Quem diz que sabe o que vai acontecer na política brasileira nos próximos 12 meses certamente está mentindo. Isso não se deve somente à indefinição sobre a eleição presidencial deste ano, mas também porque a natureza da comunicação política mudou significativamente desde os dois últimos pleitos.
Embora já existisse, o Telegram não tinha um papel tão relevante para a política institucional como tem hoje. Reúne em grupos e canais sem limite de tamanho mais de 40 milhões de usuários brasileiros que compartilham conteúdo sem uma política de moderação clara. O TikTok, por sua vez, era um aplicativo recém-lançado, distante dos mais de 74 milhões de usuários que acumula hoje no Brasil. O que eles têm em comum é que, quatro anos depois das últimas eleições gerais, tornaram-se base de articulação e importantes vetores de campanhas robustas de desinformação e ódio.
É por conta dessa mudança de paradigma que Aos Fatos olha para o futuro com um livro de história embaixo do braço. Se durante os últimos sete anos os profissionais deste site se empenharam em construir tecnologias transformadoras para o exercício da checagem e da investigação de campanhas de desinformação, o que Aos Fatos vê hoje é a necessidade de expandi-las para novas plataformas.
Há empresas que indicam caminhar em direção diferente, mas a promessa de um ambiente digital mais saudável passa pelo compromisso de incorporar a eventuais novas redes sociais políticas de combate à desinformação que sejam intrinsecamente ligadas às estratégias de crescimento e ao modelo de negócio. Uma internet funcional demanda monitoramento permanente e independente — e esses instrumentos já existem, Aos Fatos tem dois deles.
Em resumo, engenhocas de monitoramento e distribuição de informações verificadas em larga escala não serão suficientes para combater mentiras e boatos. É necessário pressionar empresas a abrirem códigos e criarem ferramentas de combate à desinformação em conjunto com especialistas. Espera-se que, nos próximos meses e anos, leis que regulam a atuação de companhias de tecnologia incentivem essa atitude.
Ao completar sete anos, Aos Fatos prepara-se para lançar uma série de ferramentas que ficarão à disposição da sociedade para cobrar de autoridades e empresas compromisso com informação autêntica. No dia 20 de julho, vai ao ar um repositório com transcrições automáticas de discursos dos presidenciáveis de 2022, aberta a jornalistas, pesquisadores, estudantes, ativistas e qualquer pessoa interessada em política que necessite desse tipo de documentação. Para checadores, esse banco de dados é ouro, já que será possível comparar e resgatar declarações de políticos durante o período em que eles ficam mais vulneráveis à opinião pública.
Na primeira quinzena de agosto, Aos Fatos lançará o Escriba, ferramenta de transcrição automática de áudios, para aperfeiçoar o monitoramento do discurso público e de peças de desinformação que trafegam em plataformas digitais cujo forte é material audiovisual.
E, se a expectativa para 2022 eram carros voadores — e não desmentir que o Lula beija homens e mulheres quando bebe e fica "mais ousado" —, só é possível afirmar que qualquer exercício de futurologia sobre o arrefecimento das campanhas de desinformação será infrutífero. Quando fizer 11 anos, na eleição de 2026, Aos Fatos será instado a distribuir checagens sobre avatares influentes no metaverso ou seguirá desmentindo a possibilidade de uma intervenção militar constitucional propagandeada em santinhos de papel? Ou melhor: haverá eleição em 2026?