Após críticas de Castro, posts viralizam ao culpar Lula por ação de traficantes em dia de caos no Rio de Janeiro

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Posts nas redes responsabilizam o governo Lula pelo caos provocado por criminosos no Rio de Janeiro em razão da megaoperação deflagrada nesta terça-feira (28) contra a facção criminosa CV (Comando Vermelho) no Complexo da Penha e no Complexo do Alemão, ambos na zona Norte da cidade.

As peças acumulavam cerca de 1,6 milhão de visualizações e 12 mil compartilhamentos no Facebook e no Instagram, além de milhares de compartilhamentos no X até a tarde desta terça-feira (28).

Só as publicações que trazem críticas do governador do Rio, Cláudio Castro, ao governo federal pela falta de apoio na operação somam mais de 1 milhão de visualizações nas duas plataformas da Meta e foram difundidas por parlamentares de oposição ao presidente Lula (PT).

Durante uma entrevista à imprensa ocorrida no final da manhã, Castro afirmou que o Executivo federal negou ajuda para operações policiais e que, por isso, o Rio de Janeiro “estava sozinho” na ação contra o crime organizado.

“Tivemos pedidos negados três vezes: para emprestar o blindado, tinha que ter GLO, e o presidente [Lula] é contra a GLO. Cada dia uma razão para não estar colaborando”, reclamou Castro. O Ministério da Justiça e Segurança Pública rebateu as declarações.

A megaoperação — a mais letal da história do Rio de Janeiro — deixou até o momento ao menos 64 mortos, dentre eles 60 suspeitos, dois policiais civis e dois policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais). Como retaliação, criminosos interditaram vias por toda a cidade, impuseram barricadas e queimaram caçambas de lixo.

Print de publicação no Instagram mostra na parte superior da imagem uma área escura com projéteis de munição no chão, a frase em vermelho ‘O RIO ESTÁ SOZINHO NESSA GUERRA!’. A parte central exibe uma cena capturada de uma coletiva de imprensa, com um grupo de autoridades atrás de microfones. Ao centro, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro — homem branco, cabelos e barba castanhos, veste um terno azul-marinho com gravata azul-claro com listras. Ao lado dele, estão agentes de segurança pública. O governador está em frente a diversos microfones com os logos de veículos de comunicação. Na parte inferior, em uma tarja escura, está a frase em caixa alta vermelha e branca: ‘O GOVERNO LULA NEGOU APOIO FEDERAL NO COMBATE AO NARCOTRÁFICO NO RIO DE JANEIRO!’.
Publicações nas redes alegam que o governo federal abandonou o Rio de Janeiro no combate ao narcotráfico.

Resposta. Em nota à imprensa, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou, sem citar a megaoperação, que tem “atendido prontamente a todos os pedidos do governo do Rio para o emprego da Força Nacional de Segurança Pública, em apoio aos órgãos de segurança pública federal e estadual”.

A pasta afirmou ainda que, desde 2023, acatou todas as 11 solicitações de renovação da Força Nacional em território fluminense.

Em coletiva de imprensa na tarde desta terça (28), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, declarou não ter recebido qualquer pedido de ajuda de Castro:

"Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro, enquanto ministro da Justiça e Segurança Pública, para esta operação, nem ontem, nem hoje, absolutamente nada", disse.

Em entrevista ao Metrópoles, Castro reafirmou as críticas e alegou que a gestão de Lula “não vê segurança pública como prioridade”. De acordo com informações divulgadas pela imprensa, no entanto, o governador também teria telefonado para a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, para afirmar que não teve intenção de criticar o governo.

Associação com o crime

Outras publicações recuperam uma fala de Lula de que traficantes são “vítimas dos usuários”, dita durante uma entrevista na Indonésia na última sexta-feira (24), para associar o governo aos ataques que ocorrem no Rio.

Pouco depois, o presidente afirmou que sua declaração foi “mal colocada”.

Print de publicação no Instagram apresenta, no topo da imagem, a palavra ‘GRAVE!!’, com um emoji de choque ao lado. Abaixo, lê-se: ‘APÓS LULA DIZER QUE TRAFICANTES SÃO VÍTIMAS DOS VICIAD0S, RIO DE JANEIRO TEM DIA DE PÂNICO E TERROR COM MAIS DE 20 MORTES’. Na parte central, há uma divisão em tela que mostra duas imagens do presidente Lula (PT) — homem branco, com cabelos e barba grisalhos. Na imagem à esquerda, ele está usando terno e gravata escuros e uma camisa branca; já na imagem à direita, ele aparece com um boné preto com a sigla ‘CPX’ em vermelho.
Publicações tentam vincular Lula ao crime organizado ao tirar de contexto foto em que presidente usa boné com a sigla ‘CPX’ (Reprodução)

Alguns posts usam a frase junto com uma imagem em que Lula usa um boné com a sigla CPX para associá-lo ao crime organizado. Como já mostrado pelo Aos Fatos, trata-se de uma abreviação da palavra “complexo”, usada nesse caso para se referir ao Complexo do Alemão.

