🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Bolsonaro mente a podcasters evangélicos sobre compra de imóveis em dinheiro vivo

Por Amanda Ribeiro

13 de setembro de 2022, 18h03

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) mentiu nesta segunda-feira (12) ao pôr em dúvida a informação revelada pelo UOL de que ele e sua família compraram 51 imóveis em dinheiro vivo. Em entrevista a podcasters evangélicos, o mandatário afirmou que os termos que constam nas escrituras das propriedades não se referem a valores em espécie, um argumento que já foi desmentido por oficiais de cartório e corretores.

Bolsonaro também inflou, durante a entrevista, os gastos do governo federal com auxílio emergencial e combate à pandemia e distorceu o sentido de uma fala do adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre pastores e generais.

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Banco de Discursos Leia a íntegra da entrevista de Bolsonaro a podcasters evangélicos

Veja a seguir, em detalhes, o que checamos:


Selo falso

Olha só, o que que é o chamamento da matéria? Dinheiro vivo. Em toda escritura tá escrito moeda corrente. É o dinheiro em vigor hoje em dia. Pode ser dinheiro vivo, pode ser cheque, pode ser DOC, pode ser qualquer coisa.

Ao citar a revelação de que 51 imóveis foram comprados com dinheiro vivo por membros de sua família, Bolsonaro afirma que a reportagem do UOL errou ao considerar “moeda corrente” sinônimo de “dinheiro vivo”. O site, entretanto, confirmou com oficiais de cartórios e corretores imobiliários que o termo é usado em referência a valores em espécie.

Além disso, algumas escrituras trazem expressões específicas para dinheiro vivo, como “moeda corrente contada e achada certa” e “em espécie”. Essas expressões, segundo as fontes citadas, são usadas para diferenciar o uso de montantes em espécie de outras formas de pagamento, como cheques, notas promissórias, depósitos bancários ou cartões de crédito e débito.

Dos 107 bens listados pelo UOL, 17 estão na investigação do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) de supostos casos de corrupção nos gabinetes do vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no chamado “escândalo das rachadinhas”. Outras 24 propriedades foram registradas em São Paulo, onde os cartórios precisam especificar nas escrituras qual a forma de pagamento adotada desde 1989.


Selo falso

O que o Lula falou aqui sobre os generais? Falou sobre pastores e generais. Vou colocá-los nos seus devidos lugares. Como diz assim: ó, eu vou mandar em você, pastor, eu vou mandar em você, general. É isso que ele falou.

Neste trecho da entrevista, Bolsonaro distorce o sentido de uma declaração dada em 25 de agosto de 2021 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em evento em Natal (RN). O petista não disse que iria mandar em pastores e generais, mas que conversaria com as Forças Armadas para limitar a participação de militares da ativa no governo. Na ocasião, o candidato do PT também listou segmentos com quem manteria diálogo, entre eles os religiosos.

Confira o trecho completo da fala:

“E tem gente que pergunta: mas Lula, você vai conversar com as Forças Armadas? Eu estou conversando com as Forças Armadas agora, com essa resposta que eu estou dando para você. Eu estou conversando com quem é das Forças Armadas, eu estou conversando com quem é do Ministério Público, eu estou conversando com quem é da Polícia Federal, eu estou conversando com quem é pastor, com quem é padre, com quem é ateu. Eu vou conversar com todo mundo enquanto povo brasileiro, enquanto eleitores. Se eu ganhar as eleições, aí eu vou conversar com os militares como chefe das Forças Armadas, como chefe supremo, para dizer qual é o papel deles: não é se intrometer na política, porque isso não está certo. Nem hoje, nem ontem, nem antes de ontem. Eles têm que entender que eles têm um papel importante na defesa da soberania brasileira e na defesa do bem estar do povo brasileiro. O que eles não podem é dar sustentação a um genocida que já é responsável por quase 600 mil mortes nesse país".

Um vídeo que traz a mesma fala de Lula editada circulou nas redes sociais em janeiro deste ano para sugerir que, caso eleito, o petista conversaria com o “chefe do Supremo Tribunal Federal” para censurar líderes religiosos. O conteúdo foi desmentido pelo Aos Fatos.


Selo falso

Isso [auxílio emergencial de R$ 600] representava por mês um endividamento de R$ 50 bilhões.

Bolsonaro confunde endividamento com despesa ao mencionar os valores que teriam sido gastos pelo governo federal com o auxílio emergencial em 2020.

A despesa média mensal é o gasto com determinado produto ou serviço. Entre abril e setembro daquele ano — época em que o auxílio de R$ 600 foi pago — ela foi de R$ 39,3 bilhões, segundo o Tesouro Transparente, plataforma de monitoramento de gastos do governo federal. Em valores corrigidos pela inflação, a soma chega a R$ 45,7 bilhões, mais próxima à citada pelo presidente.

O endividamento total do governo no período em que foi distribuído o auxílio emergencial (abril e setembro de 2020) foi de R$ 18,3 bilhões mensais em média.

Essa alegação enganosa já foi repetida por Bolsonaro ao menos 20 vezes, de acordo com o contador de declarações falsas e distorcidas do Aos Fatos.


Selo não é bem assim

O gasto em 2020 bateu R$ 700 bilhões com a Covid.

Bolsonaro já repetiu ao menos 23 vezes o exagero de que o governo federal gastou R$ 700 bilhões no combate à Covid-19 em 2020. Na realidade, foram destinados R$ 524 bilhões, ou R$ 610,8 bilhões, em valores atualizados pelo IPCA, segundo o Tesouro Transparente. A quantia citada pelo presidente só é alcançada quando são considerados gastos previstos e não executados: R$ 604,7 bilhões, ou R$ 704,1 bilhões, se corrigidos pela inflação.

Outro lado. Procurada por Aos Fatos para comentar o resultado das checagens, a assessoria da campanha de Bolsonaro não respondeu.

Referências:

1. UOL (1 e 2)
2. G1 (1 e 2)
3. YouTube (Lula)
4. Aos Fatos (1, 2 e 3)
5. Tesouro Transparente

A reportagem foi corrigida no dia 13 de setembro, às 20h10. O endividamento médio mensal de R$ 18,3 bilhões de reais entre abril e setembro de 2020 refere-se à dívida total do governo e não apenas ao impacto do auxílio emergencial no endividamento do Governo Federal. A alteração não afeta o selo da checagem.

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