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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Maio de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Canais no YouTube somaram 31 milhões de views mesmo após bloqueio pelo Judiciário

Por Gisele Lobato

19 de maio de 2023, 14h02

Mesmo após o Judiciário determinar o bloqueio de canais de extrema-direita, o YouTube permitiu que Barbara Destefani, Rodrigo Constantino, Paulo Figueiredo e Paula Marisa publicassem novos vídeos e somassem 31 milhões de visualizações desde janeiro.

Apesar de as páginas iniciais desses canais aparecerem como indisponíveis, os donos continuaram produzindo conteúdo e ganharam audiência no Brasil graças a recomendações do algoritmo da plataforma, indexação em serviços de busca — principalmente o Google, que controla o YouTube — e compartilhamento de links diretos em aplicativos como Telegram e WhatsApp.

As URLs dos vídeos são independentes da URL da página inicial dos canais banidos, embora as métricas desses conteúdos, como visualizações, sejam contabilizadas para o canal como um todo. Dos bloqueados, o canal que registrou maior número de visualizações em conteúdos postados após o bloqueio foi o de Paulo Figueiredo:

  • Foram 125 vídeos publicados no YouTube depois de 3 de janeiro, data em que as redes dele começaram a ser derrubadas por ordem judicial;
  • Os vídeos somaram mais de 11 milhões de visualizações;
  • Em média, cada um desses conteúdos foi visto 88.722 vezes;
  • A audiência cresceu 47,2% na comparação com a média dos vídeos postados em 2022.

Recomendações feitas pelo próprio YouTube colaboraram para o crescimento do canal do influenciador. O Aos Fatos identificou a sugestão de links para conteúdos recentes de Figueiredo em vídeos dos programas Pânico e Os Pingos nos Is, da Jovem Pan, e no canal Linhagem Geek. Os vídeos também estavam indexados nas buscas tanto do Google como do YouTube.

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O youtuber ensinou outro método de contornar a restrição de acesso a sua página em live que promoveu com os deputados federais Mario Frias (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), no último dia 24 de abril:

“Clique em ‘inscreva-se no canal’ e ative o sininho das notificações, porque o canal está bloqueado, mas os vídeos não podem ser bloqueados. Então, você recebe, e o YouTube recomenda muitas vezes, a notificação desses vídeos que estão acontecendo”, declarou na transmissão realizada em seu canal bloqueado.

Os vídeos de Paulo Figueiredo continuavam no ar mesmo após o Aos Fatos revelar, na segunda-feira (15), que a influenciadora Barbara Destefani também se beneficiava de recomendações do YouTube para manter a audiência do canal Te Atualizei, que teve 10,9 milhões de visualizações após ordem judicial de bloqueio. Assim como ocorreu no caso de Destefani, o YouTube só retirou do ar conteúdos do canal bloqueado de Figueiredo após o Aos Fatos questioná-lo, na quinta-feira (18).

Os vídeos do Te Atualizei só saíram do ar no fim de semana passado após pedido de posicionamento enviado pelo Aos Fatos ao YouTube. No último dia 16, outro influenciador bloqueado, Rodrigo Constantino, informou aos seguidores de sua nova conta no Twitter que também seus vídeos no YouTube tinham ficado indisponíveis no Brasil.

Print de tela mostra vídeos de Constantino indexados no Google
Bloqueado? Vídeos novos do canal de Constantino estavam indexados na busca do Google (Reprodução)

Desde a notícia de que seu canal havia sido bloqueado, no início de janeiro, Constantino subiu 131 vídeos no YouTube, que somaram 6,3 milhões de visualizações, segundo levantamento do Aos Fatos. Em média, os vídeos publicados após o bloqueio tiveram uma queda na audiência de apenas 13,7% na comparação com 2022, quando a demanda por conteúdo hiperpartidário estava aquecida em virtude das eleições presidenciais.

Constantino vive nos Estados Unidos, local não abarcado pela ordem de bloqueio de suas redes sociais. Entretanto, até a última quarta-feira (17), vídeos novos do canal restrito ainda estavam indexados na busca do Google no Brasil.

Já Paula Marisa, cujas redes também foram bloqueadas em janeiro, postou 33 vídeos desde a imposição da restrição, com 2,7 milhões de visualizações. Até esta sexta (19), o conteúdo podia ser acessado pelas buscas do Google e do YouTube e por recomendações da plataforma de vídeo — a reportagem identificou um desses impulsionamentos no canal Leo Uchiha.

A influenciadora também compartilhava links para vídeos do canal bloqueado em seus perfis alternativos nas redes sociais. Ainda assim, seu conteúdo foi o único identificado que teve queda significativa na audiência após a ordem judicial, de 43,5%.

