Quem vê as grandes investigações do Aos Fatos, que revelaram fraudes digitais, denunciaram problemas de moderação das big techs ou mostraram como uma desinformação específica foi evoluindo até viralizar, não pensa que parte do trabalho de checagem também envolve desmentir maluquices.
A enxurrada de informações despejada nas redes a cada minuto faz com que, de vez em quando, uma história louca viralize e seja tomada como se fosse verdade pelos usuários — o que às vezes inclui políticos!
Nesses dez anos de existência, Aos Fatos já teve que publicar diversos desmentidos sérios sobre coisas esdrúxulas. Veja abaixo dez deles:
1. Água de coco na veia
Uma das histórias mais estranhas veio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Dentre as 6.685 declarações enganosas desmentidas pela equipe do Aos Fatos, 47 delas eram sobre um suposto caso ocorrido na Guerra do Pacífico, quando um soldado teria sido salvo após uma transfusão feita com água de coco ao invés de sangue.
Bolsonaro, no entanto, confundiu a história toda: um estudo publicado em 2000 cita relatos não comprovados de que a prática foi adotada como medida emergencial para substituir o soro, uma solução de água e minerais usada principalmente para evitar a desidratação, e não sangue.
Mas, mesmo nesses casos, a prática não é recomendada, porque pode causar danos à saúde, como edema cerebral, hemólise ou arritmia.
2. Transposição vista da Lua
Outro presidente que citou um boato maluco foi Lula, em 2024. Ao elogiar a transposição do São Francisco, o petista disse que a obra seria tão grandiosa que seria possível vê-la da Lua, assim como a Muralha da China.
A verdade é que nenhuma das duas obras — na realidade, nenhuma obra na Terra — pode ser vista a olho nu da Lua, que fica a cerca de 384 mil quilômetros de distância.
3. Verme no pimentão
Em 2019, uma história que dizia que pimentões poderiam estar infectados com vermes mortais chamados “simla mirch” acumulou mais de 1 milhão de compartilhamentos no Facebook.

Mas o conteúdo mega-viral nada mais era do que um boato importado: o verme citado não existia e o Ministério da Saúde e especialistas consultados garantiram que os legumes não podem ser infectados por parasitas mortais.
4. ‘Bolinho batizado’
Outro boato importado que conseguiu viralizar — e muito — aqui no Brasil foi a história de que um bolinho turco com drogas paralisantes teria passado a ser comercializado no país.

Além do doce citado não ser vendido no Brasil, tudo indica que o vídeo foi fruto de uma manipulação: é possível ver um furo na parte de cima do bolinho, que pode indicar que o comprimido mostrado na gravação teria sido inserido anteriormente.
5. ‘Pertinha do Elvis’
Em julho de 2018, Dilma Rousseff (PT) visitou o Cavern Pub, em Liverpool, na Inglaterra, e publicou uma foto ao lado da estátua de John Lennon. Meses depois, usuários pegaram essa imagem e editaram a legenda para sugerir que a ex-presidente teria não só confundido o beatle com Elvis Presley como escrito “pertinha”, palavra que não existe.

E uma curiosidade: mesmo que seja uma peça maluca, a reportagem ligou para a assessoria de imprensa de Dilma na época. O assessor caiu na gargalhada, mas negou o boato.
6. Lanchinho de Greta Thunberg
2019 foi uma época estranha. Por motivos escusos, grande parte da internet resolveu atacar a ativista sueca Greta Thunberg. Foram meses de posts desinformativos e mensagens de ódio destinadas à jovem.
Nesse contexto, viralizou uma montagem que mostrava Thunberg lanchando dentro de um trem diante de crianças negras (veja abaixo). A imagem, que foi compartilhada inclusive por parlamentares, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nasceu como um meme para criticar o discurso feito pela ativista na ONU naquele ano.

Mas memes, fora de seu contexto, podem virar desinformação. Não demorou muito para que usuários passassem não só a acreditar que a imagem era real como também passassem a compartilhá-la junto de mais mensagens de ódio contra a então adolescente.
7. Vacinas transformam pessoas em ímãs
Teve muita história louca durante a pandemia de Covid-19, mas talvez a mais estranha tenha sido a de que a vacina tornaria as pessoas magnéticas. Houve até uma trend mundial de pessoas “provando” que moedas e outros objetos ficariam presos nos locais onde a agulha teria sido aplicada.

Em primeiro lugar, os imunizantes não contêm metais, como se espalha por aí. Além disso, por conta do estado líquido e do baixo volume de cada dose, é fisicamente impossível que qualquer vacina cause magnetismo em seu local de aplicação — quem dirá, então, em todo o corpo!
A peça de desinformação estava tão viral que fizemos até uma HQ sobre o assunto.
8. Zé Gatinha
Acompanhe a lógica da internet: após vencer uma eleição acirrada, uma das primeiras medidas adotadas pelo governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), seria lançar uma mascote trans para a campanha de vacinação. Bobo é quem não acreditou, não é mesmo?
A “Zé Gatinha” nada mais era, na verdade, do que a Maria Gotinha — parceira do mascote Zé Gotinha em algumas campanhas — inserida em uma foto de um evento do governador em Laje dos Negros (BA).
Um detalhe particularmente engraçado dessa história é que a mascote falsa foi inserida no lugar do deputado estadual Adolfo Menezes (PSD-BA), que parecia estar muito feliz de aparecer na foto. Veja abaixo:

9. Barbie aborto
É fato que os anos Bolsonaro foram marcados por pânico moral na internet. Teve de tudo, uma coisa mais maluca que a outra. Mas vale destacar a história de que a Mattel iria lançar a Barbie Aborto, que incluiria uma boneca grávida, um bebê e uma tesoura (com ponta, ainda por cima!).

Não só mostramos que a imagem era criação de um artista como procuramos a Mattel para desmentir a história. A empresa enviou uma nota dizendo que “o produto apresentado nas imagens não faz parte do portfólio da empresa e não possui qualquer relação com as linhas de Barbie”.
10. ‘Mamadeira de piroca’
Não é possível falar de desinformações malucas e pânico moral sem falar das famosas mamadeiras. O boato que circulou durante as eleições de 2018 fez tanto sucesso que até hoje é lembrado em qualquer conversa sobre mentiras eleitorais. Elas ganharam até página dedicada na Wikipédia!

Só para relembrar: um homem aleatório gravou um vídeo em que mostrava uma mamadeira com um bico em formato de pênis (um item que pode ser encontrado em alguns sex shops) e dizia que o item teria sido distribuído na creche de seu filho pelo PT como parte do “kit gay de Haddad”. Ele não apresentava nenhuma prova, mas muitas pessoas acreditaram que se tratava de uma denúncia verdadeira.




