Não é verdade que áudios revelados pelo Fantástico neste domingo (24) teriam confirmado a inocência de Jair Bolsonaro em tentativa de golpe. Mensagens fazem parte das investigações que levaram ao indiciamento do ex-presidente e outras 36 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Vídeo que tira trechos dos áudios de contexto soma centenas de visualizações no TikTok.
URGENTE! Fantástico solta áudios que confirma a inocência do Bolsonaro no gopi [sic]

Posts nas redes sociais usam trechos de áudios revelados pelo Fantástico para alegar que as mensagens provariam a inocência de Jair Bolsonaro na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Na verdade, as gravações exibidas pelo programa mostram que militares presos nas investigações se reuniram com o então presidente para tratar do plano, e foram peças chave para o indiciamento dele e de outras 36 pessoas.
As publicações disseminam áudio em que militares reclamam que Bolsonaro não teria assinado decreto de golpe de estado. “Vai esperar virar uma Venezuela para virar o jogo, cara?”, diz oficial do Exército não identificado.
A mensagem teria sido enviada após reunião entre Bolsonaro e o então comandante geral do Exército, general Freire Gomes, que disse em depoimento à Polícia Federal que sempre deixou claro ao ex-presidente que não participaria de qualquer ato para reverter o processo eleitoral.
No entanto, os posts omitem mensagem em que o general Mário Fernandes afirma ter tido uma conversa com Bolsonaro sobre uma data para a realização de uma das ações do plano, que não foi explicitada.
“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição e que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro", disse em áudio.
Outros trechos também mostram que oficiais do Exército aguardavam reuniões com Bolsonaro para o planejamento do golpe. “O presidente tem que fazer uma reunião petit comitê. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria. Tem que debater o que vai ser feito", diz um general não identificado.
Os áudios revelados fazem parte da investigação da Polícia Federal que levou ao indiciamento de Jair Bolsonaro e mais 36 pessoas de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Além das mensagens, o inquérito levantou dezenas de indícios que ligam aliados de Bolsonaro à tentativa de golpe, entre eles vídeo da reunião do golpe, organizada pelo ex-presidente, perícias em computadores e impressoras do Palácio do Planalto, e delações premiadas.
O caminho da apuração
Aos Fatos assistiu à íntegra da reportagem do Fantástico com os áudios de militares. Concluímos que o vídeo disseminado nas redes só exibia um trecho do material e que foi tirado de contexto. Também contextualizamos as gravações à luz das investigações da Polícia Federal.