Ao anunciar o fim da parceria da Meta com organizações de checagem de fatos nos Estados Unidos, Mark Zuckerberg afirmou que “verificadores têm sido politicamente tendenciosos demais”.
Além de a afirmação do CEO da empresa não ser verdadeira, a escolha de destacar apenas o trabalho relacionado à desinformação política e eleitoral ignora que outros tipos de posts nocivos também fazem parte do escopo de trabalho dos verificadores — como golpes financeiros e caça-cliques que exploram tragédias, sem qualquer viés político.
Apenas em 2024, o Aos Fatos, por exemplo, publicou 84 checagens sobre desinformações que não tinham conteúdo político. Somadas, as peças enganosas alcançaram 338 mil curtidas ou compartilhamentos e 15 milhões de visualizações nas redes.
Somente sobre fraudes digitais foram 24 checagens. Os estratagemas enganosos são difundidos em sua absoluta maioria por anúncios e posts feitos por contas falsas no Facebook e no Instagram. O mais recente foi o falso bolão da Mega da Virada, propagado por cerca de 200 anúncios no Facebook. Além dos criminosos, os golpes também são lucrativos para a Meta.
Posts pseudocientíficos que circulam nas redes da Meta afetam campanhas de saúde pública. A desinformação é prejudicial no combate a doenças como dengue, endêmica no Brasil. No ano passado, Aos Fatos publicou 12 checagens sobre a doença, sendo que onze delas propagavam falsos tratamentos ou curas sem qualquer base científica. Em 2024, o Brasil registrou 6,4 milhões de casos de dengue e quase 6 mil mortes.
Tragédias envolvendo desastres aéreos e extremos climáticos também são exploradas de forma recorrente em postagens enganosas nas redes da Meta. Em 2024, foram 37 checagens publicadas pelo Aos Fatos com esse contexto. Relatos mentirosos sobre milhares de corpos boiando durante as enchentes no Rio Grande do Sul, por exemplo, ajudaram a disseminar o pânico e aumentar ainda mais a dor de quem perdeu entes queridos.
Ao longo do ano, Aos Fatos também publicou desmentidos sobre o Papa, alimentos falsos, e precisou mostrar que o câncer de mama existe, diferentemente do que foi afirmado por uma médica no Instagram. O teor e a gravidade dos conteúdos desmentidos exigem verificações acima de discussões político-ideológicas, com informação de qualidade para a população.
Aos Fatos já publicou outras matérias e notas institucionais sobre a decisão de Mark Zuckerberg em acabar com a checagem de fatos nos Estados Unidos. Confira abaixo o que já foi publicado:
- Meta encerra checagem de fatos nos EUA e especialistas veem retrocesso
- Oportunismo de Zuckerberg com fim de checagem nos EUA é prenúncio do que virá no resto do mundo
- O fact-checking não é censura: é uma ferramenta que empodera os cidadãos
- Carta aberta dos checadores de fatos do mundo a Mark Zuckerberg, nove anos depois