esta urgência, cumpra essas metas de acordos assinados firmados internacionalmente? Ou o senhor mudaria, o senhor tentaria encaminhar mudanças de legislação? E tem já algumas ideias nesse sentido?
Ciro Gomes
Tomar o pulso do controle do território brasileiro é no primeiro dia de um governo meu. Assim, restaurar autoridade. Eu estou lhe dizendo. Eu conheço ali Alto dos Solimões, Cabeça do Cachorro. Ali é território sem dono. Quem manda ali é o arrode do crime. Eu denunciei isso porque eu sei o que que está acontecendo no território brasileiro. Eu fui processado pelo atual ministro da defesa do Bolsonaro porque eu disse que tal extenso domínio pelo narcotráfico, pelo contrabando de armas, pela caça e pesca ilegais, pelo desflorestamento ilegal é um processo de crime de lavagem de dinheiro. E não aconteceria com tal extensão sem a conivência ou a omissão das Forças Armadas. O problema é que nós destruímos a estrutura de comando e controle no território, Bonner. Então assim, em princípio, a legislação deve estar sempre permeável para ser melhorada. E eu quero fazer isso permanentemente em audiência das cabeças ali da Amazônia.
Há um estudo acumulado para a gente sair do eixo São Paulo, Rio, Brasília, que muitas vezes idealiza uma coisa que não tem aderência lá. Mas olha, sabe onde é que estão deslorestando? Unidade de conservação. Sabe onde é que estão invadindo? Reservas indígenas já pactuadas. Sabe onde é que estão destruindo coisa de recursos hídricos, nascentes, etc, etc? Em áreas que já estão protegidas pelo Código Florestal. Ou seja.
Jornal Nacional
Candidato...
Ciro Gomes
Neste caso, falta mesmo é uma mão firme. E a algema vai voltar a funcionar no primeiro dia do meu governo. Disso ninguém duvide.
Jornal Nacional
Agora, seu plano de governo não trata de especificamente de um plano específico para tratar de emergências climáticas. As catástrofes naturais, enchentes, por exemplo. 457 brasileiros já morreram por causa da chuva. Qual é o seu plano para coordenar ações junto ao governo federal, estados e municípios nesse sentido?
Ciro Gomes
Nós vamos mapear. Está assim no meu plano e eu já, inclusive, chefiei a Defesa Civil e já fiz pioneiramente algumas algumas iniciativas nessa área. Nós já meio que sabemos Petrópolis, Encosta de Salvador, que está diminuindo muito graças ao grande governo que o ACM Neto fez lá como prefeito. Mas a gente já sabe. Recife todo ano.
Fortaleza não tem mais.
Há, atualmente, 89 áreas de risco de alagamento, inundação e desabamento em Fortaleza, que atingem 21.345 famílias, de acordo com a Defesa Civil do Ceará. O número de regiões nesta condição se mantém inalterado desde 2012, segundo reportagem do Diário do Nordeste. A Defesa Civil cearense considera áreas de risco locais com vulnerabilidades que ameaçam a segurança dos moradores.
Por quê? Porque nós mapeamos ao longo de muitos anos atrás todas as áreas de risco e passamos a atuar contínua e planejadamente com orçamentos fixos, com estratégia. E o Brasil não tem mais nada disso. Então, eu assumo claramente o compromisso disso. Mapear as áreas de risco do Brasil. Por quê? Porque os 5 milhões de empregos que eu pretendo germinar fundamentalmente são obras paradas.
14 mil obras paradas.
Há atualmente 11 mil obras paradas ou inacabadas no país, de acordo com monitoramento da CGU (Controladoria-Geral da União) dos contratos de empreendimentos com recursos federais, apresentado na Câmara dos Deputados em maio deste ano. Ciro Gomes provavelmente se refere a um dado antigo, divulgado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) em 2018, de que 14 mil obras com recursos da União estavam paralisadas no país.
E, fundamentalmente, subir o morro. Entrar na favela, entrar na palafita com reurbanização, drenagem, macrodrenagem, microdrenagem, contenção de encostas e reforma de moradia popular, saneamento básico. Isso daqui é o que gerará os tais 5 milhões de empregos em dois anos, que estão bastante bem mapeados. Ao lado de um esforço, que é estratégico, de transformar a educação pública do Brasil numa das 10 melhores do mundo em 15 anos.
Jornal Nacional
O senhor é a favor do saneamento básico com a participação da iniciativa privada. O senhor já se manifestou assim.
Ciro Gomes
Sim. É preciso, deixa eu só pontuar, é preciso que a responsabilidade por garantir a harmonia do sistema de saneamento e abastecimento d'água seja do estado. Mas a execução disso o estado pode perfeitamente delegar, se for possível.
