Bolsonaro diz ao Congresso que rejeita violações de direitos humanos, mas a prática é outra

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Em mensagem ao Congresso Nacional, o presidente Jair Bolsonaro afirmou rejeitar ditaduras e desrespeito aos direitos humanos, o que contraria declarações anteriores em que defendeu a tortura e atacou minorias, como mulheres e homossexuais. Bolsonaro também afirmou que já era possível perceber avanços econômicos graças ao seu governo. Sua equipe de governo, no entanto, não adotou nenhuma medida econômica nos primeiros 30 dias de governo. Os indicadores elencados por ele já vinham em trajetória de alta desde o governo anterior.

A carta de Bolsonaro foi lida na abertura do ano legislativo na segunda-feira (4) pela deputada Soraya Santos (PR-RJ), primeira secretária da Câmara.

Veja abaixo a transcrição da mensagem presidencial e as checagens de Aos Fatos:

Jair Bolsonaro

Senhoras e Senhores Congressistas,

O Governo brasileiro vem ao Parlamento – na abertura deste ano legislativo – trazer uma mensagem de esperança. A esperança de que falo é a esperança da atitude e da liberdade.

Falo, ainda, da resistência de um povo, de uma Nação. O Brasil resistiu a décadas de uma operação cultural e política destinada a destruir a essência mais singela e solidária de nosso povo, representada nos valores da civilização judaico-cristã. Esse processo começou pela dominação cultural nos espaços de formação e informação, passou pela ocupação do poder nas estruturas públicas e instituições e, por fim, chegou ao próprio Governo. O Estado foi assaltado. O Erário foi colocado à disposição de tiranetes mundo afora. E a democracia ficou vulnerável diante de tamanha dilapidação moral e ética.

Os brasileiros, especialmente os mais pobres, conhecem o resultado da era que terminou: a pior recessão econômica da história nos foi legada. Treze milhões de desempregados! Isso foi resultado direto do maior esquema de corrupção do planeta, criado para custear um projeto de poder local e continental.

O combate à miséria foi limitado à maquiagem nos números. Indicadores foram alterados para fins de propaganda, sem implicar melhoria nas condições de vida da população.

A criminalidade bateu recordes, fruto do enfraquecimento das forças de segurança e de leis demasiadamente permissivas. O governo de então foi tímido na proteção da vítima e efusivo na vitimização social do criminoso. A mentalidade era: quem deve ir para o banco dos réus é a sociedade.

Isso acabou! O Governo brasileiro declara guerra ao crime organizado. Guerra moral, guerra jurídica, guerra de combate. Não temos pena e nem medo de criminoso. A eles sejam dadas as garantias da lei e que tais leis sejam mais duras. Nosso governo já está trabalhando nessa direção.

Os mais vulneráveis foram os que mais sofreram com a degradação da segurança. Mulheres, crianças, pobres e negros eram objeto de discurso, mas não de políticas consistentes de proteção. Não vamos descansar enquanto o Brasil não for um país mais seguro, em que as pessoas possam viver em paz com suas famílias.

Nas relações internacionais, o Brasil deu as costas para o mundo livre e desenvolvido. Na saúde, o povo foi abandonado...

... e os índices de mortalidade infantil voltaram a subir, depois de décadas de queda.

É fato que houve crescimento da mortalidade infantil de 2015 para 2016 (a taxa subiu de 14,3 para 14,9). A declaração, no entanto, é IMPRECISA porque o estudo que trouxe o aumento foi atualizado e, em 2017, a taxa voltou a cair. O levantamento da Fundação Abrinq, com informações do Ministério da Saúde, traz dados desde 2000, quando a taxa de mortalidade na infância (óbitos de crianças menores de um ano para cada mil nascidos vivos) de 30,1. O número foi caindo até chegar a 14,3 em 2015, quando teve uma leve alta em 2016, atingindo 14,9. Em 2017, último ano disponível, a taxa voltou a cair: 14,4. Segundo o Ministério da Saúde, uma das principais causas do crescimento da mortalidade infantil de 2015 para 2016 foi a queda de nascimentos. Isso acontece porque quanto menos nascimentos, menor a quantidade de óbitos necessária para impactar a taxa. Outra causa foi a epidemia de zika, que começou em 2015, mas teve o auge entre novembro daquele ano e abril de 2016.

