🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Junho de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Áudio com informações falsas sobre CoronaVac não é de virologista do Albert Einstein

Por Marco Faustino

15 de junho de 2021, 13h08

Um áudio com informações falsas sobre a eficácia da CoronaVac, vacina contra Covid-19, circula nas redes sociais (veja aqui) atribuído a um suposto virologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, chamado Roberto Klaus. A unidade de saúde, porém, negou que ele trabalhe no local e Aos Fatos não localizou registros de médicos com esse nome no cadastro de profissionais no CFM (Conselho Federal de Medicina).

Em resumo, o que checamos do áudio:

  1. É FALSO que apenas 50,38% das pessoas que receberam a CoronaVac produziram anticorpos. O número citado é próximo da taxa de eficácia global do imunizante, de 50,7%, e representa a probabilidade de uma pessoa não adoecer;
  2. É FALSO que não seja possível avaliar a segurança da CoronaVac, pois esse fator, bem como a resposta imunológica, a eficácia da vacina, e os efeitos colaterais, foram analisados nos estudos clínicos com a vacina;
  3. Apesar de a CoronaVac de fato não ter sido testada em jovens abaixo de 18 anos nos ensaios clínicos no Brasil, ela foi avaliada em idosos acima de 59, diferentemente do que sugere o áudio. E testes iniciais na China apontam que a vacina seria eficaz em jovens;
  4. É FALSO que a bula da CoronaVac diz que o imunizante não foi testado em idosos com mais de 59 anos. A confirmação dos ensaios clínicos nesta faixa etária consta tanto no documento fornecido pelo Instituto Butantan, quanto no da farmacêutica chinesa Sinovac;
  5. Não é verdade que vacinas com tecnologia mRNA (RNA mensageiro) sejam capazes de alterar o código genético humano. A substância usada em imunizantes como o da Pfizer nunca entra no núcleo da célula, onde fica o DNA humano, nem pode modificá-lo;
  6. Ivermectina, vitamina D ou o zinco não se provaram eficazes em estudos sólidos para prevenir ou tratar a Covid-19, diferentemente do que afirma o homem no vídeo;

Além das redes sociais, o áudio circula em aplicativos de mensagem, como o Telegram e o WhatsApp. No Facebook, posts com a gravação reuniam ao menos 77.000 compartilhamentos nesta terça-feira (15) e foram marcados com o selo FALSO na ferramenta de verificação da plataforma (saiba como funciona).


Ela [a CoronaVac] tem uma eficiência de 50,38%. O que significa 50,38%? Significa que, metade das pessoas que tomarem a vacina CoronaVac, não vão fabricar nenhum tipo de proteção. Não vão fabricar nada de anticorpos

Diferentemente do que afirma o homem no áudio, a taxa global de eficácia não significa que metade das pessoas que tomam a vacina não produzem qualquer anticorpo contra a doença. Na verdade, essa taxa representa a probabilidade de uma pessoa não adoecer e é de 50,7%, segundo o Instituto Butantan. Além disso, o imunizante reduz em 83,7% as chances de um vacinado desenvolver um quadro grave da Covid-19, que necessite de assistência hospitalar.

Os casos de Covid-19 em pessoas já vacinadas também não atestam a ineficácia do imunizante, pois isso também depende de outros fatores, como a pessoa ter completado o ciclo de duas doses e a cobertura vacinal da população, como mostrou Aos Fatos.

Na CoronaVac, a imunidade prevista pela taxa de eficácia global geralmente é alcançada duas semanas após a segunda dose, que deve ser aplicada em um intervalo de 14 a 28 dias depois da primeira, segundo nota do Instituto Butantan. Além disso, o número de anticorpos pode continuar em crescimento até um mês após a segunda imunização, dependendo do organismo.

Além da taxa de eficácia global e do tempo que demora para a produção de anticorpos, para que a imunidade seja eficaz é preciso levar em consideração também a cobertura vacinal. Isso porque apenas quando grande parte da população estiver imunizada é que será possível controlar a propagação do vírus e reduzir os casos graves.


E segurança da vacina CoronaVac? Como avaliar segurança? Não podemos avaliar

O áudio engana ao dizer que não é possível avaliar a segurança do imunizante, uma vez que houve estudos clínicos que avaliaram a segurança, a resposta imunológica e a eficácia da vacina, assim como os efeitos colaterais. Os sintomas recorrentes foram leves e os mais incomuns foram vômito, vermelhidão e hematoma.

Além disso, uma pesquisa com 50 mil voluntários na China apontou que apenas 5,36% tiveram efeitos colaterais, todos sem gravidade. A CoronaVac foi aprovada para uso emergencial pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pela OMS (Organização Mundial de Saúde).


Ela [CoronaVac] não foi avaliada nem em jovens abaixo de 18 anos e nem acima de 59 anos

Antes de ser submetida para avaliação da Anvisa, a CoronaVac passou por estudos clínicos com 362 pessoas com 60 anos ou mais no Brasil, segundo o parecer público apresentado pelo Instituto Butantan. Destes, 186 tomaram o imunizante e outros 176 receberam placebo.

