Bolsonaristas repetem desinformação para culpar STF e isentar presidente por crise em Manaus

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Em meio à crise de falta de oxigênio em Manaus, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais voltaram a espalhar a alegação falsa de que uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) o impede de tomar medidas de combate à Covid-19. As dez publicações mais populares com essa desinformação somaram ao menos 35 mil interações (curtidas e compartilhamentos) no Twitter e 136 mil no Facebook na última semana, mostram dados do monitor do Radar Aos Fatos.

A afirmação de que o Supremo proibiu o presidente de agir na pandemia já foi repetida ao menos 72 vezes desde abril pelo próprio Bolsonaro, mas é falsa. Naquele mês, a corte decidiu que o Executivo federal não poderia anular medidas de isolamento social adotadas por estados e municípios, mas salientou que todos os níveis de governo — incluindo a União — tinham o dever de agir na crise sanitária. O STF reforçou esse posicionamento em nota na segunda (18).

Nesta semana, a decisão — que já havia motivado uma campanha de desinformação em agosto — voltou a ser usada, agora para tentar isentar Bolsonaro de responsabilidade na crise em Manaus. Em duas das publicações mais populares encontradas pelo Radar no Facebook no período, os deputados federais Bibo Nunes (PSL-RS) e Marco Feliciano (Republicanos-SP) reproduziram uma declaração falsa de Bolsonaro ao programa “Brasil Urgente”, da Band, de que o Supremo o impediu “de fazer qualquer ação de combate ao coronavírus”.

O post de Nunes, publicado no fim da tarde de sexta-feira (15), tinha 19 mil compartilhamentos no fim da manhã desta terça-feira (19). O de Feliciano, veiculado no domingo (17), tinha chegado a 10 mil compartilhamentos.

Outro post, publicado por uma página de apoiadores de Bolsonaro no domingo (17), afirmou que o presidente “agiu rapidamente, socorreu Manaus e deixou claro que o STF errou ao impedi-lo de gerir a crise da pandemia”. A publicação tinha cerca de 1.800 compartilhamentos na manhã desta terça (19).


Já no Twitter, a mensagem com o maior número de interações detectada pelo Radar foi do presidente nacional do PTB e ex-deputado federal, Roberto Jefferson (RJ). Ele escreveu, no domingo (17), que o STF “amarrou as mãos de Bolsonaro” — até a tarde desta segunda, a publicação tinha mais de 24 mil curtidas e quase 6.200 compartilhamentos.

Em alta. A movimentação nas redes fez disparar o número de conteúdos de baixa qualidade sobre o Judiciário detectados pela ferramenta de monitoramento automatizado do Radar. Conteúdos de baixa qualidade são aqueles que usam expressões sensacionalistas e exageradas para atrair engajamento ou que reproduzem padrões linguísticos associados a campanhas de desinformação (conheça a metodologia do Radar).

O monitoramento mostra que, entre sexta e domingo, foram registrados alguns dos mais altos números de engajamento (curtidas e compartilhamentos) com conteúdos de baixa qualidade sobre o Judiciário em janeiro. No Facebook, foram 79.179 interações na sexta e 90.572 no sábado. No Twitter, o pico foi de 34.066 interações no domingo.

A ferramenta também acompanha as buscas em ascensão no Google sobre o Supremo. Nos últimos dias, ganharam força pesquisas como “STF proíbe governo federal de interferir nos estados” e “STF proíbe Bolsonaro de interferir nos estados”.

Distorção. Outros posts que tiveram milhares de compartilhamentos, como um do deputado estadual cearense André Fernandes (Republicanos), reproduzem o título de uma reportagem publicada em abril pelo jornal O Estado de Minas sobre a decisão do STF para alegar erroneamente que o Supremo impediu Bolsonaro de agir contra a pandemia.

Com o título “STF proíbe Bolsonaro de interferir em decisões de estados e municípios sobre coronavírus”, o texto se referia a uma decisão liminar dada pelo ministro Alexandre de Moraes. A reportagem diz corretamente que, segundo a determinação de Moraes, Bolsonaro não poderia interferir nas regras de estados e municípios sobre restrições de circulação e de serviços. Em nenhum momento, porém, o texto afirma que a decisão impedia o presidente de agir de forma mais ampla no combate à Covid-19.

No despacho, Moraes diz inclusive que a gravidade da pandemia “exige das autoridades brasileiras, em todos os níveis de governo, a efetivação concreta da proteção à saúde pública”. A liminar foi referendada pelo plenário do STF em outubro.

Outro lado. No fim da tarde de segunda-feira (18), o Aos Fatos entrou em contato, por e-mail, com os políticos citados para saber se gostariam de comentar as publicações nas redes sociais. Até o horário da publicação deste texto, a reportagem não tinha recebido resposta.

Referências

  1. Radar Aos Fatos (1, 2, 3 e 4)

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