É falso que o CDC (Centers for Disease Control, órgão de Saúde do governo americano) verificou a existência de 21 mil casos de miocardite provocados por vacinas contra Covid-19 nos EUA, como alegou o cardiologista Peter McCullough em vídeo (veja aqui). O sistema da instituição para notificações voluntárias de efeitos adversos de imunizantes reunia 2.713 relatos de miocardite até a data da declaração. Como não foram verificados previamente por especialistas, esses casos não podem ser associados a vacinas, segundo o órgão.
Publicações com esta informação enganosa somavam ao menos centenas de compartilhamentos no Facebook nesta quinta-feira (9).
Nós temos alegadamente 21.000 casos de miocardite nos EUA que o CDC verificou
O CDC (Centers for Disease Control, órgão do governo americano) não verificou a existência de 21 mil casos de miocardite associados às vacinas contra a Covid-19 nos EUA, como disse o cardiologista Peter McCullough. O órgão possui um sistema de notificação de eventos adversos de imunizantes que recebeu 2.713 relatos da doença até 28 de janeiro deste ano. Os casos relatados, entretanto, não podem ser diretamente associados a vacinas porque foram incluídos voluntariamente, sem verificação prévia de especialistas.
A estimativa de relatos listados no Vaers (Vaccine Adverse Event Reporting System, sistema americano para notificação de efeitos adversos de vacinas) confirmados como miocardite é ainda menor: 1.626, segundo um estudo de pesquisadores do CDC publicado na revista científica Jama em janeiro deste ano, com dados até agosto de 2021. Mesmo assim, segundo os autores do estudo, esses casos não podem ser associados às vacinas.
Para chegar a esse número, o estudo aplicou critérios formais do CDC para confirmação de quadros de miocardite, como sintomas e exames cardíacos anormais, sobre o total de relatos enviados ao Vaers que citavam a doença. A pesquisa afirma que não se pode associar os casos aos imunizantes porque essa avaliação exigiria acompanhamento mais próximo dos pacientes por um intervalo de três a seis meses após os relatos.
Professora de farmacologia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Ana Paula Herrmann ressalta que é difícil comprovar, apenas com dados de plataformas como o Vaers, se foi de fato a vacina que causou a doença. Para ela, a melhor maneira de medir essa associação seria por meio de estudos randomizados, que comparam efeitos de um grupo que tomou o fármaco com os de outro que ingeriu placebo.
Apesar de reconhecer a possibilidade de risco após a vacinação, o CDC afirma que as chances de contrair e desenvolver a forma grave da Covid-19, ter sequelas ou morrer superam em muito os riscos de desenvolver miocardite depois de se vacinar.
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