É mentira que o câncer de mama não existe e que seus sintomas são causados por uma inflamação crônica decorrente do excesso de cálcio. As alegações enganosas disseminadas em vídeo que circula nas redes vão contra o consenso científico e foram desmentidas por diversas entidades, como o Inca (Instituto Nacional de Câncer) e a SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia).
As publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de curtidas no Instagram e milhares de visualizações no TikTok e no Kwai até a tarde desta quarta-feira (30).
O câncer de mama não existe
Posts nas redes têm compartilhado um vídeo em que uma médica dissemina uma série de mentiras sobre o câncer de mama. A profissional de saúde engana ao dizer que a doença não existe e que seus sintomas seriam causados por uma inflamação crônica tratável com um procedimento de reposição hormonal.
Em nota à imprensa, o Inca afirmou que a existência da doença é comprovada por evidências científicas e que os tumores malignos na mama são um dos tipos de câncer mais comuns entre as mulheres. A doença é responsável também pela maior parte das mortes por câncer entre mulheres.
Multifatorial, a doença é causada pela multiplicação desordenada de células anormais na mama. “Não há relação entre metabolismo do cálcio como efeito causador do câncer, e a queda dos níveis hormonais não causam câncer de mama”, afirmou ao Aos Fatos o oncologista Bruno Filardi.
Há diversos fatores de risco para a doença, como: idade, questões hormonais, histórico reprodutivo, questões comportamentais e ambientais, além de fatores genéticos e hereditários.
As opções de tratamento variam de acordo com a extensão e a localização do tumor, suas características biológicas, bem como as condições do paciente. A orientação para cada caso deve ser feita por um oncologista.
Reposição hormonal. Diferentemente do que sugere a autora das peças de desinformação, a reposição hormonal pode agravar alguns tipos de tumores malignos na mama. “A reposição é contraindicada em casos de câncer de mama, pois estimula o crescimento de células tumorais”, explicou Bruno Filardi.
A afirmação do médico é respaldada por nota da SBM, que explica que “a terapia de alguns casos de câncer de mama é feita através de bloqueio destes hormônios [estrógeno e progesterona], com resultados comprovados na diminuição da mortalidade”.
Mamografia. A SBM afirma ainda que a mamografia é a principal forma de prevenção de mortes pela doença. O diagnóstico precoce, possível por meio do exame, permite a descoberta do câncer em estágios iniciais, em que as chances de cura são maiores e os tratamentos, menos agressivos.
Diferentemente do que sugerem as peças de desinformação, também não há relatos comprovados de câncer de mama induzido por mamografia. Quando comparado a outros métodos de imagem, o exame, ao lado da radiografia de tórax, é o método com menor dose de radiação, segundo a Comissão Nacional de Mamografia do CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem).
Reação. O CRM-PA (Conselho Regional de Medicina do Pará) e o Sindmepa (Sindicato dos Médicos do Pará) refutaram as declarações da médica, identificada como Lana Tiani Almeida da Silva. A profissional tem inscrição no conselho do Pará, mas sem especialidade registrada.
O CRM informou a Globo que tomou conhecimento da publicação da médica na última terça-feira (29) e abriu procedimento, que tramita em sigilo, para apurar o ocorrido.
Outro lado. Aos Fatos tentou contato com a clínica de Silva, que tornou seu perfil do Instagram privado após a repercussão negativa do vídeo, mas não obteve resposta.
O caminho da apuração:
Consultamos o oncologista Bruno Filardi, assim como posicionamentos do Inca, da SBM e de outras entidades, que desmentiram o boato propagado pelo vídeo enganoso.
Verificamos também o posicionamento de entidades locais, como o Sindmepa e o CRM do Pará, que abriu procedimento para apurar as declarações da autora da peça de desinformação.