Não é verdade que até hoje não se saiba o que havia nos celulares de Adélio Bispo, agressor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As publicações que retomam esse argumento enganoso omitem que os seus aparelhos foram periciados pela PF (Polícia Federal), que não encontrou nenhum conteúdo que contribuísse para a investigação.
Publicações que trazem essa desinformação para criticar o vazamento de mensagens do celular do ex-presidente ou a apreensão do aparelho do pastor Silas Malafaia acumulavam mais de 16 mil curtidas no Instagram e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta sexta-feira (22).
Engraçado! O celular do pastor Silas Malafaia foi apreendido e, em pouco tempo, suas conversas privadas foram vazadas. Já no caso de Adélio Bispo, até hoje pairam dúvidas sobre o acesso ao celular e sobre quem realmente financiou seus advogados. Esse é o sistema!

Voltou a circular nas redes a desinformação de que os aparelhos celulares de Adélio Bispo, agressor de Bolsonaro, não teriam sido apreendidos e periciados pela PF. As peças, que comparam a situação à de Silas Malafaia, que teve seu aparelho apreendido na última quarta-feira (20), ignoram toda a investigação do caso Adélio:
- O atentado ocorreu em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG). Adélio foi preso em flagrante;
- Dois dias depois, a Justiça autorizou a quebra de sigilo dos quatro aparelhos celulares e do notebook encontrados em posse do agressor;
- No dia 28 de setembro de 2018, a PF concluiu que Adélio agiu sozinho, mas abriu um segundo inquérito para continuar a investigação sobre a existência ou não de ajuda material ou de auxílio para o planejamento do atentado;
- Em maio de 2020, a PF concluiu o segundo inquérito e afirmou, mais uma vez, que Adélio agiu sozinho;
- Segundo o relatório, foram analisados mais de 6.000 mensagens e 40 mil emails, além da atividade no Facebook, que englobam cerca de 700 gigabytes de volume de dados;

- Ainda de acordo com o relatório da PF, dois aparelhos estavam com defeito, mas os outros foram analisados e não foram encontrados indícios que provassem o envolvimento de outras pessoas no ataque;
- Em novembro de 2021, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) autorizou também a quebra de sigilo bancário de Adélio e de seu advogado e a apuração foi reiniciada;
- Em 2023, foi noticiado que os investigadores apuravam uma suposta ligação entre o PCC e os advogados de Adélio, citando, por exemplo, que eles participavam de um grupo no WeChat chamado “AdélioPCC”. Segundo a defesa, no entanto, tratava-se de uma “brincadeira impensada de um dos advogados”;
- Em junho de 2024, a PF publicou um novo relatório, que mais uma vez concluía que Adélio agiu sozinho. Foi dito que os agentes identificaram uma suposta ligação de um dos advogados com o PCC, mas não encontraram nenhum elo entre a facção e o atentado.
Os posts, portanto, omitem que os celulares e o notebook de Adélio foram, sim, periciados, e só não houve divulgação de mais mensagens porque a polícia não identificou outros conteúdos relacionados à investigação.
A alegação de que nunca houve vazamentos envolvendo Adélio também é falsa: em outubro de 2018, a Veja publicou mensagens e um depoimento de Adélio e, em 2024, divulgou as cartas escritas pelo agressor na prisão.

Malafaia. Na última quarta-feira (20), o pastor Silas Malafaia teve seu celular apreendido e seu passaporte cancelado após decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes em meio à investigação do Inquérito 4.995, que apura condutas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
As ações foram baseadas em um pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), que entendeu que o pastor orientou ações de coação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Diferentemente do que sugerem as publicações, o conteúdo que foi divulgado foi encontrado no celular de Bolsonaro, não de Malafaia, que ainda está sendo investigado.
A PF recuperou mensagens do celular de Bolsonaro que, segundo os investigadores, confirmam que o ex-presidente desrespeitou as medidas cautelares impostas por Moraes.
O caminho da apuração
Aos Fatos consultou os relatórios divulgados pela PF sobre o caso de Adélio Bispo e procurou quais informações foram encontradas nos aparelhos eletrônicos periciados.
Também procuramos informações divulgadas pelo STF e pela imprensa referentes à investigação dos celulares do ex-presidente Jair Bolsonaro e do pastor Silas Malafaia.




