Uma teoria conspiratória que circula nas redes sociais afirma que o bilionário Bill Gates se tornou acionista da Coca-Cola e ordenou que a fórmula da bebida fosse alterada para incluir o RNA mensageiro usado em vacinas contra a Covid-19. Na realidade, o americano comprou recentemente 3,76% das ações da Heineken, que pertenciam à Femsa, empresa responsável pela produção e distribuição do refrigerante em alguns países. A receita da bebida não foi alterada, segundo a Coca-Cola, e não há qualquer indício de que seria possível incluir o componente do imunizante nela.
As peças de desinformação acumulavam mais de 800 mil visualizações no TikTok e dezenas de milhares de visualizações no Kwai. As publicações também circulam no Telegram e no WhatsApp, plataforma na qual não é possível estimar o alcance (fale com a Fátima).
Bill Gates compra grande parte das ações da Coca-Cola e da Heineken. Cientistas que trabalhavam no laboratório da Coca-Cola dizem que a fórmula foi alterada. (...) A intenção da empresa é inserir o RNA mensageiro nas bebidas
Não tem qualquer lastro na realidade o vídeo em que uma mulher não identificada afirma que o magnata Bill Gates comprou uma “grande parte” das ações da Coca-Cola e inseriu a vacina de mRNA na fórmula do refrigerante. A teoria conspiratória contém três informações falsas:
- Gates comprou ações da Heineken, não da Coca-Cola;
- Não houve alteração na fórmula da bebida;
- O “DNA KOF” citado pela autora do vídeo não se refere à tecnologia usada em imunizantes.
Em fevereiro deste ano, Gates adquiriu 3,76% das ações da Heineken Holding NV, produtora de cerveja holandesa. Os papéis pertenciam, antes, à Femsa — também conhecida como KOF —, empresa mexicana que engarrafa e distribui bebidas da Coca-Cola Company. A compra, portanto, não tornou o bilionário acionista da Coca-Cola.
O nome de Gates ou de suas empresas também não aparece na lista dos maiores acionistas da Coca-Cola Company.
Em nota, a Coca-Cola também desmentiu a alegação de que teve sua fórmula alterada: “todos os ingredientes utilizados em nossos produtos são seguros, aprovados pelos órgãos regulatórios e constam no rótulo das embalagens”. A lista de ingredientes dos três sabores do refrigerante comercializados no Brasil pode ser conferida no site da empresa. Tampouco há indícios de que o componente da vacina poderia ser inserido na bebida.
A autora do vídeo traz como suposta prova de suas alegações uma propaganda da Femsa que usa o bordão “um só DNA” (veja abaixo). Segundo a empresa, a expressão é usada apenas em peças de comunicação internas para transmitir seus valores aos funcionários. É possível ver, por exemplo, relatos de trabalhadores em redes sociais que atestam que o lema já era usado em anos anteriores.
Vale lembrar que a tecnologia de RNA mensageiro presente nas vacinas de Covid-19 não altera o DNA, como já mostrado pelo Aos Fatos. Os imunizantes que usam a tecnologia, como o da Pfizer, não penetram no núcleo das células, onde está o DNA humano, e o mRNA desaparece do corpo semanas após a inoculação.
Versões dessa peça de desinformação circularam nas redes americanas no início do ano para tentar acusar Gates de inserir a tecnologia do mRNA em alimentos e bebidas e foram desmentidas por agências de checagem do país. No Brasil, o Boatos.org, a Agência Lupa, o UOL Confere e o Fato ou Fake também publicaram checagens sobre o assunto.