Print mostra card divulgado por Paula Marisa para divulgar vídeo de canal bloqueado
Jeitinho. Paula Marisa usa conta em perfil alternativo para levar audiência para vídeo de canal bloqueado no YouTube (Reprodução)

O Aos Fatos contabilizou as visualizações apenas de vídeos publicados após o bloqueio dos canais. O levantamento foi feito utilizando o YouTube Data Tools, ferramenta desenvolvida pela Universidade de Amsterdã.

Os processos que determinaram o bloqueio das redes sociais dos quatro influenciadores estão sob sigilo judicial. Segundo a CNN Brasil, a derrubada dos canais de Figueiredo e Constantino foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes. Ambos estariam sendo investigados por divulgação de discurso de ódio e antidemocrático.

Após as eleições, os dois influenciadores fizeram comentários em transmissões na Jovem Pan questionando o resultado das urnas, o que levou o Ministério Público Federal em São Paulo a instaurar inquérito para investigar a emissora. Conforme o Aos Fatos noticiou, Figueiredo chegou a defender a deflagração de uma “guerra civil” semanas antes dos ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília.

O caso de Paula Marisa, assim como o de Barbara Destefani, é atribuído ao inquérito que investiga os ataques de 8 de janeiro, também sob a responsabilidade de Moraes.

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‘CENSURA DO XANDÃO’

A derrubada dos vídeos de Barbara Destefani e Rodrigo Constantino provocou reação de setores da extrema-direita, que buscaram relacionar a medida com a participação dos dois influenciadores em uma audiência pública ocorrida na Comissão de Comunicação da Câmara, no dia 11. A reunião foi convocada pelo deputado Gustavo Gayer (PL-GO) para discutir medidas do Judiciário que estariam supostamente institucionalizando “a censura no Brasil”.


Protesto. Conta no TikTok atribui derrubada de vídeos do Te Atualizei a suposta nova ordem do STF (Reprodução)

Não existe nenhum indício, porém, que a remoção dos vídeos tenha ligação com a audiência. A ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel, que também deu depoimento à comissão, segue com livre acesso a suas redes sociais — não consta nenhum bloqueio anterior contra ela.

A derrubada dos vídeos levou a uma corrida dos alvos de inquéritos no STF para criar novas contas nas redes sociais e divulgar seus canais alternativos em plataformas que costumam abrigar conteúdo de extrema-direita. Figueiredo chegou a fazer uma live no seu canal bloqueado do YouTube prevendo que seria o próximo alvo da suposta nova investida do STF.


Urgente! Neto de último presidente da ditadura usou vídeo em canal bloqueado para angariar seguidores para seus perfis alternativos

“Começou no final de semana uma nova escalada do Supremo Tribunal Federal contra jornalistas como eu, como o Constantino, como a Barbara Te Atualizei”, declarou o youtuber, afirmando que uma suposta nova ordem judicial teria determinado as remoções de seus vídeos, que “continuavam tendo muitas visualizações apesar do bloqueio do canal”.

Os vídeos foram removidos na quinta-feira (18), horas após o pedido de posicionamento do Aos Fatos ao YouTube.

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OUTRO LADO

A reportagem enviou pedidos de posicionamento ao Google e ao YouTube no último dia 12 sobre o caso do Te Atualizei e, no dia 15, pediu também que a plataforma de vídeos explicasse se a remoção do conteúdo de Barbara Destefani tinha relação com o questionamento feito pela reportagem. Nesta semana, as perguntas foram reforçadas, e o pedido de posicionamento foi estendido para a situação dos canais de Figueiredo, Constantino e Paula Marisa.

O Aos Fatos questionou por que a plataforma permitia a publicação, indexação, assinatura e promoção orgânica de vídeos de canais bloqueados pelo Judiciário. Na manhã desta sexta (19), foi questionado o motivo da derrubada dos vídeos de Figueiredo, bem como o porquê de o conteúdo de Paula Marisa continuar disponível. O YouTube respondeu que não iria comentar os casos “pois o processo corre em sigilo”.

Foram enviados pedidos de posicionamento aos quatro influenciadores citados no texto, por meio de emails informados em suas redes sociais, mas não houve retorno.

A reportagem também procurou o STF para perguntar se a política do YouTube descumpria as decisões de janeiro, bem como para saber se houve qualquer nova decisão do tribunal desde a semana passada determinando a remoção de vídeos. O STF não respondeu.

Referências

1. Gazeta do Povo
2. Aos Fatos (1 e 2)
3. Poder 360
4. Twitter
5. Ministério Público Federal
6. Rádio Itatiaia
7. Câmara dos Deputados

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