As tentativas de colocar o presidente como aliado de facções criminosas vêm desde as eleições de 2022. Na véspera do primeiro turno, mentiras ligando o PT ao PCC (Primeiro Comando da Capital) se espalharam pelas redes bolsonaristas.

Mais tarde, no segundo turno, o boné com a sigla CPX passou a ser usado como prova de que as facções criminosas apoiavam o petista.

Terrorismo

Também foram identificadas publicações que alegavam que Lula e Lewandowski teriam se recusado a classificar facções criminosas como o CV e o PCC como organizações terroristas.

Print de publicação no Instagram que mostra na parte superior da imagem uma manchete do jornal ‘Metrópoles’, com o título ‘Comando Vermelho ataca polícia com drones e bombas no Alemão’. O subtítulo informa que a ‘Operação no Rio de Janeiro envolve 2.500 policiais e tem como alvo traficantes do Comando Vermelho; bandidos lançaram bombas com drones’. A parte inferior da imagem é composta por um fundo esbranquiçado e degradê, com diversos blocos de texto sobrepostos. Ao fundo, está uma imagem do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva — homem branco, com cabelos e barba grisalhos, vestindo terno e gravata escuros, discursando em um microfone. Um dos blocos de texto diz: ‘Essas são as 'pobres vítimas dos usuários' de que o Lula falou.' Outro trecho afirma: 'Em um país onde 50 milhões de pessoas vivem sob o domínio de facções criminosas, o desgoverno Lula se recusa a classificá-las como organizações terroristas'.
Publicações atribuem ataques que ocorrem no Rio a Lula ao relembrar uma frase dita pelo presidente durante evento na Malásia (Reprodução)

Os posts fazem menção a um projeto de lei em tramitação na Câmara que propõe enquadrar facções e milícias como terroristas. Para Lewandowski, que é contrário à proposta, já há na lei definições sobre terrorismo, e, como facções como o CV e do PCC não possuem inclinação ideológica, não há como enquadrá-las nessa designação.

“Grupos terroristas são aqueles que causam perturbação social, política grave e têm uma inclinação ideológica. Isso não acontece com as organizações criminosas”, disse o ministro na última quarta-feira (22).

Print de uma publicação no Instagram que mostra na parte superior uma manchete em fonte branca sobreposta a uma área escura, com a frase ‘APÓS SER CONTRA A PEC DA SEGURANÇA DE LULA, GOVERNADOR DO RIO DE JANEIRO PEDE AJUDA AO GOVERNO FEDERAL’. Abaixo, uma tela da transmissão da GloboNews que exibe uma cena aérea de uma via expressa do Rio de Janeiro, com diversos carros, veículos da polícia militar e um ônibus branco com detalhes em amarelo e azul parados. Na tarja vermelha, lê-se ‘MEGAOPERAÇÃO PRENDE 81 E TEM 22 MORTOS, INCLUINDO 2 POLICIAIS’, e a linha-fina diz: ‘o objetivo é prender integrantes do Comando Vermelho na Penha e no Alemão, no Rio’. A parte inferior da imagem exibe três figuras: à esquerda, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva — homem branco, cabelos e barba grisalhos, vestindo um terno escuro com gravata, parcialmente sobreposto por uma bandeira do Brasil. Ao centro há dois homens vestindo fardas militares camufladas e capacetes verdes de combate. À direita, aparece o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro — homem branco, cabelos pretos.
Publicações nas redes rebatem críticas do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL-RJ), à suposta negativa do governo federal em fornecer apoio ao estado com o posicionamento de Castro contrário à PEC da Segurança Pública.

Por outro lado, governistas têm explorado o fato de o governador Cláudio Castro, que agora cobra apoio da União, ter se posicionado contra a PEC da Segurança Pública junto de outros governadores membros do Consud (Consórcio de Integração Sul-Sudeste).

Na época, os governadores não concordaram com uma proposta que fortalecia o papel da União na coordenação dos sistemas de segurança pública, o que, na sua avaliação, enfraqueceria as administrações estaduais.

O caminho da apuração

A reportagem realizou buscas nas redes para identificar publicações que responsabilizavam o governo federal pela operação policial no Rio de Janeiro. Em seguida, consultou declarações oficiais do governador Cláudio Castro e do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, além de notas do Ministério da Justiça, para verificar se houve de fato pedidos de apoio federal negados.

Aos Fatos também revisitou checagens anteriores sobre o uso da sigla ‘CPX’ e analisou declarações recentes de Lula e de Lewandowski a respeito da classificação de facções criminosas. Por fim, entrou em contato com o governo do estado do Rio de Janeiro por telefone e e-mail para obter posicionamento sobre as alegações.

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