Aos mil dias de governo, 2 a cada 3 declarações falsas de Bolsonaro são repetidas

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O presidente Jair Bolsonaro costuma dizer que a esquerda nunca aprende com os erros, mas dados indicam que ele também não. Após mil dias no Palácio do Planalto, 2 a cada 3 alegações enganosas do mandatário são repetidas, segundo o contador de checagens do Aos Fatos. Das 3.989 falsidades e distorções ditas desde a posse, 2.496 (62,5%) foram reprisadas. Cinco afirmações são responsáveis por 10,4% do total de falas recorrentes (repetidas 415 vezes) e abordam aspectos da pandemia e da conduta ética do governo.

A alegação mais repetida por Bolsonaro, com 121 registros, é a de que não há casos de corrupção ou desvios na sua gestão. Atuais e ex-integrantes do governo, como Ciro Nogueira (Casa Civil), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e Fabio Wajngarten (Secretaria de Comunicação), são investigados ou respondem a processos na Justiça. Além disso, a CPI da Covid-19 apura um suposto esquema para a compra superfaturada da vacina Covaxin e irregularidades na aquisição de imunizantes.

Amplamente desmentida, a segunda afirmação mais recorrente (99 repetições) é a de que o STF (Supremo Tribunal Federal) impediu o governo federal de agir contra a pandemia, tendo delegado essa função a governadores e prefeitos. O que foi decidido, no entanto, é que todas as esferas do Poder Executivo deveriam trabalhar em conjunto e que não cabia ao governo federal revogar medidas de isolamento decretadas por estados e municípios.

Bolsonaro repetiu ainda 78 vezes que sempre se preocupou com o novo coronavírus e com a economia na mesma proporção, o que é desmentido pelo fato de ter se posicionado contrariamente à vacinação e às medidas de isolamento em momentos críticos da pandemia no Brasil. Em 70 ocasiões, ele também afirmou que se curou da Covid-19 com o "tratamento precoce", conjunto de drogas ineficazes contra a doença; e em outras 52 vezes disse que somos um dos países que mais vacina no mundo, o que é impreciso, já que ocupamos a 34ª posição em números proporcionais.

A Covid-19 é, aliás, o assunto predominante no discurso desinformativo do presidente: aparece em 1.937 alegações falsas ou distorcidas, 48,6% do total checado como enganoso. Nesse segmento, declarações em defesa do "tratamento precoce" e contra evidências científicas sobre vacinação e isolamento se destacam.

Logo abaixo no ranking estão os assuntos econômicos, responsáveis por 388 declarações falsas ou distorcidas (9,7% do total). Na maior parte delas, Bolsonaro falseia informações para inflar resultados do governo. Um exemplo disso é quando diz que 2020, primeiro ano da pandemia, teve saldo de empregos formais maior do que 2019. Repetida 39 vezes, a alegação é insustentável, já que mudanças na metodologia do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) tornam esse tipo de comparação inviável.

As eleições figuram em terceiro lugar na lista de desinformação mais repetida por Bolsonaro. O tema foi turbinado pela recente cruzada do presidente contra as urnas eletrônicas e em favor do chamado voto impresso, derrotado na Câmara em agosto. Foram 249 declarações enganosas a respeito do sistema eleitoral brasileiro desde o início do mandato, o que corresponde a 6,2% de tudo o que foi checado como falso.

Bolsonaro já disse, por exemplo, que as urnas eletrônicas não são auditáveis (31 declarações), embora a Justiça Eleitoral ofereça mecanismos de auditoria antes, durante e depois do pleito, e que urnas autocompletaram votos para Fernando Haddad (PT), alegação derivada de uma montagem que circulou nas redes em 2018 (12 falas).

Como observado em balanços anteriores, Bolsonaro desinforma mais nas transmissões ao vivo nas redes sociais. Esses vídeos concentram 1.180 declarações falsas ou distorcidas, o que corresponde quase 29,6% do total de alegações checadas como enganosas.

Em seguida, aparecem as entrevistas, com 1.099 falas do presidente (27,5% do total), os discursos, com 17,9% da desinformação, e os encontros com apoiadores, onde Bolsonaro proferiu 15,6% de todas as inverdades checadas por Aos Fatos.

Referências

  1. Aos Fatos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 16)
  2. Correio Braziliense (1 e 2)
  3. G1
  4. Poder 360
  5. Folha de S.Paulo
  6. BBC Brasil
  7. Our World in Data
  8. EBC

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