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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Dezembro de 2015. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Apoio de Cunha na Câmara sofre erosão

Por Tai Nalon e Sérgio Spagnuolo

16 de dezembro de 2015, 14h54

Desde que desencadeou uma série de manobras para dificultar a apuração de seus pares a respeito de depósitos em uma conta no exterior, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem perdido o apoio incondicional que membros da oposição e da base governista dedicaram a ele durante todo o ano.

Aos Fatos apurou como votaram ao longo de 2015 integrantes e suplentes do Conselho de Ética da Câmara que aprovaram nesta terça-feira (15) relatório preliminar para a abertura do processo de cassação contra Cunha. A decisão, por margem apertada e que deve ser contestada pelo peemedebista, mostrou que o presidente da Casa ainda tem fiéis escudeiros no plenário da comissão. O levantamento revela, entretanto, que esse apoio tem se desgastado desde fevereiro, quando Cunha assumiu o comando da Câmara.

Para investigar se a base do peemedebista era mais coesa, Aos Fatosselecionou seis das mais importantes votações realizadas pela Câmara no ano, pelas quais Cunha trabalhou diretamente: a do orçamento impositivo (10.fev), a do projeto que regula a terceirização (22.mar), a da redução da maioridade penal (19.ago), a da manutenção financiamento privado de campanha (9.set) e a da aposentadoria compulsória de ministros (23.set).

No gráfico abaixo, é possível ver como sua base de sustentação não apenas se erodiu, mas como uma crescente mobilização contra sua agenda legislativa se desenvolveu ao longo do ano. (Ao clicar na arte, você poderá ver com detalhes o levantamento.)

Arte: Volt Data Lab para Aos Fatos

A última grande vitória de Cunha na Câmara foi em 9 de setembro, quando, sob seu patrocínio, deputados aprovaram o financiamento privado de campanha em plenário. A decisão, porém, viria a ser revertida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) uma semana depois.

Os problemas começaram a ganhar corpo a partir do fim daquele mês, quando o lobista João Augusto Rezende Henriques afirmou ter feito depósitos numa conta no exterior em favor de Cunha. Até então, o peemedebista negava ter contas no exterior. Uma eventual mentira poderia levá-lo a responder por processo de quebra de decoro parlamentar.

Dias depois, o banco suíço Julius Baer confirmou que o presidente da Câmara e seus familiares eram beneficiários de uma conta cujo saldo contava com US$ 2,4 milhões. Desde então, Cunha assumiu a defensiva.

À época, Aos Fatos revelou que o peemedebista usava brechas legais para negar que tinha mentido e não ficar suscetível à cassação. Em novembro, no entanto, deputados iniciavam os trabalhos de investigação contra Cunha no Conselho de Ética.

Sem controle absoluto no plenário, o presidente da Câmara retaliou o governo ao admitir a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Preferiu atuar num ambiente controlado, em que a nomeação de cargos e as decisões plenárias são mais previsíveis. Em vez de tentar pautar projetos complicados para o Palácio do Planalto, optou por não votar algumas das matérias do ajuste fiscal, para atrasar a agenda governista.

O resultado da votação no Conselho de Ética, de 11 a 9, não é alarmante para Cunha, mas também mostra que um grupo de deputados antes simpático ao presidente não está mais pacificado. A tabela abaixo revela essa tendência: quem votava majoritariamente com o peemedebista não está mais tão inclinado a isso.

Os petistas Leo de Brito (AC), Valmir Prascidelli (SP) e Zé Geraldo (PA) foram consistentemente contra Cunha durante todo o ano — exceto na votação do orçamento impositivo, em fevereiro, em atuação corporativista.

Os demais deputados da base, a exemplo do PDT e do PR, oscilaram ao longo do ano. Marcos Rogério (PDT-RO) terminou o ano votando pela abertura de processo contra Cunha, enquanto representantes do PR no Conselho de Ética apoiaram o presidente da Câmara.

Mesmo que a ação desta terça não seja sustada, o desfecho do processo no conselho é imprevisível. O prazo de conclusão dos trabalhos não poderia ultrapassar os 90 dias úteis desde a instalação da ação, mas, com as manobras protelatórias de Cunha e a crescente pressão pública para seu afastamento do cargo, nem apoio nem oposição são favas contadas.

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