Ricardo Stuckert/PR

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Abril de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Após pregar pânico moral na eleição, desinformação sobre Lula mira a economia

Por Amanda Ribeiro

10 de abril de 2023, 16h14

A desinformação nas redes sociais contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sofrido mudanças entre as eleições e os cem primeiros dias do novo governo. Se, durante e após o pleito, o fluxo desinformativo estava concentrado em pautas de costumes e segurança — como o falso envolvimento do petista com satanistas ou criminosos —, agora as informações enganosas mais frequentes estão relacionadas à economia, como boatos de taxação do Pix e de fechamento de empresas.

A guinada no discurso dos desinformadores antipetistas foi detectada por meio de um levantamento do Aos Fatos nas 211 checagens de peças de desinformação que tinham Lula como personagem principal, publicadas entre o início de 2022 e 6 de abril deste ano. A maioria das alegações — 199 (94,3%) — era contrária ao presidente.

Até o último trimestre do ano passado, mentiras sobre a chamada pauta moral, com tópicos relacionados a religião, gênero e orientação sexual, ou temas vinculados à criminalidade e segurança representaram 43,3% da desinformação verificada sobre Lula nas redes. Já nos três primeiros meses de 2023, alegações enganosas que fazem crer que o novo governo patina na economia e na gestão de programas sociais tornaram-se bem mais frequentes (62,1% do conteúdo checado).

Desde o início deste ano, mais de um terço (35,4%) das alegações falsas desmentidas faziam crer que propostas do petistas iriam desestruturar a economia brasileira, como aumentar impostos e criar novas taxas, além de proibir aplicativos de entrega e perseguir trabalhadores. Para ampliar essa falsa percepção, desinformadores recorreram a cenas de lojas fechadas e protestos em diversos pontos do país — que, no entanto, nada tinham a ver com a atual gestão.

Também predominam neste ano mentiras direcionadas à população nordestina ou de baixa renda, que historicamente são mais propensas a votar em candidatos do PT, o que se confirmou com Lula em 2022. Exemplos disso são peças desinformativas de que trechos da transposição do rio São Francisco foram interrompidos e de que o governo teria cancelado o passe livre de idosos e reduzido benefícios sociais, como o Bolsa Família.

A desinformação surgida após Lula subir a rampa ressignificou até mesmo o slogan usado pelo petista na campanha eleitoral. A expressão “faz o L” tem sido recorrentemente usada em postagens que tentam imprimir uma sensação de fracasso do novo governo. Em janeiro, Aos Fatos mostrou que 57 publicações enganosas com referência ao bordão somavam 10,5 milhões de visualizações apenas no TikTok.


#FazoL. Antipetistas se apropriaram de bordão criado pelo PT para disseminar desinformação sobre governo Lula (Reprodução)

Outra estratégia desinformativa frequente desde janeiro tem sido o uso de trechos fora de contexto de telejornais antigos para atribuir más notícias ao governo Lula. Aos Fatos verificou que ao menos oito reportagens veiculadas por emissoras de TV foram difundidas dessa maneira. Uma das postagens enganosas que mais viralizaram atribuía à gestão Lula uma paralisação de carros-pipa no Nordeste ocorrida em novembro de 2022, sob Bolsonaro, e exibida pelo SBT News na época.

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MENTIRAS ELEITORAIS

O cenário atual difere bastante do encontrado ao longo de 2022 e, em especial, durante e após a campanha eleitoral. Naquele momento, o assunto predominante nas peças de desinformação era a associação de Lula com a “ideologia de gênero” e com facções criminosas.

Tema de 25% das peças de desinformação checadas entre outubro e dezembro do ano passado, a teoria conspiratória de que Lula e o PT seriam aliados do PCC e do CV (Comando Vermelho) surgiu após o petista aparecer em fotos usando um boné com a sigla CPX — abreviação da palavra “complexo”, usada para se referir às favelas cariocas, não a grupos criminosos. Esta alegação foi impulsionada por bolsonaristas na reta final do primeiro turno.

print de peça de desinformação que sugere que Lula teria conluio com facções criminosas por usar um boné com a sigla CPX
CPX. Foto em que Lula aparece com boné estampado com sigla que se refere a comunidades cariocas foi usada durante as eleições para sugerir que petista tinha conluio com o crime organizado (Reprodução)

Já a chamada pauta de costumes foi tema de 18,3% das publicações do último trimestre de 2022. Entre as alegações falsas mais frequentes estavam as de que Lula iria perseguir cristãos e fechar igrejas, além das que afirmavam que o então candidato do PT defendia a legalização das drogas e a sexualização das crianças.

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DESINFORMAÇÃO PRÓ-LULA

Ainda que mais de 90% da desinformação checada pelo Aos Fatos tenha sido compartilhada com o objetivo de atacar o presidente, houve também mentiras disseminadas durante e depois das eleições em apoio a Lula.

Durante a reta final da campanha, predominaram posts que tentavam inflar a popularidade de Lula, atribuindo a comícios do petista imagens que mostravam, por exemplo, aglomerações de torcedores de times de futebol.

Já as publicações pró-governo que circularam a partir de 1º de janeiro também remetiam à economia. Posts que distorciam informações ao afirmar que Lula não poderia corrigir a tabela do Imposto de Renda neste ano ou que inflavam a queda nos preços da carne, uma das bandeiras eleitorais do petista, predominaram.

Referências:

1. Aos Fatos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19)

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