🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Bolsonaristas impulsionam peças de desinformação que apontam fraudes em urnas

Por Bruno Fávero, Débora Ely, João Barbosa e Marina Gama Cubas

9 de outubro de 2020, 13h01

Mais de 2.000 publicações que questionam a confiabilidade das urnas eletrônicas circularam no Twitter e no WhatsApp na última semana, a menos de um mês do primeiro turno das eleições municipais no Brasil, mostra levantamento do Radar Aos Fatos.

Várias das mensagens mais populares desse universo reciclam conteúdos enganosos que vêm sendo checados pelo Aos Fatos desde as eleições de 2018. Parte delas afirma, por exemplo, que há provas de que a eleição presidencial daquele ano foi fraudada e que Bolsonaro deveria ter sido declarado vencedor ainda no primeiro turno, o que não é verdade. Outras repetem que apenas o Brasil, Cuba e Venezuela usam urnas eletrônicas, o que também é falso. Já um terceiro grupo de posts diz que o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o voto impresso é inconstitucional, o que tampouco aconteceu.

Perfis do Twitter que declaram apoio ao presidente Jair Bolsonaro, como o do candidato a vereador Alan Lopes (PSD), foram os que mais conseguiram engajamento com desinformação sobre o assunto.

Twitter

Uma busca no Twitter por termos relacionados a questionamentos sobre as urnas eletrônicas retornou cerca de 2.000 resultados publicados entre 27 de setembro e 4 de outubro que somaram mais de 50 mil interações (retweets e curtidas).

A mensagem mais popular é uma peça de desinformação publicada por Alan Lopes (PSD-RJ), apoiador do presidente Jair Bolsonaro e candidato a vereador, que teve mais de 15 mil interações. Nela, ele afirma ter provas de que a eleição de 2018 foi fraudada para prejudicar o presidente Jair Bolsonaro. Como o Aos Fatosmostrou, no entanto, a denúncia a que ele faz referência já foi arquivada por falta de provas.

A segunda mensagem com mais engajamento desse universo é de uma conta pró-Bolsonaro que afirma de forma genérica e sem apresentar evidências que urnas eletrônicas são fraudadas. A postagem acumulou mais de 5.000 interações até o dia 5 de outubro.

A próxima postagem da lista dos mais populares é de outra conta que se declara apoiadora de Bolsonaro. Ela reproduz outra desinformação conhecida: a de que apenas o Brasil, Cuba e Venezuela usam urnas eletrônicas durante as eleições. Na verdade, ao menos 42 países adotam a tecnologia, como o Aos Fatos mostrou aqui.

Algumas outras mensagens desse universo não usam desinformação explícita e apenas pedem a volta do voto impresso.

Os temas. O Radar Aos Fatos examinou qualitativamente as 50 mensagens mais populares sobre fraude em urnas e nas eleições brasileiras no Twitter para entender quais narrativas desinformativas predominam na discussão. A análise mostra que a suposta fraude contra Bolsonaro nas eleições de 2018 foi o tema que mais gerou engajamento entre as publicações que questionam o uso das urnas eletrônicas.

Além dos assuntos que aparecem nos exemplos de desinformação já citados —referências genéricas a fraudes e afirmações erradas sobre o uso de urnas eletrônicas no mundo—, também teve destaque uma peça de desinformação que afirmava que o STF (Supremo Tribunal Federal) teria proibido o voto impresso no Brasil. Na verdade, como Estadão Verifica e Folha de S. Paulo já mostraram, a corte julgou que a impressão de um comprovante de votação pelas urnas eletrônicas, aprovada pelo Congresso no ano passado, era inconstitucional porque ameaçava o sigilo de voto.

Os amplificadores. A maioria das contas que mais difundiram conteúdo crítico às urnas eletrônicas é de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Além de Alan Lopes, também se destacam o blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre, e outros perfis menos conhecidos.

WhatsApp

A desinformação sobre as urnas também chegou a grupos públicos de discussão política no WhatsApp monitorados pelo Radar Aos Fatos.

Em um universo de 262 grupos ativos monitorados, foram encontradas 22 mensagens com desinformação sobre a confiabilidade das eleições ou das urnas, que foram compartilhadas 188 vezes. Oitenta e seis desses grupos (33% do total) receberam ao menos uma dessas mensagens.

De novo, a reprodução da mensagem de Alan Lopes, de que houve uma fraude em 2018 para prejudicar Bolsonaro, foi o assunto mais popular —apareceu em 11 mensagens compartilhadas um total de 136 vezes.

Outra mensagem, compartilhada sete vezes nos grupos, trazia a afirmação enganosa de que o STF proibiu a adoção do voto impresso.

Este conteúdo foi enviado nesta sexta-feira (9º) por meio da newsletter Radar Aos Fatos e estará disponível gratuitamente nesse formato durante o período eleitoral. Para receber os relatórios reservados como degustação, além de dados estruturados desse monitoramento, cadastre-se aqui.

Metodologia

Para encontrar publicações que questionam a confiabilidade das urnas eletrônicas, foram realizadas buscas na API do Twitter e em uma API da empresa de tecnologia Twist, que monitora mais de 400 grupos de WhatsApp.

Nas buscas, que abrangeram o período de 27 de setembro a 4 de outubro, foram utilizados os termos listados logo a seguir, que são associados a campanhas de desinformação sobre o assunto. Foram excluídas da coleta do Twitter posts publicados por contas de veículos de imprensa.

Em seguida, foram analisadas qualitativamente e classificadas por tema as 50 mensagens com mais interações coletadas no Twitter e 160 mensagens publicadas no WhatsApp.

Termos da busca:

(urna OR urnas) AND (fraude OR frauda OR fraudes OR fraudada OR fraudadas OR fraudáveis OR manipulada OR manipuladas OR manipuláveis OR manuseada OR manuseadas OR insegura OR inseguras OR não é segura OR não são seguras OR hacker OR hackear OR hakear OR hackeada OR hackeadas OR hakeada OR hakeadas OR racker OR rackeada OR rackeadas OR rackear OR trocada OR trocadas OR quebrada OR quebradas OR não confio OR não confia OR não confie OR desconfie OR desconfio OR confiável OR confiáveis OR desconfiável OR desconfiáveis OR confiabilidade OR Lenovo OR Positivo OR fabricante chinês OR fabricante chinesa) OR (voto de papel OR votação impressa OR votos de papel OR cédula de papel OR cédula impressa OR cédulas impressas OR cédulas de papel OR votação de papel OR votação no papel OR voto impresso OR votos impressos OR voto fraudado OR votos fraudados OR votos manipulados OR voto manipulado OR cédula fraudada OR cédulas fraudadas OR recontagem de votos OR recontagem dos votos OR recontagem das urnas OR recontagem das cédulas OR recontagem da votação OR recontagem da eleição OR recontagem do resultado OR auditoria dos votos OR votos auditados OR fraude eleitoral) AND NOT (trump OR biden OR eua OR estados unidos OR americanas OR americanos OR estadounidense OR estadounidense OR Minnesota OR Nasa OR a fazenda OR #AFazenda12 OR #RoçaAFazenda OR #EliminacaoAFazenda OR Mion OR Biel OR Todynho OR Narizinho OR Cartolouco BTS OR army OR armys OR k-pop OR kpopper OR kpoppers OR fandons OR fandom OR fandoms OR moomoos OR mama 2020) OR #UrnasFraudadas OR #FraudeNÃO OR #FraudeEleitoral OR #FraudeNasUrnas OR corona urnas OR covid-19 urnas OR panden urnas OR pandeurnas OR PEC 135/19

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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