Não é verdade que o presidente Jair Bolsonaro (PL) respondeu “lógico, sem problema nenhum” ao ser questionado em uma entrevista em 2012 se teria se alistado no exército da Alemanha nazista, como alega um vídeo que circula nas redes sociais (veja aqui). Essa foi a resposta dada pelo então deputado federal quando o mediador da conversa pediu permissão para fazer uma pergunta relacionada ao nazismo. Ao ser indagado sobre o recrutamento, ele disse depois que não teria escolha, pois era algo obrigatório na época.
O vídeo com a afirmação enganosa reunia ao menos 2.599 compartilhamentos no Facebook nesta segunda-feira (14) e também circula no TikTok.
Você está achando que só o Monark e Kim Kataguiri são nazistas? Não. Vou te mostrar como Bolsonaro também é nazista num vídeo que ele pediu para ser deletado das redes, mas a gente achou. (...) Sabendo da história da Segunda Guerra Mundial. 6 milhões de mortes, holocausto, tudo mais. Você teria se alistado para ser do exército do Hitler? Ele fala “lógico”. (...) Aí o apresentador não acredita e refaz a pergunta. E agora? Quem é que vai defender o Bolsonaro, hein? Nazista.
Um vídeo que circula nas redes sociais alega que o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse em uma entrevista antiga que teria se alistado “sem problema nenhum” no exército nazista, mas isso não procede, como as próprias imagens indicam.
A gravação original, que está disponível no canal oficial de Bolsonaro no YouTube, mostra os bastidores de uma participação de Bolsonaro para o CQC, programa da Band já extinto. O quadro foi ao ar em março de 2012, mas o trecho em questão não estava na edição final.
A partir de 18 minutos e 33 segundos, um integrante da produção do programa pergunta se Bolsonaro se alistaria ao exército nazista, mesmo sabendo a história da Segunda Guerra Mundial. Imediatamente em seguida, o apresentador Rafael Cortez, que conduzia a entrevista, indaga o então deputado federal se poderia fazer aquela pergunta e Bolsonaro responde: “Pode! Sem problema nenhum. Eu tenho uma resposta muito boa para te dar, inclusive”.
Veja abaixo a transcrição do trecho original na íntegra.
Participante da gravação: Sabendo da história da Segunda Guerra Mundial, você teria se alistado, se você fosse alemão, você teria se alistado ao exército nazista?
Rafael Cortez: Posso fazer essa?
Bolsonaro: Pode! Sem problema nenhum. Eu tenho uma resposta muito boa para te dar, inclusive.
Rafael Cortez: Sabendo da história da Segunda Guerra Mundial, incluindo toda a morte nos campos de concentração, o holocausto, aqueles seis milhões de judeus assassinados… Você teria se alistado como militar, se fosse da Alemanha naquele contexto?
Bolsonaro: Olha, o meu bisavô foi soldado de Hitler. Ele perdeu um braço, inclusive, na guerra, né? [ruído] Qual o problema? A minha família é de alemães e italianos. Agora a pergunta não cabe porque você não tinha direito de se alistar ou não. Você era alistado automaticamente. Quem não se alistasse.
Rafael Cortez: Se naquela época pudesse ser facultativo? Pode ou não se alistar? Você iria?
Bolsonaro: Ninguém, na verdade, ninguém quer ir pra guerra. Nem nós militares queremos ir para a guerra. Por isso que nós queremos melhores meios pra você trabalhar pra evitar uma guerra. Um militar bom, um exército bom não faz guerra, evita guerra.
Rafael Cortez: Entendi. Muito bom, muito bom.
Não há confirmação de que o bisavô do presidente realmente serviu ao exército nazista e perdeu um braço na guerra. Segundo a jornalista Carol Pires, responsável pelo podcast Retrato Narrado, que investigou a história da família de Bolsonaro, o pai da avó do presidente chegou ao Brasil em 1883 — mais de 60 anos antes da Segunda Guerra Mundial. Pires também afirma que ele morava em Campinas na época do conflito.
Esta informação falsa surgiu na campanha eleitoral de 2018 e voltou a circular depois que o apresentador Bruno Aiub, conhecido como Monark, ser afastado do Flow Podcast, por defender a possibilidade de criação de um partido nazista.
No Twitter, Bolsonaro afirmou após o episódio que “a ideologia nazista deve ser repudiada de forma irrestrita e permanente, sem ressalvas que permitam seu florescimento”.
Aos Fatos integra o Third-Party Fact-Checking Partners, o programa
de verificação de fatos da Meta. Veja aqui como funciona a parceria.