Não é verdade que aviões do modelo ATR-72 — o mesmo envolvido no acidente da VoePass em Vinhedo (SP) — já tenham caído 402 vezes. As peças de desinformação tiram de contexto um dado da ASN (Rede de Segurança da Aviação, em português) sobre o total de ocorrências registradas com esse tipo de aeronave. Na maior parte dos incidentes, que vão de colisões com aves a ameaças de terrorismo, não houve vítimas.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de compartilhamentos no X (ex-Twitter) e no Facebook até a tarde desta sexta-feira (16).
A Anac é uma nulidade completa: permite que aviões como o que caiu em Vinhedo (SP) operem à vontade em voos regionais no Brasil. Desde o lançamento, nos anos 1980, os ATR 72 já caíram 402 vezes, matando 470; e foram 187 acidentes e 296 mortos com o ATR 42.
Posts nas redes distorcem uma informação divulgada pela ASN para alegar que já foram registradas 402 quedas de aeronaves ATR-72. Em consulta à base de dados do portal, Aos Fatos verificou que o número indicado pelas peças de desinformação se refere ao total de ocorrências registradas desde o primeiro voo deste tipo de aeronave, em 1988.
Essas ocorrências incluem diversos tipos de acontecimentos, que vão desde colisões com pássaros até ameaças terroristas. Das 404 ocorrências registradas na ASN — duas a mais do que as apontadas pela peça de desinformação, que usa dados desatualizados —, 391 não deixaram vítimas.
As outras 13 ocorrências com o modelo ATR-72 resultaram em ao menos uma morte, mas não necessariamente as aeronaves chegaram a cair. Em um dos casos, ocorrido na Tailândia em 2009, o avião derrapou na pista e colidiu com a torre de comando do aeroporto. Uma pessoa morreu.
Desde 1988, 532 pessoas morreram em acidentes ligados ao ATR-72 — o número já inclui as 62 vítimas do desastre em Vinhedo. Antes do caso ocorrido no município paulista, voos com o modelo ATR-72 haviam registrado 470 mortes, informação que condiz com a citada pelos posts enganosos.
Esta peça de desinformação também foi checada pela AFP.
O caminho da checagem
Aos Fatos buscou inicialmente o texto citado pelas peças desinformativas, mas constatou que ele não cita a fonte dos dados. Buscamos, então, outras reportagens que usavam informações similares e encontramos uma que creditava os números à ASN.
Analisamos, então, a base de dados fornecida pela ASN e constatamos que a informação estava distorcida.