Não é verdade que um vídeo mostre o ditador Nicolás Maduro mandando militares da Guarda Nacional Bolivariana torturar e matar manifestantes da oposição, como fazem crer publicações nas redes. O registro original que mostra Maduro conversando com militares teve o áudio manipulado digitalmente.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de compartilhamentos no Facebook e no Instagram até a tarde desta quarta-feira (7). O vídeo manipulado também circula no TikTok.
Nicolás Maduro ordena a la guardia matar a más personas
Um vídeo publicado originalmente no perfil do ditador Nicolás Maduro no X (ex-Twitter), no dia 31 de julho deste ano, teve o áudio manipulado digitalmente e circula nas redes como se mostrasse uma ordem do político para torturar e matar oposicionistas do regime.
No entanto, esse não é o teor da fala do ditador no vídeo original. No diálogo, um dos militares diz ter detido dois jovens armados. Na sequência, Maduro orienta que eles não sejam soltos e reforça que o regime já prendeu ao menos 1.200 pessoas (veja abaixo).
Recorriendo las calles de #Caracas me encontré con nuestra digna #GNB combatiendo el #fascismo y el terrorismo. ¡Máxima Moral! ¡Garantizaremos la Paz Nacional pic.twitter.com/jE0iKigFyL
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) August 1, 2024
Apesar disso, em nenhum momento da conversa, o ditador fala em “banho de sangue”, morte ou tortura contra os detidos, como alegam as postagens. Veja a transcrição traduzida abaixo:
“Esta zona tem sido muito violenta, guarimbera [manifestação anti-chavista]. Fico muito feliz que estejam protegendo o povo. Estes são criminosos, temos mais de 1.200 criminosos capturados, treinados no Texas, Colômbia, Peru e Chile. Vieram para atacar e queimar. Tentaram incendiar este hospital de Coche, mas a comunidade o salvou. Isso é protesto ou luta política? Queimar hospitais é terrorismo e fascismo. Essas pessoas estão preparadas para governar este país? De joelhos no chão, conto com vocês.”
Portanto, ainda que o ditador tenha dito que opositores sejam criminosos por supostos atos de vandalismo, não é verdade que no diálogo original ele mencionou tortura e morte de manifestantes opositores.
A Venezuela foi tomada por uma onda de manifestações após o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) declarar o ditador Nicolás Maduro o vencedor na eleição do último dia 29 de julho.
A oposição disse que houve fraude e não reconheceu o resultado do pleito. Enquanto isso, diversos países reconheceram a vitória do candidato de oposição, Edmundo González Urrutia.
Nesta quarta-feira (7), o Chile declarou não reconhecer o resultado anunciado pelo CNE. Brasil, México e Colômbia, em nota conjunta publicada na última quinta-feira (1), pediram a divulgação dos votos e uma “verificação imparcial dos resultados”.
Esta peça de desinformação foi verificada pela agência venezuelan Efecto Cocuyo.
O caminho da checagem
O Aos Fatos fez uma busca reversa e identificou que o vídeo original foi publicado na conta oficial do ditador Nicolás Maduro no X (ex-Twitter).
Com a ajuda do Escriba, a reportagem transcreveu o diálogo original e constatou que o registro que circula nas peças desinformativas estava com áudio manipulado.
Aos Fatos buscou ainda notícias sobre protestos na Venezuela para contextualizar a verificação.