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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Julho de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Aos 6 anos, Aos Fatos se compromete em dar transparência às suas limitações

Por Tai Nalon

7 de julho de 2021, 17h20

"Vocês só apontam erros", disse uma leitora meses atrás, durante algum dos muitos auges da pandemia de Covid-19. Nos últimos 12 meses destes seis anos de operações do Aos Fatos, essa queixa se tornou mais recorrente, como se ao mesmo tempo que confirmasse uma das finalidades básicas da checagem de fatos, apontasse sua função de barulhento arauto de más notícias.

Essa tentativa de extrair soluções de quem combate desinformação por meio do jornalismo é tão recorrente quanto inevitável, mas desperta certa inquietação. Desde o ano passado, Aos Fatos é instado a participar de audiências públicas, rodas de conversa e associações com o objetivo de consolidar instrumentos oficiais de mitigação dos efeitos de campanhas coordenadas mentirosas. Relevante sobretudo por consequência da pandemia, esse espaço só existe porque atores com influência infinitamente maior do que esta tímida equipe de duas dezenas de profissionais se omitiram em seus papéis de garantidores de direitos fundamentais.

Em seus seis anos, Aos Fatos não deixou de defender os princípios de uma democracia liberal vibrante, dentro da qual não há espaço para limites à liberdade de expressão. Isso significa também que plataformas digitais e atores políticos não podem criar assimetria desses direitos ao tratar igualmente discursos desiguais. Apontar o que é falso e o que não é, assim como investigar redes coordenadas de desinformação, é uma forma poderosa de contribuir para o debate público — no entanto, Aos Fatos ressente-se de suas liberdades tolhidas a cada ataque facilitado pelas plataformas digitais e a cada novo pedido de censura acolhido pela Justiça.

Algumas versões de projetos de lei em discussão na Câmara e no Senado atacam timidamente os principais disseminadores de desinformação: políticos com mandato. Propostas atabalhoadas tentam blindar seus latifúndios digitais para garantir imunidade nas eleições gerais do ano que vem. Diante de tal ofensiva, só nos restará, de fato, "só apontar erros", se tanto.

Neste Aos Fatos, acredita-se majoritariamente que a melhor solução para o combate à desinformação passa por compreender que a nossa audiência não é mais composta de leitores, mas de usuários. Mais do que uma diferença semântica, essa mentalidade passa pela percepção que quem consome o conteúdo destes profissionais quer encontrar soluções gerais para problemas particulares: como explicar para seus pais por que tomar uma vacina; de que maneira abordar assuntos delicados, como violência de gênero; se é possível desmentir teorias de fraude nas urnas sem parecer uma ofensa pessoal.

Embora não seja errado, é cômodo inferir que a solução para essas angústias está na educação. Em geral, essa é a solução para tudo que há de fundamentalmente desigual na sociedade. Há, porém, um longo caminho a ser percorrido até que uma boa educação gere indivíduos bem informados e, por isso, autônomos.

A resposta, conforme observou um colega no Aos Fatos, talvez esteja em preparar usuários do nosso jornalismo para lidar com o fato de que nem sempre haverá respostas prontas para suas dúvidas. E que, por isso, talvez não seja adequado tirar conclusões sobre tudo. Na verdade, concluir é uma palavra que não cabe à atividade de se informar, sempre em movimento. Cabe ao Aos Fatos, neste aniversário, assumir o compromisso de deixar mais claro essas limitações.


No editorial de cinco anos do Aos Fatos, lamentei os mais 65 mil mortos pela Covid-19 no Brasil. Em 7 de julho de 2021, chegamos perto de 530 mil mortes por uma doença para a qual já há vacina há mais de meio ano. Nossa equipe lamenta pelos familiares e amigos perdidos por conta do vírus, do governo e da desinformação.

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