O meio ambiente virou bandeira ideológica, prejudicando quem produz e quem preserva – que, diferentemente do que se prega, são as mesmas pessoas. De novo: mais um objeto de discurso, que, na prática, ficou desprotegido.

O Estado sobrepõe dezenas de estruturas de fiscalização, inibe quem quer produzir, mas não conseguiu coibir a tragédia de Brumadinho. Aproveito para enfatizar que continuaremos empregando toda nossa energia para dar suporte às famílias, para melhorar o modelo de fiscalização de barragens e para colaborar com as investigações. Não é com um Estado mais pesado que vamos resolver e, sim, com um Estado mais eficiente.

A propósito disso, cito outra herança: o aumento do custo Brasil. Com carga tributária impeditiva, modais logísticos insuficientes e burocracia paralisante, formou-se uma combinação que – além de não proteger o meio ambiente – destruiu nossa produtividade e nossa competitividade.

Nosso país, de dimensões continentais e com uma população plural e de espírito livre, rejeitou essa forma de governar. Caiu por terra a mentira. E eis que vimos nascer a verdade e a esperança de quem segue em frente.

É fato que essa nova esperança se materializou em 2018. A esperança do trabalhador, do empreendedor, do cidadão do Brasil mais profundo, de todos que lutam de sol a sol para proteger suas famílias e serem felizes.

Nós – Executivo e Legislativo – temos grandes responsabilidades. A concretização dos nossos sonhos começa por acreditar mais no Brasil e nos brasileiros do que nas soluções de Brasília. É verdade! E, acima de tudo, não esquecer: governamos para Sua Excelência, a população brasileira!

É hora de a Administração Pública voltar a SERVIR, a resolver os problemas da Nação. É isso que significa dizer “mais Brasil, menos Brasília”. O Estado brasileiro, ao longo do tempo, foi se voltando muito para si e pouco para a sociedade. É uma máquina que se retroalimenta e não percebe os anseios das pessoas, especialmente dos mais necessitados. O Brasil precisa voltar seu olhar para a vida real. Afinal, o Estado deve estar a serviço da sociedade, e não o contrário! A realidade acontece nos Municípios, nos mais de cinco mil rincões de vários sotaques que moldam a Nação brasileira.

Logo, a mudança que queremos – e precisamos – passa pela união das pessoas de bem, pela coragem dos que conosco irão resistir a todos os ataques que virão pela frente. Passa não só pela escolha de Ministros, com trajetória de serviços prestados à Nação, como também pelos representantes escolhidos pela população brasileira.

Portanto, Senhores Congressistas, para construir uma nova esperança ao lado das senhoras e dos senhores, antes o nosso Governo precisa deixar claro o que rejeita. Para saber por onde queremos ir, é preciso primeiro entender o caminho que se deve evitar.

E nós – como a imensa maioria dos brasileiros – rejeitamos as ditaduras, a opressão, o desrespeito aos direitos humanos.

Por mais que Bolsonaro tenha se posicionado contra o regime ditatorial de Nicolás Maduro, na Venezuela, o presidente já demonstrou apoio às práticas da ditadura brasileira, inclusive exaltando a atuação de torturadores do regime militar. Na contramão do respeito aos direitos humanos, Bolsonaro já fez diversas declarações ofensivas contra minorias como quando afirmou que pagaria salário menor para mulheres e que preferia ter um filho viciado do que gay. Durante comício na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro também afirmou que “as minorias têm que se curvar às maiorias (...) as minorias se adequam ou desaparecem”. Por isso, a declaração do presidente foi considerada FALSA.

Rejeitamos, também, os modelos que subjugam o Poder Legislativo e os demais Poderes, seja por corrupção, seja por ideologia, ou ambos. Rejeitamos, ainda, a perseguição à oposição, a quem pedimos apenas: respeito ao País e dignidade no exercício de seu legítimo papel.

Olhar para trás e ver o que está errado faz parte do aprendizado para o futuro. Mas, feito isso, é hora de olharmos para frente e levar o Brasil adiante!

