Eu sei, já está ficando repetitivo. Esta é a terceira edição da newsletter em que falamos sobre campanha política irregular no Google. Desde o início da corrida eleitoral, já flagramos comentários com pedidos de voto promovidos por Super Chats no YouTube, anúncios de candidatos pagos por terceiros no Google Ads e candidaturas que declararam gastos com impulsionamento de conteúdo na plataforma — que, desde abril, diz proibir anúncios políticos no Brasil.
Desta vez, no entanto, encontramos violações dentro na busca da própria plataforma:
- Localizamos 52 anúncios ativos de oito candidatos a vereador e de um candidato a prefeito no Google Ads, que foram veiculados entre 7 e 11 de setembro;
- Todos eles foram pagos diretamente pelos CNPJs das candidaturas — sem uso de laranjas ou nomes fantasia —, e em perfis oficiais, que tiveram a autenticidade verificada pela plataforma;
- Mais da metade dos anúncios (27) foi paga por Reginaldo Adelino Fortes (PP), candidato a vereador em Duque de Caxias (RJ). Ele declarou ao TSE que gastou R$ 1.250 com impulsionamentos no Google.
Por conta da proibição imposta pela empresa, os anúncios não foram publicados como conteúdos políticos. Por isso, não é possível verificar dados de alcance, custo e público-alvo — informações exigidas pelo TSE desde fevereiro deste ano.
Essa nova regra da corte foi a justificativa citada pelo Google para proibir anúncios políticos. O problema agora é que a empresa também não tem cumprido as diretrizes que ela mesmo instituiu.
“Pelo lado das empresas, tem os termos de uso [para serem respeitados]. Na Justiça, decisões em primeira instância podem ser discutidas. Mas quando chega no STF ou no TSE, essas decisões têm que ser cumpridas. Isso não se discute, a internet não é um espaço onde vale qualquer coisa”, lembrou o presidente do Google Brasil, Fábio Coelho, durante durante painel do Web Summit, em abril deste ano.
Para que mais gente possa cobrar o Google a cumprir o que prometeu seu principal executivo no país, nesta newsletter vamos mostrar como encontrar anúncios irregulares usando ferramentas de investigação com dados abertos.
A primeira é a própria plataforma de transparência do Google Ads, que permite buscas pelo nome ou pelo site do anunciante, com filtro por período e localização. Buscando “eleicao 2024” (sem “ç” nem til), “vereador” ou “prefeito”, encontramos candidaturas que estavam anunciando irregularmente.
A segunda é o DivulgaCand — plataforma de transparência do TSE. Lá, é possível consultar todos os doadores e fornecedores de campanhas que já foram declarados à Justiça Eleitoral. Buscando por “GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA”, encontramos “despesas com impulsionamento de conteúdos” registradas por nove candidaturas até o momento, que somam mais de R$ 10 mil.
Questionado sobre o caso no final de agosto, o Google não respondeu ao Aos Fatos sobre os serviços prestados aos candidatos.
Além de ajudar na moderação, os dados abertos do TSE também podem ser usados para evitar que candidatos anunciem no Google Ads. O portal fornece uma lista de todos os CNPJs das candidaturas que deveriam ser impedidos de criar um perfil de anunciante na plataforma.
Com essas dicas sobre identificar anúncios de candidatos, esperamos que o Google faça o mínimo e cumpra suas próprias regras. Por precaução, no entanto, continuaremos de olho.