Embora a eficácia tenha sido menor nessa faixa etária, segundo um estudo preliminar, a diminuição para essa população é esperada em qualquer tipo de vacina (confira aqui e aqui), já que o sistema imunológico se deteriora com o envelhecimento.

No Brasil, não foram realizados estudos clínicos com crianças e adolescentes com menos de 18 anos. A eficácia do imunizante nesta faixa etária passou por testes conduzidos pela Sinovac, fabricante da vacina na China. A pesquisa, no entanto, é preliminar, e os resultados ainda não foram publicados em periódicos científicos. Neste momento, a única vacina autorizada no Brasil para crianças a partir de 12 anos é a da Pfizer.


Na bula da vacina CoronaVac, na bula da própria empresa Sinovac, laboratório chinês, está escrito lá que ela não foi testada em pessoas acima de 59 anos

É falso que está escrito na bula da CoronaVac que o imunizante não foi testado em pessoas acima de 59 anos. Tanto na fornecida pelo Instituto Butantan quanto pela própria farmacêutica Sinovac consta que houve testes nesta faixa etária.


Porque são vacinas gênicas que mexem com o nosso código genético, fazendo com que nossas células produzam partículas de vírus

Também é falso que as vacinas de tecnologia mRNA, conhecidas como vacinas genéticas, interajam com o DNA humano, como já verificado pelo Aos Fatos (confira aqui e aqui).

O mRNA (RNA mensageiro), contido em vacinas como as da Pfizer e da Moderna, fornece instruções para que nossas células produzam um pedaço inofensivo da chamada proteína spike, que é encontrada na superfície do Sars-Cov-2. Essa proteína gera uma resposta imunológica do organismo contra o vírus, produzindo anticorpos.

O RNA mensageiro nunca entra no núcleo da célula, onde fica o DNA humano, nem pode alterá-lo, segundo o CDC (Centers for Disease Control, órgão de saúde do governo dos EUA).

Estes tipos de vacina inserem um gene proveniente do Sars-Cov-2 no corpo para estimular a produção de anticorpos. Assim, quando o vírus tenta infectar o organismo, o sistema imunológico tem a capacidade de identificá-lo e eliminá-lo, explica Carlos Zárate-Bladés, pesquisador do Laboratório de Imunorregulação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).


A minha recomendação atual é a ivermectina profilaticamente a cada 15 dias, vitamina D, sol, atividade física, alimentação saudável, hidratação, zinco. É isso que é bom. Isso livra você da doença. E se você pegar a doença tomando ivermectina ela é mais branda. E se você fizer o tratamento precoce rapidamente, no primeiro dia de sintomas, você nem passa perto do hospital

Ivermectina, vitamina D e zinco não são eficazes para prevenir ou tratar a Covid-19. Hoje, não existe nenhuma pesquisa sólida que comprove a existência de remédios ou substâncias que ajam contra o Sars-Cov-2. Aos Fatos já produziu outras checagens e reportagem sobre o chamado “tratamento precoce”, sem encontrar qualquer evidência científica sobre sua eficácia.

A OMS também ressaltou, no dia 31 de março, que a ivermectina deve ser usada somente para pesquisas, não para uso clínico, até que seja atestado um eventual potencial contra a Covid-19. No momento, uma análise de 16 estudos concluiu que a evidência do vermífugo ainda é muito baixa para determinar se ele reduz o tempo de recuperação do paciente, a necessidade de hospitalização ou de ventilação mecânica e a mortalidade.

Também em março, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica em que afirma que os resultados de pesquisas atuais “não suportam a recomendação de uso da ivermectina no tratamento de pacientes com Covid-19”. O documento diz ainda que “o uso contra a doença não está previsto em bula, e a sua utilização off label, até o momento, não teve o respaldo das agências reguladoras, bem como do fabricante do medicamento”.

As demais recomendações valem para manter a saúde de forma genérica, e não têm qualquer ligação específica com a prevenção ao novo coronavírus, como sugere o áudio. Atividade física regular, alimentação saudável e manter-se hidratado são orientações indicadas pela OMS (confira aqui e aqui) para manter a saúde. Porém, mesmo que fortaleçam o sistema imunológico, essas medidas não impedem a transmissão ou infecção pelo novo coronavírus, segundo a entidade.

Autoria. A voz no áudio não chega a se identificar, mas reproduções da gravação que circulam no Facebook atribuem as informações a Roberto Klaus, que seria virologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ao Aos Fatos, a unidade de saúde negou que profissional com este nome integre seu quadro clínico e não foram localizados registros desse médico na plataforma do CFM (Conselho Federal de Medicina).

Esta peça de desinformação também foi checada por Boatos.org, Estadão Verifica, Fato ou Fake e Lupa.

Referências:

1. Aos Fatos (Fontes 1, 2, 3, 4, 5 e 6)|
2. Instituto Butantan (Fontes 1, 2 e 3)
3. The Lancet
4. SSRN
5. Governo de SP
6. G1
7. OMS (Fontes 1, 2, 3 e 4)
8. Anvisa (Fontes 1 e 2)
9. medRxiv
10. Diário do Nordeste
11. Estadão
12. Estado de Minas
13. UOL
14. COVID-19 Vaccination Programme
15. CDC
16. CFM


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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