Jornal Nacional
Mas a pergunta que eu lhe faço é por que o seu partido, PDT, foi contra o marco legal do saneamento, foi ao Supremo contra o marco legal. E isso me ocorre a pergunta: não poderia criar alguma desconfiança, algum temor de uma insegurança jurídica das empresas privadas no momento de, em um governo Ciro Gomes, entrarem para sanar esse problema, essa dívida que o Brasil tem em relação a saneamento básico no Brasil? São 100 milhões de pessoas sem esgoto no país.
Ciro Gomes
Nós precisamos resolver o problema. E, portanto, a minha compreensão é: a responsabilidade é pública, é estatal, mas a execução desse objetivo de universalizar o saneamento básico, abastecimento d'água, deve ser delegado a quem for mais eficiente de fazer. No Ceará, a companhia Cagece.
Eu apresento o Ceará porque é um lugar de onde eu já vim, onde eu já trabalhei, onde eu já fiz. E as pessoas podem atestar se as minhas ideias são praticáveis. Então, a Cagece do Ceará é estatal. Mas qual é a questão lá? Você tem o seguinte, vamos lá, os números eu nem sei direito, vou dar ordem de grandeza. O Ceará tem 184 municípios, a Cagece está em 20. E os outros município, 20 que dão lucro, que é o que eu estou querendo dizer, ou dez. Os outros dão prejuízo. Então o que que ela faz? Ela faz subsídio cruzado. Essa é a responsabilidade. Cedae no Rio de Janeiro privatizada. Você vai ver. Zona norte e zona oeste vão ter dificuldades graves. Por quê? Porque a Rocinha está de um lado e São Conrado do outro. A Rocinha não pode pagar o imobilizado nem a manutenção de um sistema eficaz de esgotamento sanitário. São Conrado pode pagar sobrado. Se eu privatizo, a lógica da privatização é o lucro. Ou eu tenho uma regulação forte. E essa é a razão pela qual nós desconfiamos do marco que foi votado.
Eu considero um avanço. Foi relatado por um grande brasileiro, senador Tasso Jereissati. Todo mundo conhece as minhas afinidades com ele. Mas a nossa preocupação é que não está nesse nesse marco o cuidado com isso. Se eu privatizo o filé, por exemplo, devolver o Galeão. Né? O Galeão foi concedido. Qual é o problema de conceder aeroporto? É o marco regulatório. Devolveu, fracassou.
Jornal Nacional
O senhor falou do seu estado do Ceará. O senhor… Então, vamos abordar a questão da segurança pública, que é um tema importantíssimo. O senhor já disse que o seu grupo político já tentou de tudo com relação a segurança pública em 15 anos no estado. E o senhor disse também que é lamentável, que infelizmente, que uma parte da polícia sempre acabava conivente com o crime. O senhor propõe um sistema único de segurança e a federalização da segurança, dessa área da segurança. Mas como é que isso evitaria o problema da conivência com o crime?
Ciro Gomes
A federalização é de algumas figuras penais. Eu estou seguro pela experiência, da tentativa erro, de que o enfrentamento das facções criminosas, que hoje dominam a periferia de todas as grandes cidades brasileiras, e das milícias, que a partir do Rio começam também a se sediar e até evoluir para lavar dinheiro e entrar na política, não serão enfrentadas localmente. Por uma circunstância que a gente pode entender quem conhece com intimidade o Brasil. O policial é um trabalhador. E é um trabalhador cuja família mora na periferia. E, se ele não acertar algum pacto de sobrevivência dele e da sua família naquela circunstância dominada pelo terrorismo da facção criminosa, é muito improvável que ele consiga sobreviver. Portanto, é preciso que o combate, essa figura seja feita de fora para dentro. Ou seja, com o governo federal.
E, a partir de uma outra ferramentaria. Inteligência, tecnologia e aparato. Aparato porque, sabe, dá vontade até de falar baixo, ...
... mas o Brasil tem 11.600 policiais apenas.
É FALSO que o Brasil tenha somente 11,6 mil policiais, como Ciro Gomes afirmou. Dado divulgado neste ano pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública estima em 480 mil o efetivo de policiais civis e militares na ativa em 2020, última contagem disponível. Há ainda 16.872 servidores em exercício na Polícia Federal, segundo o Portal da Transparência, e outros 13.854 na Polícia Rodoviária Federal.
Um terço de 1% do orçamento é o que é aplicado pelo Governo Federal em segurança pública. Agora, no atual governo, que prometeu trabalhar. Eu vou assumir, organizar o Sistema Único de Segurança Pública, que já está previsto e nunca funcionou, estabelecer bases tecnológicas científicas para padronizar a abordagem. Porque você, hoje, com algoritmos, talvez nem devesse ser tão explícita a minha proposta. Mas assim, com algoritmos, grandes policiais estão me ajudando, você pode antecipar manchas de crime e chegar antes. Chego a dizer que, sofisticadamente, a hora e o local onde provavelmente acontecerão assaltos e homicídios. E o Brasil não usa essa ferramentaria a não ser topicamente aqui ou acolá. Essa é a tarefa que eu...