Um país só é livre se livre é seu Parlamento. Se respeita e zela pela Constituição. E um País só é desenvolvido se o seu Parlamento tem responsabilidade com a evolução, com a transformação e com o progresso. É hora de evoluirmos juntos – política e institucionalmente. É o mínimo que cada um de nós, depositários da esperança, deve ao povo brasileiro.

Os primeiros passos dessa esperança concreta já estão sendo dados, tanto no ambiente interno quanto no externo. O Brasil volta a ser olhado pelo mundo como um lugar seguro para investir, repleto de oportunidades. E mais do que isso: nossos empreendedores começam a recuperar coragem para gerar emprego e renda.

Os níveis de confiança melhoraram, ...

Na carta enviada ao Congresso Nacional, Jair Bolsonaro destaca que já no início seu governo apresenta melhora na economia. Entre os sinais de recuperação, segundo o presidente, estaria o aumento dos níveis de confiança. Essa informação, no entanto, é IMPRECISA. As pesquisas de confiança indicam que o otimismo dos empresários sobre o mercado e a situação futura da economia nacional varia de acordo com os setores e que a trajetória de alta da confiança dos empresários antecede o governo de Bolsonaro.

... a taxa de investimento parou de cair, os postos de trabalho voltaram a ser criados e a renda real das famílias começou a dar sinais de melhora.

Bolsonaro afirmou que o avanço nos indicadores econômicos eram fruto do seu governo. Apesar de ter sinalizado medidas econômicas que pretende tomar no governo em discursos, ele ainda não adotou efetivamente nenhuma medida na área econômica — em parte por conta do recesso do Legislativo. Além disso, o Ministério da Economia e o IBGE, ainda não divulgaram dados de emprego para janeiro. O IBGE também não divulgou dados de renda das famílias e taxa de investimento para janeiro. Ainda considerando que Bolsonaro possa ter acesso antecipado aos dados em função do cargo e que a tese presidencial seja de que o fato dele ter sido eleito tenha impactado favoravelmente a economia, os dados de janeiro não seriam suficientes para afirmar que os resultados foram causados pelo novo governo. Por isso, a declaração foi considerada INSUSTENTÁVEL.

Estamos conscientes – nós e todos os formadores de opinião responsáveis –: o grande impulso deste novo ambiente virá com o projeto da Nova Previdência. Estamos concebendo uma proposta moderna e, ao mesmo tempo, fraterna, que conjuga o equilíbrio atuarial, com o amparo a quem mais precisa, separando “previdência” de “assistência”, ao tempo em que combate fraudes e privilégios.

A Nova Previdência vai materializar a esperança concreta de que nossos jovens possam sonhar com seu futuro, por meio da Poupança Individual da Aposentadoria, um dos itens que está sendo formulado. É uma iniciativa que procura elevar a taxa da poupança nacional, criando condições de aumentar os investimentos e o ritmo de crescimento. É um caminho consistente para liberar o País do capital internacional.

Ao transformar a Previdência, começamos uma grande mudança no Brasil. A confiança sobe, os negócios fluem, o emprego aumenta. E eis que se inicia um círculo virtuoso na economia. Não tenham dúvida disso! Essa é uma tarefa do Governo, do Parlamento e de todos os brasileiros.

Mas, é claro, temos outros desafios igualmente importantes. Nossa educação, muitas vezes transformada em espaço de doutrinação ideológica, precisa resgatar sua qualidade. Os pais do Brasil querem que seus filhos saibam português, matemática, ciências, que saibam ler, escrever, evoluir por suas próprias pernas. E que as minorias e as diferenças sejam respeitadas em ambiente acolhedor, afetivo e fraterno. Nosso governo quer recolocar o aluno no centro do projeto educacional, a partir de professores respeitados e valorizados.

É nesse ambiente de liberdade que queremos desenvolver nossas crianças. E é LIBERDADE que queremos oferecer também a quem trabalha, a quem empreende, a quem investe. Queremos abrir o Brasil para as parcerias com a iniciativa privada, seja de capital nacional, seja de capital externo – desde que se cumpram as exigências legais.

Vamos defender sempre a liberdade de opinião, de crença, de imprensa, de manifestação religiosa, de pensamento!

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