Sem discursos públicos desde o dia 2 de novembro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem restringido suas manifestações às redes sociais. Na última quinta-feira (1º), a conta de Bolsonaro no Twitter publicou uma foto antiga em que ele aparece escrevendo em um papel sobre o colo, o que foi interpretado por parte de seus seguidores como a assinatura de algum tipo de autorização — que não existe — à atuação das Forças Armadas para impedir que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tome posse.
A imagem original foi registrada no dia 7 de junho de 2022, durante uma entrevista do presidente ao programa Perspectivas, do SBT News.
A publicação de Bolsonaro não foi acompanhada de qualquer legenda. Apoiadores enxergaram nisso uma mensagem golpista nas entrelinhas: usuários do Twitter, por exemplo, interpretaram a foto como uma sugestão de que o presidente estaria “assinando o artigo 142” para determinar uma intervenção militar nos poderes constitucionais, com base em uma interpretação falsa do texto.
No Facebook, viralizou um vídeo que mostrava uma movimentação de caminhões do Exército pelas estradas brasileiras. Segundo o autor, as Forças Armadas teriam começado a agir logo após a publicação da foto. As imagens utilizadas na publicação, no entanto, foram gravadas há quatro anos.
A relação entre Forças Armadas e a foto enigmática também pautou os apresentadores da Jovem Pan News de Bauru. “Pode ser ele assinando algum documento futuro, alguma atitude que ele venha a adotar. A gente tem que lembrar que tivemos aí dois, três dias (...) de reunião do alto comando das Forças Armadas daqui do Brasil. Terminou ontem essa reunião. (...) Pode ser uma foto mandando recado na mesma linha da outra foto, sozinho com o brasão do Brasil, dizendo ‘olha, o presidente sou eu. Caneta está comigo eu que mando”, disse Eduardo Borgo.
A publicação de Bolsonaro ocorre na esteira de um movimento desinformativo nas redes sociais que tenta emplacar que o presidente e os militares estariam se movimentando para dar um golpe de Estado. Nas últimas semanas, também têm ressurgido nas redes falas antigas do presidente para sugerir que ele não teria aceitado o resultado das eleições, imagens descontextualizadas de movimentações militares e áudios golpistas falsamente atribuídos a outras lideranças políticas.