Jornal Nacional
Mas a Secretaria Nacional de Segurança já existe há 25 anos. Em 2018, foi criada a lei que criou o Sistema Único de Segurança. De que forma a sua proposta diferiria desse aparato que já existe?
Ciro Gomes
É que a minha proposta resolve o problema tanto operacionalmente quanto financeiramente. Esse é o grande problema no Brasil, Renata. O que que aconteceu?
Se você tomar o orçamento brasileiro em segurança pública federal, é um terço de 1%.
O tempo inteiro, a retórica muda. E eu já assisti a esse debate quando, por exemplo, foi votado a equivocadíssima lei de combate ao tráfico de drogas no Brasil, que levou 800 mil jovens, negros e pobres, por regra das periferias do Brasil, para o presídio não tendo cometido por primeiro nenhuma violência. Foram ali na ilusão de aviãozinho do tráfico e tal. Na primeira noite que foram condenados, entraram no presídio, foram filiados a uma facção criminosa. E aí sim, de forma irrecuperável, bandidos altamente periculosos. Isso foi uma discussão.
Quantas vezes eu ouvi nos governos aqui com quem eu estive perto. O do Lula, especialmente quando aconteceu esse debate, era assim, não, segurança é problema dos estados. Não vamos nos meter nisso porque isso não tem saída, não tem solução. Isso é o bastidor. E eu acredito que não se pode desertar disso. E digo a você, se não o governo federal assumir para si, a tarefa inteirinha de investigar, de prender, de fazer a representação no Ministério Público julgar e aprisionar, isolando a comunicação da cabeça das facções criminosas, nenhum estado será capaz de resolver isso.
Jornal Nacional
Então essa é a proposta da federalização?
Ciro Gomes
Federalização das figuras penais. Vamos lá. Crime organizado, que a saber facções criminosas, milícias, narcotráfico, contrabando de armas e lavagem de dinheiro e crimes do colarinho branco da política passam a ser integralmente federais a partir da investigação até o segmento penitenciário.
Jornal Nacional
Candidato, nós não temos mais tempo para explorar alguma nova questão. Estouraríamos o tempo. Então, eu vou agradecer a sua presença e conceder agora ao senhor aquele minuto adicional que o senhor pode se dirigir aos seus eleitores para as considerações finais.
Ciro Gomes
Das cinco propostas que eu me propus a trazer hoje, eu ainda não lhes falei de uma que é inédita, que é a lei antiganância. Eu quero colocar uma lei em vigor no Brasil que eu conheço na Inglaterra, que é assim: todo mundo do crédito pessoal, do cartão de crédito, do cheque especial etc, ao pagar duas vezes a dívida que tem, fica quitado por lei. Isso é uma coisa polêmica. Eu estou apresentando aqui em homenagem ao William Bonner e a Renata em primeira mão. Jornal Nacional, certamente, que me deu essa oportunidade. Mas a você, meu irmão, eu peço só uma oportunidade. A partir de sábado vai estar no ar a cirotv.com.br. Me ajude! Me dê uma oportunidade de mudar o Brasil. É o que eu lhe peço. A ciência de errar é repetir as mesmas coisas do passado e imaginar que vai ter resultado diferente. Não vai. Me ajuda a livrar o Brasil dessa bola de chumbo do passado. Vamos nos esperançar de novo. Você que vota no Bolsonaro porque ele não quer o Lula de volta, me dá uma chance. Você que vota no Lula porque não quer mais o Bolsonaro, há um país para governar, Me dê uma oportunidade.
E você, indeciso, sabe quantos são vocês? Mais da metade da população.
É FALSO que mais da metade da população não escolheu em quem vai votar na eleição presidencial, conforme as pesquisas de intenção de voto mais recentes. Dados do Datafolha divulgados em 18 de agosto apontam que 2% dos brasileiros estão indecisos na pesquisa estimulada (quando os nomes dos candidatos são apresentados), e 22% na espontânea (quando é o eleitor quem cita o nome do candidato). Já o levantamento do Ipec de 15 de agosto apontou 7% de indecisos na pesquisa estimulada e 16% na espontânea.
Está na mão de vocês mudar o Brasil.
Jornal Nacional
Acabou o seu tempo, candidato.
Ciro Gomes
Perdão.
Jornal Nacional
Obrigada mais uma vez pela presença. O Jornal Nacional volta daqui a pouco.